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* Bolsonaristas usam vídeo do Uzbequistão para ilustrar fake news de Damares sobre Marajó.

 Na última semana, após a participação da cantora gospel Aymeê Rocha no reality show evangélico, surgiu um boato alarmante nas redes sociais, relacionado a uma falsa denúncia da Damares Alves (Republicanos-DF) sobre tráfico humano. A alegação (repetida outras vezes) sugere a existência de um extenso esquema de tráfico humano, envolvendo a transferência de crianças da Ilha de Marajó, no Pará, para exploração sexual em países vizinhos como Guiana e Suriname.

Nessa recente onda de desinformação, vídeos compartilhados nas redes sociais geraram controvérsia ao serem incorretamente associados, alimentando a narrativa fictícia sobre o suposto tráfico sexual de crianças. Um desses vídeos mostra policiais retirando várias crianças de um veículo, enquanto outro exibe Damares fazendo as acusações falsas.

Entretanto, é importante esclarecer que o vídeo das crianças retiradas do carro foi gravado no Uzbequistão, onde uma motorista foi flagrada transportando alunos de uma escola infantil de maneira irregular, sem qualquer relação com tráfico humano, como erroneamente sugerido. As autoridades de trânsito do Uzbequistão divulgaram a cena.

O incidente envolvendo a professora uzbeque e as imagens, que circularam globalmente no ano anterior, foram reaproveitadas pelos bolsonaristas para respaldar o pânico moral induzido pela senadora. Influenciadores conhecidos, incluindo Rafa Kalimann, também compartilharam essas denúncias em suas plataformas.

Quanto ao vídeo de Damares Alves, gravado em 2022 durante uma campanha eleitoral, as acusações de tráfico sexual na Ilha de Marajó foram investigadas pelo Ministério Público Federal (MPF). No entanto, o MPF não encontrou evidências que sustentassem tais alegações e solicitou uma multa de R$ 5 milhões à bolsonarista pela disseminação de fake news. O deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ) também compartilhou a notícia falsa.

O Observatório do Marajó, uma ONG dedicada à observação de políticas públicas na ilha paraense, emitiu um alerta contra a “propaganda” que associa o local à exploração sexual de crianças. A instituição afirmou que essa interpretação sobre os municípios da região é equivocada, ressaltando que a população local não tolera violências contra crianças e adolescentes. A entidade destacou a importância de não disseminar mentiras nas redes sociais e de não se deixar levar pela desinformação e pânico moral.

Ambos os vídeos foram erroneamente associados, sugerindo que as crianças retiradas do carro eram vítimas de tráfico, o que endossava as declarações da senadora. Contudo, é crucial compreender que não há conexão entre esses eventos. Em meio à seriedade do tráfico de pessoas, é fundamental evitar a propagação de informações falsas, visto que isso pode prejudicar comunidades e indivíduos inocentes. A investigação minuciosa e a verificação de fontes são indispensáveis para combater a desinformação.

Sem fake news não existe bolsonarismo.

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