Um único áudio obtido pela Polícia Federal na investigação da venda ilegal de
presentes oficiais recebidos pelo governo Jair Bolsonaro mostra
o ex-ajudante de ordens Mauro Barbosa Cid tratando de três temas que
comprometem os investigados:
1.
citação a US$ 25 mil supostamente endereçados ao
ex-presidente Jair Bolsonaro;
2.
tratativas para a venda de estátuas de palmeira e um barco
folheados a ouro, recebidos pela comitiva
brasileira durante visita oficial ao Bahrein em 2019;
3. negociações para levar a leilão um dos kits recebidos na Arábia Saudita com relógio e joias
masculinas.
Segundo o inquérito, a mensagem foi enviada por Mauro Cid ao assessor especial
de Jair Bolsonaro Marcelo Câmara.
A PF deflagrou nesta sexta uma operação contra pessoas ligadas a
Bolsonaro suspeitas de tentar e até mesmo vender presentes recebidos por
integrantes do governo durante viagens oficiais.
De acordo com a PF, ao todo, foram cumpridos quatro mandados de busca e
apreensão em Brasília (DF), São Paulo (SP) e Niterói (RJ).
A TV Globo e a GloboNews apuraram que são alvos da operação:
- tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente
Jair Bolsonaro
- Mauro Lorena Cid, também militar e pai de Mauro Cid
- Osmar Crivelatti, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
- Frederick
Wassef, advogado que já defendeu Bolsonaro e familiares
Os mandados foram autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF), relator do inquérito que apura a atuação de uma
suposta milícia digital contra a democracia.
Segundo a PF, os crimes apurados na operação desta sexta-feira são
lavagem de dinheiro e peculato (desvio de bem público).
Veja abaixo o que disse Mauro Cid sobre cada
assunto:
Dinheiro para Jair Bolsonaro
No áudio, Mauro Cid afirma que o pai, o general Mauro Lourena Cid,
estaria com 25 mil dólares – "possivelmente pertencentes a Jair
Bolsonaro", segundo a PF.
Mauro Cid também indica, dizem os investigadores, medo de usar o sistema
bancário para entregar o dinheiro ao ex-presidente da República. E uma
preferência por fazer a entrega em dinheiro vivo, ou "em cash".
"Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que,
que era melhor fazer com esse dinheiro levar em 'cash' aí. Meu pai estava
querendo inclusive ir ai falar com o presidente (...) E aí ele poderia levar.
Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...). Eu acho que
quanto menos movimentação em conta, melhor né? (...)’.
Marcelo Câmara responde, em mensagem de texto, sobre esse assunto. Diz:
"Melhor trazer em cachê". Em seguida, manda uma outra mensagem:
"Ok ciente".
Tentativa de vender palmeira e barco
Em seguida, Mauro Cid relata a Marcelo Câmara que não conseguiu vender,
nos Estados Unidos, as esculturas douradas em formato de palmeira e de barco,
recebidas por Bolsonaro no exercício da Presidência da República em visita ao
Bahrein.
Mauro Cid diz que a operação não foi concluída porque as peças não são
de ouro maciço – e que ainda tentava negociar com outro homem, não
identificado.
"(...) aquelas duas peças que eu trouxe do Brasil: aquele navio e
aquela árvore; elas não são de ouro. Elas têm partes de ouro, mas não são todas
de ouro (...) Então eu não estou conseguindo vender. Tem um cara aqui que pediu
para dar uma olhada mais detalhada para ver o quanto pode ofertar (...) eu
preciso deixar a peça lá (...) pra ele poder dar o orçamento. Então eu vou fazer
isso, vou deixar a peça com ele hoje (...)’.
Leilão de kit de joias
Ainda no áudio, Mauro Cid compartilha com Marcelo Câmara informações
sobre um "kit", contendo um relógio, que iria a leilão no dia 7 de
fevereiro de 2023.
O ex-ajudante de ordens da Presidência da República não detalha o kit no
áudio – mas a PF identificou que este era o kit de joias masculinas
recebido por Jair Bolsonaro na Arábia Saudita, e que o Tribunal de
Contas da União (TCU) ordenou que fosse devolvido ao governo meses depois.
"(...) o relógio aquele outro kit lá vai, vai, vai pro dia sete de
fevereiro, vai pra leilão. Aí vamos ver quanto que vão dar(...)", diz
Mauro Cid. g1
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