Herdeiro de uma bilionária rede de supermercados de São Paulo, Willian Tony Savegnago, de 40 anos, foi acusado pelo Ministério Público de sequestrar a própria esposa, de 30, e ameaçá-la para fazer sexo. A denúncia de cárcere privado e tentativa de estupro foi acolhida pela Justiça paulista no fim de agosto.
Conduzida em sigilo pela Polícia Civil, a investigação aponta que a mulher chegou a contratar uma segurança particular para acompanhá-la todas as noites, dentro do quarto, de modo a evitar agressões e estupro por parte do marido.
O casal tem dois filhos, de 2 e 5 anos, que estão sob a guarda da mãe.
Além da esposa de Savegnago, que procurou a delegacia, investigadores colheram depoimentos de cinco funcionários que trabalharam na mansão do empresário, em Ribeirão Preto, no interior paulista, e de um segurança do condomínio de luxo.
A polícia também analisou áudios, gravados de forma escondida durante brigas, nos quais o herdeiro admite bater na mulher e fazer uso de cocaína.
À exceção de uma funcionária da casa, os demais citaram comportamento agressivo, possessivo e descontrolado de Willian Savegnago.
Durante as supostas alucinações, relatam, o empresário costumava acusar a esposa de traí-lo com um vizinho adolescente e, “transtornado”, chamava seguranças do condomínio para retirar invasores que estariam no telhado de sua casa.
Depoentes apontaram agressão física e verbal à esposa, incluindo ameaça de morte. No último Natal, ele arremessou uma lata de refrigerante na mulher, segundo o depoimento de uma das empregadas domésticas da casa.
A segurança que ficava no quarto com a esposa de Savegnago afirmou à polícia que ele tentava forçar relações sexuais contra a vontade da esposa e que, por vezes, teve de tirá-la do cômodo para que o estupro não se consumasse.
“Ele dizia que pagava para ter o corpo dela. E pagava caro. E que, se ela não quisesse, faria à força, pois era mais gostoso”, relatou a depoente.
Testemunhas também relataram à polícia que o herdeiro manteve a esposa presa, por dias, ao impedi-la de sair de casa, trancando portas e janelas, em março deste ano. O cárcere privado teria ocorrido após Savegnago suspeitar de uma traição conjugal.
Questionado por funcionários sobre sua conduta, o empresário teria respondido que não seria preso, porque “tem dinheiro e faculdade”.
Sequestro
Empregadas disseram, em depoimento à polícia, que Savegnago tinha o hábito de andar pelado em casa. Uma delas afirmou que ele chegou assediá-la, perguntando se faria sexo em troca de um carro Hyundai HB 20.
Além do veículo citado, o herdeiro tem um Porsche, um Audi e uma Hilux. A polícia apura se mais pessoas, além da esposa, podem ter sido vítimas de suposta conduta criminosa do empresário.
Na denúncia formalizada pelo MP, a promotoria acusa o empresário de sequestrar a mulher, mantendo-a em cárcere privado, de ameaça, de furto e de tentativa de estupro.
O casal passa por um processo de divórcio litigioso.
No fim de agosto, advogados de Savegnago informaram à Justiça de São Paulo que o empresário foi internado em uma clínica de repouso na capital do estado, sem previsão de alta médica.
O Tribunal de Justiça de São Paulo já determinou medidas protetivas em favor da esposa do empresário. Afastou Savegnago da mansão, reconduziu a vítima ao lar, proibiu o marido de se aproximar dela, suspendeu a convivência do averiguado com os filhos e determinou pagamento de pensão alimentícia.
Cocaína causou surto
A defesa do empresário argumenta que ele desenvolveu transtorno psicótico em razão do uso de cocaína. E que, portanto, não pode responder penalmente por não estar em plena faculdade mental. Para isso, apresentou laudo médico.
A esposa contesta a versão e diz que Savegnago mantinha atividades de trabalho e respondia a e-mails com desenvoltura.
