Fundado há quase
10 anos fruto de uma dissidência do Primeiro Comando da Capital (PCC), o
Sindicato do Crime do RN (SDC-RN) demonstrou, nesta semana, a capacidade de
aterrorizar a sociedade potiguar, numa semana em que o Rio Grande do Norte foi
palco de cenas de violência, incêndios, fechamento de comércio e serviços
básicos.
A facção não mediu
esforços para desafiar o Estado e se utilizou de sua capilaridade em várias
regiões do RN para espalhar os “salves” que surgiram de dentro dos presídios e
de outros estados. Segundo informações da Divisão Especializada em Combate ao
Crime Organizado (Deicor-RN), da Polícia Civil, o SDC-RN possui um exército de
filiados que pode ultrapassar os 4 mil integrantes. Esses membros são
declaradamente batizados na facção. Aliado a isso, há a estimativa de que haja
um contingente de simpatizantes de mais 10 mil membros.
A
capilaridade do SDC-RN pôde ser vista nos ataques que assustaram o RN em toda a
semana: pelo menos 38 municípios em todas as regiões do Estado foram alvos dos
criminosos, que deixaram prejuízos para comerciantes e trabalhadores. Segundo
apurações do Ministério Público do RN, os ataques teriam oferta de R$ 100 a R$
300 para os criminosos, mas sem confirmação de pagamento.
“Eles atuam
como uma empresa que se instala na cidade e os criminosos vão aderindo aos
poucos, ganhando por comissão e trabalhando para substituir o Estado.
Quando provocados, atuam como grupos terroristas, utilizando o terror como
linguagem”, avalia o professor Francisco Augusto Cruz, especialista em segurança
pública. Para o pesquisador, que acompanha o fenômeno das facções desde 2017,
há presença do SDC-RN em praticamente todos os municípios potiguares.
“Eles lutam
por interesses ilegais, seja de drogas, negócio de armas, roubos. Eventualmente
podem ter alguma “ética” nas comunidades onde ocupam, mas conforme a
conveniência deles. Na primeira oportunidade, eles vão quebrar até esta “ética”
que é minúscula. O Sindicato é uma organização criminosa”, apontam fontes do
MPRN acerca dos ataques a patrimônio de trabalhadores, queima de ônibus.
Para o
delegado Luciano Augusto, diretor-adjunto da Deicor-RN, é difícil estimar um
percentual de cidades nas quais o SDC possui células e atuações contundentes,
mas as investigações apontam que em Natal e Grande Natal, o domínio de
atividades criminosas e territorial ultrapassa os 90%.
“O tamanho
da facção tem uma média de 14, 15 mil filiados, simpatizantes. Nem todo mundo é
batizado dentro daquele juramento. Declaradamente faccionados são cerca de
quatro mil, temos esse dado, pois já passaram pelo sistema penal e optaram por
ficar no Sindicato, não querendo ficar no neutro nem no PCC. Nos interiores
pequenos quem comanda é o PCC, mas aqui na Grande Natal e Natal é 98% do
Sindicato, porque Macaíba tem uma célula do PCC. Em Mossoró divide-se um pouco
com Caveiras, GDE e PCC, em outras cidades. Em interiores pequenos, para o
tráfico não é interessante comandar atividades de cidades com poucos
habitantes. Onde há a venda da droga, essas pessoas são obrigadas a contribuir
para o caixa da facção”, analisa.
Questionada
sobre o crescimento da facção criminosa, a delegada-geral de Polícia Civil, Ana
Cláudia Saraiva não confirmou e nem negou a quantidade de membros. “Lamentamos
esse crescimento do crime se organizando e a presença dele. As forças estão
trabalhando e continuarão atuando. Estamos identificando as lideranças como a
operação dessa sexta, com 18 prisões. Fizemos outras operações também no
interior do Estado, com mais prisões. Temos esse mapeamento, nossos trabalhos
de inteligência estão monitorando e atuamos integrados para combater essa
criminalidade organizada e os levando à justiça na forma da lei. Não questiono
o dado, mas a Polícia Civil tem investigações tanto agora como de outras, mas
quanto a esse número, não confirmo”, disse. TN
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