Quem gosta de forró, certamente já ouviu os versos “Valeu o boi, valeu vaqueiro / No calor da vaquejada / Viva o povo brasileiro”. A letra de “O Rei das Vaquejadas” é do cantor e compositor Antônio Olinto Filho, nome artístico de Olinto Potiguar, que pede na Justiça o reconhecimento da canção de sua autoria, vítima de plágios e gravações sem autorização. Composta em 1995 e lançada no ano seguinte, ela ficou conhecida nas vozes de grandes cantores de forró nacionais, como Wesley Safadão, Gleydson Gavião, Alcymar Monteiro, Mano Walter, Aviões do Forró e Xand Avião.
Olinto Potiguar é natural de Apodi e já nasceu sob fogos e luzes, em pleno ano novo de 1º de janeiro de 1957. O início da carreira artística veio ainda na adolescência, aos 16 anos. Engenheiro mecânico por formação, conciliou os dois trabalhos ao longo da vida, mas não conseguiu a projeção que desejava e encerrou a carreira como músico em 2002. Hoje, aos 65 anos, está com a saúde debilitada, mas acompanha os desdobramentos em busca do reconhecimento do seu trabalho.
Durante os 29 anos em que trabalhou como cantor, Olinto lançou seis álbuns próprios e mais quatro coletâneas. “Ele correlaciona que Deus deu Asa Branca para Luiz Gonzaga, como deu O Rei das Vaquejadas para ele”, diz o filho Alysson Veríssimo, atualmente o principal responsável por manter a memória da carreira artística do pai viva.
Foi por meio de Veríssimo que Olinto Potiguar iniciou a saga no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN), para que a apropriação indevida da música por outros cantores fosse reconhecida. Durante o período em que viveu do canto, Potiguar não alcançou o estrelato que queria, mas viu a canção estourar sob outras vozes. Em quatro processos diferentes, quer hoje que sua composição seja reconhecida como sendo sua.
“O Rei das Vaquejadas” está registrado no Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD) desde 1996. É este o responsável por fazer a arrecadação e distribuição dos direitos autorais das músicas aos autores. Uma das consequências da reprodução indevida da canção é que ela foi ganhando outros nomes ao longo do tempo, como “Sou vaqueiro nordestino” e “Valeu boi valeu vaqueiro”, mas que contém a mesma letra e melodia da original.
Entre as versões mais conhecidas, está um pot-pourri de Gleydson Gavião no EP Voando Feito um Gavião – Parte 2. Junto a outras cinco músicas, esta versão no YouTube já tem mais de 8,3 milhões de visualizações. No Spotify, é a quarta mais popular do artista com 585.194 reproduções. Dentre outras versões reclamadas pela família, estão gravações de Cavaleiros do Forró, Toca do Vale, Aduílio Mendes, Neto Guedes, Henry Freitas, Didi Marques e Arreio de Ouro.
Outra gravação sem autorização veio da banda Brasas do Forró, que registrou a música no ECAD como sendo do grupo. Olinto solicitou à Justiça que o ECAD cancele os registros cadastrados pela banda e que tenha seu nome inserido como verdadeiro autor. Pede ainda que o repasse dos royalties auferidos pela música sejam depositados em conta judicial, até o julgamento de mérito, e que o ECAD detalhe quantas vezes a canção foi reproduzida e quanto dinheiro gerou.
A Brasas do Forró contestou a ação atestando ilegitimidade, mas a juíza Daniella Paraíso Guedes Pereira rejeitou e o processo teve efeito. “A música O Rei das Vaquejadas foi registrada como sendo de autoria de Antônio Olinto Filho, havendo, por outro lado, indícios de que esteja sendo reproduzida pelas demandadas sem a correta identificação, já tendo o autor, inclusive, notificado o ECAD por tal fato. A utilização desautorizada da obra, em razão do proveito obtido de maneira direta ou indireta, resulta em prejuízo ao autor da obra, sendo este o risco ao resultado útil do processo”, reconheceu a juíza.
Como pena, a magistrada do TJ determinou que a banda se abstenha de executar a obra “O Vaqueiro Nordestino” (como nomearam) sem a correta identificação do autor. Em caso de descumprimento, estipulou uma multa de R$ 10 mil em decisão de fevereiro deste ano.
Hino das vaquejadas
Para Alysson Veríssimo, que luta em favor do seu pai na Justiça, a música se tornou um verdadeiro hino. “É uma música que é aclamada pela vaqueirama como hino das vaquejadas. Todas as bandas de forró que você conhecer tocam. Essa música é consolidada, o problema dela que ficou conhecida por vários títulos diferentes e como sendo de outras pessoas”, lamenta.
Segundo ele, a falta de reconhecimento trouxe um prejuízo à família e ao próprio Olinto. “Isso vem causando um sofrimento muito grande para ele. É uma coisa que dói para todos nós. Muitas pessoas, até que me conhecem do trabalho ou amizade, quando eu digo que a música é do meu pai, riem de mim, me chamam até de doido. É doloroso as pessoas não acreditarem na verdade”, reconhece.
Por conta dos problemas de saúde, Olinto Potiguar se sente “constrangido de terem roubado” a canção, de acordo com Veríssimo. “Todo mundo chegava para ele, falava, e gerava um sofrimento para ele, com o pessoal tocando”, afirma. “Depois fui trabalhando com ele e mostrando a grandiosidade da música dele, que ele se sente muito constrangido de terem roubado, de não ter feito sucesso com a música”, explica.
Para o filho, o maior objetivo para que seu pai seja reconhecido como verdadeiro autor de “O Rei das Vaquejadas” não está no dinheiro, mas no próprio reconhecimento do trabalho. “Não passamos fome e nem vamos enricar com esse dinheiro. O dinheiro é uma mera consequência dos fatos. É a Justiça fazendo direito do que ele realmente tem, mas o meu principal objetivo é que ele seja reconhecido em vida pelo que ele fez”, defende. Saiba Mais/RN
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