Sobre a acusação de cárcere privado, a defesa argumenta que a esposa tinha acesso ao celular e à internet e que, portanto, a denúncia não se sustenta.
Willian Tony Savegnago está internado desde abril em uma clínica para dependentes químicos, depois de uma ordem de restrição concedida pela Justiça à esposa.
Em depoimento, a esposa afirmou que, sob o efeito de álcool e drogas, o marido invadia seu quarto durante a noite e tentava abusar dela sexualmente.
A defesa do empresário nega. Diz que a presença da segurança contratada inibia qualquer comportamento agressivo.
“A presença da segurança Camila no interior do quarto do casal tornava o corpo da esposa inacessível para Willian. Desta forma, não se tem configurada nem mesmo a tentativa (de estupro)”, ponderou a defesa.
Segundo relatos, Willian Tony Savegnago teria virado usuário de cocaína após ter sido afastado das funções nos negócios da família.
O vício teria agravado os ciúmes de Willian, que teria chegado a invadir uma casa do condomínio onde moram, alegando que o filho do vizinho, um adolescente de 17 anos, mantinha um relacionamento amoroso com a esposa.
Procurados desde o começo da semana, os advogados de Willian Tony Savegnago e de sua esposa preferiram não se manifestar.
Empresário e músico
Willian Savegnago se apresenta como empresário e músico. É vocalista na banda montada por ele, O Épicco. Em 2018, o grupo lançou um DVD e, em 2020, durante a pandemia da Covid-19, apresentou uma live com clássicos do rock, blues e MPB.
No canal da banda no YouTube, Willian fala de seu amor pela música. “Canto porque não consigo manter essa explosão apenas dentro de mim, tenho que deixar ela eclodir nos confins do mundo! Canto porque tenho voz pra isso!”, diz. Até um ano atrás, a banda ainda se apresentava em bares e casas noturnas de Ribeirão Preto.
A Rede Savegnago foi fundada pelo avô de Willian, Aparecido, 50 anos atrás. Possui aproximadamente 100 lojas de varejo, postos de combustíveis, frigoríficos, e atua no ramo imobiliário. Com faturamento de R$ 4,3 bilhões em 2021 e R$ 5,5 bilhões em 2022, o grupo executa um projeto de expansão que busca dobrar esse faturamento até 2026.
O foco do grupo é sua rede de supermercados, que ocupa o 16º lugar entre as maiores do Brasil. O Savegnago Supermercado está em mais de 20 cidades do interior paulista e foi um dos principais patrocinadores da Festa do Peão de Barretos em 2023.
Em entrevista à revista digital Revide, concedida em março deste ano, Willian falou da relação com o pai, Antonio Savegnago, e de sua adolescência. Ele contou que foi chamado pelo pai para trabalhar no supermercado da família aos 13 anos, mas negou.
“Foi uma decepção para ele, pois tinha planos para a construção do meu caráter. Então, minha mãe chamou a minha atenção. Disse para eu pedir perdão. Calcei a botina e fui a pé para o mercado, que era perto de casa. Fui à sala dele e disse que estava à disposição para fazer o que ele quisesse”, contou.
“Ele [Antonio] orientou a me tratarem pior que os meninos que trabalhavam ali, porque eu não era melhor que ninguém. Fiquei meio assustado na época, mas hoje entendo. Varri chão, descarreguei caminhão, tirei lixo e tudo isso me ensinou muito.”
“E foi seguindo essa sabedoria, de pai e de empresário, que o seu Toninho me educou. Nunca me deu peixe e nem vara para pescar, só um anzol e um ‘se vira com o resto’. Aprendo com ele e vou aprender a vida inteira”, lembrou Willian.
Segundo relatos, mesmo sem trabalhar, Willian Savegnago recebe cerca de R$ 1 milhão por mês por sua participação nos lucros das empresas. Depois de ser obrigado a deixar a casa, o empresário teria parado de enviar dinheiro à família.
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