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* Suco ‘batizado’ e queimaduras: vítima de influencer conta tortura.

O homem que diz ter sido torturado e roubado pela influenciadora digital Vitória Guarizo Demito, de 25 anos, e do modelo Gabriel Meneses, lembra que ficou 30 horas sob ameaças de morte, foi dopado com remédios e deixado no banco de trás do carro em Moema, Zona Sul de São Paulo, com queimaduras, descolamento de retina e fissura no nariz, em maio.

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Em audiência de custódia na tarde de quarta-feira (26), a Justiça converteu a prisão em flagrante em preventiva de Vitória e Gabriel. Os dois foram presos na terça (25) por suspeita do crime de tortura e roubo de mais de R$ 40 mil da vítima e objetos pessoais, como o relógio recuperado pelos policiais do 27º Distrito Policial.

A vítima, que não será identificada, conversou com o g1. É um homem que mora na Zona Sul da capital paulista e conheceu Vitória com o nome de Camila Flores, que dizia ser uma pessoa que era agredida pelo ex-marido e procurava uma companhia em site de relacionamento, segundo ele.

Os dois marcaram um encontro em 18 de maio no apartamento dela. Ao contrário do que ele imaginava, Vitória não estava sozinha e havia dois homens escondidos.

“Depois que eu cheguei lá [no apartamento] que ela foi me entreter e foi me levando pra cama. Um [agressor] puxou pela perna, outro puxou o braço e eu comecei a lutar com eles, e derrubei cortina e tudo, até que meteu a mão na minha garganta e fui ficando asfixiado e falei: ‘perdi, perdi’. Eu ia acabar morrendo”, lembra.

“Quando tomei o soco na cara ela [Vitória] falou assim: ‘olha, não quero uma gota de sangue aqui dentro de casa. Aqui dentro de casa, não’. E o cara falou: ‘pode deixar que esse aqui eu desovo lá fora. Não tem problema, a gente mata ele, põe na caminhonete’. Ficava nessa tortura psicológica o tempo todo”, detalha.

Vitória, segundo ele, preparou um suco e falou: “faz ele beber esse suco aí, gente”. A bebida estava amarga e pediram para tomar mais quatro comprimidos. Na sequência, o grupo o obrigou a passar senhas bancárias e destravar o celular.

“Me queimava com maçarico. Eu tenho marcas assim no braço. Tive queimaduras que ficaram até hoje, que não devem sair. E tornozelo, também. Ameaçando com faca, dando soco na cara, fiquei com roxo na cara.”

Além do casal, o outro homem parecia ser “contrato” pela dupla, conforme a vítima, que o ameaçou de morte.

“Ele ficava com uma faca e falando: ‘vou desovar seu corpo se não tiver dinheiro, pelo menos R$ 10 mil pra mim. Eu estou com uma caminhonete, aí eu vou esquartejar seu corpo’. E me ameaçaram também questão de estupro”, comenta.

O homem desmaiou e só acordou dentro do carro. Pediu ajuda na rua e passou por uma bateria de exames no hospital. “Não achava minha veia, porque estava muito desidratado.”

Foram feitas diversas transações bancárias, num total de R$ 41 mil – R$ 500 na conta de Vitória, R$ 19 mil em uma conta de Gabriel, R$ 21 mil em outra conta dele e o restante em transferências para mais pessoas.

Vagabunda.

Enquanto se recuperava, na fatura do cartão começaram a aparecer outros gastos. A maior quantia foi uma reserva de estadia no Rio de Janeiro e em Maresias na semana seguinte.

Objetos apreendidos com influenciadora presa — Foto: Divulgação/Polícia Civil

Objetos apreendidos com influenciadora presa — Foto: Divulgação/Polícia Civil

‘Um trauma’

A vítima atualmente faz terapia para tentar lidar com o trauma e carrega no corpo cicatrizes de queimaduras.

Com o apoio de parentes, ele decidiu tocar em frente a denúncia à Polícia Civil, que apurava o caso primeiro como desaparecimento.

“Eu faço terapia porque você tem medo de tudo, né? Você perde um pouco a sua liberdade que você tinha de estar tranquilo. Eu fiquei um bom tempo indo para o parque correr e com palpitação.”

A vítima contou ainda que Vitória entrou em contato por mensagens de texto com ele há cerca de um mês e disse que não se lembrava de nada do que tinha acontecido. Ainda o convidou para um novo encontro.

Investigação

Eduardo Luis Ferreira, titular do 27º Distrito Policial, investiga o caso. Durante o cumprimento de oito mandados de busca e apreensão e das prisões temporárias, os policiais encontraram porções de maconha, haxixe, cocaína e dezenas de psicotrópicos que a polícia suspeita terem sido usados para também dopar a vítima.

A polícia acredita que os suspeitos guardavam essas substâncias na casa “com o propósito único e exclusivo de utilizarem na prática de roubo, na modalidade Boa Noite, Cinderela”, que é quando a vítima é drogada e roubada.

A vítima reconheceu a influencer e Gabriel por fotos. Vitória tem 1,1 milhão de seguidores em uma rede social e antes dizia ter um relacionamento com Gabriel.

Durante a audiência depois da prisão, a influencer alegou que os medicamentos seriam para uso próprio. A assessoria dela encaminhou posicionamento, já a de Gabriel não foi localizada.

Vitória é transexual e sua transição de gênero foi registrada desde o terceiro ano do ensino médio em vídeos exibidos no Youtube. Atualmente, no Instagram, ela informa que compartilha conteúdos sobre saúde mental, viagens e lifestyle.

“Diante dos noticiários veiculados pela imprensa, a LV Assessoria de Imprensa da influenciadora Vitória Guarizo vem a público reforçar que os fatos narrados pela acusação não condizem com a verdade e serão em tempo oportuno devidamente esclarecidos. A defesa de Vitória, liderada através da Dra. Larah Rainov (OAB/SP 391.090), garante que está reunindo as provas necessárias para provar a inocência da nossa cliente.”

‘Camilla Flores’

Fotos e o número de celular de Vitória apareciam em um site em que é oferecido o serviço de acompanhante em nome de Camilla Flores.

Por meio de nota, o aplicativo de encontros Top Travesti, onde a vítima fez contato com a suspeita, informou que “a referida anunciante não está mais nos classificados desde 14/06/2023, data que foram removidos seus anúncios”.

“Ademais, o site somente veicula a publicidade, sendo que o contato é feito diretamente com a anunciante e cliente”, diz o comunicado. g1

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