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* 'Presos canibais' de Alcaçuz seguem impunes no RN.

Quase uma década após a rebelião no presídio estadual de Alcaçuz, que é considerada por muitos a maior barbárie da história recente do Rio Grande do Norte, muitos crimes praticados na ocasião seguem impunes. Dentre essas ações, inclusive, estão episódios de assassinato, mutilações e canibalismo. A revelação foi feita pela presidente do Sindicato dos Policiais Penais, a policial penal Vilma Batista, em entrevista ao Rádio Patrulha.

Nesta semana, o episódio voltou a ser destaque no noticiário local porque o Ministério Público Federal (MPF), a Defensoria Pública da União (DPU) e a Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Norte (DPE/RN) entraram com uma ação civil pública contra a União e o estado do Rio Grande do Norte por omissão na apuração de 19 desaparecimentos forçados de detentos da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, durante a rebelião ocorrida em janeiro de 2017.

Não se sabe, até hoje, o paradeiro desses 19 presos que estariam na unidade prisional quando a rebelião eclodiu, marcada por brigas de facções criminosas que resultaram em massacres e levaram, pelo menos, 26 detentos à morte. Questionada sobre essa ação, Vilma Batista criticou duramente a falta de investigação sobre os crimes praticados na ocasião. Citou que presos foram identificados praticando canibalismo, fazendo churrascos "uns com os outros", mas jamais foram punidos.

BARBARIE NO RIO GRANDE DO NORTE

A Penitenciária Estadual de Alcaçuz, localizada no município de Nísia Floresta, na Região Metropolitana de Natal, é o maior complexo prisional do estado. A rebelião de 2017 envolveu presos pertencentes a grupos criminosos rivais e foi parte de uma onda de violência nacional ligada à guerra entre facções.

Em meio à violência, à superlotação e à falta de controle dentro da penitenciária, os criminosos impuseram sua própria forma de justiça, resultando em mortes, mutilações e ocultação de cadáveres. A investigação do MPF teve início a partir de relatórios do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), que identificou indícios de desaparecimento de internos, além de relatos sobre a incineração e descarte de corpos em fossas sépticas.

O inquérito conduzido pelo MPF apontou a ausência de perícia adequada, falhas na preservação da cena do crime e contradições nos dados oficiais sobre foragidos, mortos e desaparecidos. A ação tramita na Justiça Federal do Rio Grande do Norte e pode resultar em condenações à União e ao Estado por danos morais e coletivos, além da imposição de medidas estruturais para evitar que situações similares voltem a ocorrer.

MEDIDAS SOLICITADAS PELO MPF

Além da responsabilização dos gestores, a ação também requer que sejam adotadas medidas concretas para localizar os desaparecidos e garantir transparência na investigação. Entre as providências previstas na ação estão:

criação de um plano de contingência para crises no sistema prisional;

fortalecimento dos mecanismos de controle externo sobre as unidades prisionais;

implementação de tecnologias de monitoramento, como câmeras e drones;

fornecimento de informações contínuas às famílias das vítimas;

implementação de um banco de dados genéticos para identificação de possíveis vítimas;

e adoção de um sistema de registro eficiente de movimentação dos detentos.

Época de Robinson e Coronel Azevedo.

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