A vida é feita se ciclos e um se fecha para mim hoje!
Uma das minhas paradas foi no HRHMM, cheguei lá como forasteira, uma felipense desconhecida, porém na bagagem só eu e Deus sabíamos da vontade que tinha de trabalhar e defender o governo e a bandeira SUS que sempre acreditei.
Entrei na maior crise de saúde pública que já existiu no mundo, foi difícil, foi doído... Tive a sorte de encontrar verdadeiros soldados à postos, foram muitas noites acordadas, pensando como seria o dia de amanhã. Quem seria o próximo a morrer? Um de nós, amigos, parentes? Como doía na alma! E eu atendendo com a equipe os comandos da SESAP, que dizia “temos só 05 leitos aí e estamos precisamos aumentar para 10”, já que não tínhamos onde colocar pacientes. Isso se repetiu nos dias seguintes, “temos que abrir mais 10 leitos, a crise está se alastrando”. Como bons soldados sempre à postos abríamos mais leitos, e assim, nós reinventávamos, nós dividindo muitas vezes em dois...três...o que fosse necessário para o momento.
Aqui nesse pequeno espaço não consigo descrever como doía a alma, se ainda existia alguma naquele momento de tanto sofrimento! Ao recordar de uma manhã fria e quente quando de costume adentrei a nossa UTI, me deparei com um filme de terror jamais assistido, dois sacos pretos com corpos dentro e um outro corpo no caixão. Que dor doída! Sai e encontrei nosso funcionário da limpeza escorado na parede a chorar, nesse momento me escorei também e pedi clemência ao todo poderoso.
Parece que tudo foi ontem, um dia chegando em casa as 17h recebi uma ligação do hospital, que pacientes estavam morrendo em cidades menores por falta de oxigênio e tínhamos que transformar nossa clínica médica em leitos de retaguarda para atendê-los e assim voltamos a unidade para abrir naquela noite 42 leitos de retaguarda para acolher todo o Rio Grande do Norte.
Tudo foi passando, como a vida que segue, e finalmente acalmou o covid.
Apodi sonhava em ficar com a UTI usada para o covid no HRHMM, não fomos contemplados, mas os equipamentos que ficaram salvaram muitas vidas mesmos depois da pandemia.
Vida que segue.
Recebemos da SESAP outro comando que deveríamos virar referência em cirurgias, já que devido ao momento pandêmico houve o acúmulo de filas de pacientes para cirurgias eletivas, e assim o fizemos, pois o que não falta nessa equipe é valentia! De 200 cirurgias ao ano passamos para mais de 1200/ano.
Recebemos o comando que devíamos ser referência em acolhimento para cirurgias vasculares e assim o fizemos, daí já tínhamos estruturado o NIR (núcleo interno de regulação), ensaiamos o segurança do paciente e o NEP ( núcleo de educação permanente).
E hoje a felicidade juntamente com a nostalgia e a saudade toma conta da gente, como fomos juntos fortes, guerreiros! Levo tatuado no meu peito cada carinho e demonstração de amor que tiveram para comigo, quantos momentos difíceis passei aí dentro e encontrei verdadeiros amigos de fé e irmão camarada (plageando Roberto Carlos). E hoje o HRHMM não é mais só um pronto socorro e uma maternidade, já tem outra cara!
Obrigada a todos de coração e os que não deixei luz nesse momento peço perdão, pois sou humana.
Girlene Ferreira
Grande trabalho realizado.
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