O Brasil celebra nesta quinta-feira (24) os 90 anos do voto feminino no
país, com a chegada do primeiro Código Eleitoral Brasileiro em fevereiro de
1932. Mas quase cinco anos antes, o Rio Grande do Norte já tinha entrado na
história nacional ao registrar sua primeira eleitora: a professora Celina
Guimarães Vianna, então com 29 anos.
O estado publicou a Lei nº 660, em 25 de outubro de
1927, estabelecendo que não haveria distinção de sexo para o exercício do voto.
Em 25 de novembro daquele mesmo ano, na cidade de Mossoró, no Oeste potiguar, o
nome de Celina Guimarães foi incluído na lista dos eleitores do estado. O fato
repercutiu mundialmente.
Em abril de 1928, quatro anos antes do código eleitoral, Celina votou
pela primeira vez junto com outras 14 mulheres potiguares, que já estavam
alistadas. Na mesma ocasião, o estado também registrou a eleição da primeira
prefeita do país: Alzira Soriano, eleita para comandar a cidade de Lajes (RN)
com 60% dos votos. Ela tomou posse no cargo em 1º de janeiro de 1929.
De
acordo com a promotora de Justiça do Rio Grande do Norte Érica Canuto, que
estuda a atuação feminina na política, o pioneirismo potiguar foi resultado da
luta e incentivo da advogada feminista Bertha Lutz.
"Existia um
movimento sufragista forte na Europa. Bertha Lutz foi estudar fora e trouxe
esses ideais para o Brasil. Ela veio ao RN em 1927 e conseguiu convencer o
governador do estado, Juvenal Lamartine, a mudar a lei estadual. E rodou o
interior do estado todo. Em Lajes, ela conheceu Alzira Soriano e viu nela uma
gestora nata. Alzira era viúva e administrava uma fazenda. Bertha foi quem
convenceu ela a se candidatar", conta.
Alzira foi a primeira prefeita da América Latina.
Os votos das primeiras eleitoras potiguares em 1928 acabaram anulados pela Justiça, mas o marco ficou na história. Já Alzira perdeu o mandato por causa da revolução de 1930, foi convidada a permanecer na liderança do município como interventora, mas recusou. Ela foi eleita vereadora pelo município em outras duas ocasiões.
Desde a instituição do Código Eleitoral, as mulheres passaram a participar mais ativamente da política nacional, mas Erica Canuto considera que ainda há grandes desafios a serem vencidos, quando o assunto são os direitos políticos desse público.
Atualmente as mulheres representam a maior parte do eleitorado do país e
no estado. Nas últimas eleições de 2020, as eleitoras representavam 52,8% dos
votos no Rio Grande do Norte. Apesar disso, a participação nos cargos eletivos
é mínima.
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