A empresa de Jair Renan Bolsonaro, a
Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, foi aberta com a ajuda do lobista Marconny
Albernaz de Faria, apontado pela CPI da Covid como um dos intermediários da Precisa Medicamentos, apontam trocas de
mensagens.
As informações constam de conversas
no WhatsApp obtidas pela Folha entre o advogado e o filho mais
novo do presidente Jair Bolsonaro, após quebra judicial de sigilo do lobista a
pedido do Ministério Público Federal do Pará, e de análise de documentos da
Receita Federal.
Os diálogos foram enviados à CPI pela
Procuradoria, depois que os investigadores daquele estado, que apuravam a
influência do lobista em uma indicação para órgão público, viram que Marconny
havia sido citado nas negociações da Precisa Medicamentos.
A Precisa está no centro das
apurações da CPI por suspeitas de irregularidades nas negociações da vacina
indiana Covaxin. O Ministério da Saúde decidiu encerrar o contrato de R$ 1,6 bilhão com a
empresa para a compra de 20 milhões de doses do imunizante.
De acordo com os diálogos, o lobista e Jair Renan começaram a tratar do tema no dia 17 de setembro de 2020, quando Marconny lhe escreveu: “Bora resolver as questões dos seus contratos!! Se preocupe com isso. Como te falei, eu e o William estamos a sua disposição para ajudar te ajudar”, disse.
Jair Renan, segundo as transcrições,
respondeu: “Show irmão. Eu vou organizar com Allan a gente se encontrar e
organizar tudo”. Em seguida, o filho do presidente diz que precisa abrir um
processo para registrar a marca no INPI marcas e patentes e abrir o MEI como
microempreendedor.
Marconny afirmou: “Temos que marcar
uma reunião para me dizer o que está precisando. bora marcar na segunda”, diz,
ao que o filho do presidente responde com “Talkei” (referência a "tá
ok", expressão usada com frequência por seu pai para uma confirmação).
No mesmo dia, o lobista mandou uma
mensagem para o advogado William de Araújo Falcomer dos Santos, que o
representa na CPI da Covid: "Posso marcar uma reunião com o Renan
Bolsonaro na segunda às 16h?”, ao que o advogado diz que “pode, marcado”.
No dia 22 de setembro, Marconny pede
que William lhe envie a localização de seu escritório para passar a Jair Renan
—e recebe um “ja mando” como resposta.
Em 11 de outubro, o lobista mandou
uma reportagem sobre a inauguração da empresa de Jair Renan para William, que
respondeu: “Fui lá ontem. Tava legal”. Três dias depois, William disse:
"Renan veio aqui hj. Fiz o certificado. Conversamos algumas coisas”, e
Marconny respondeu: “coisa boa”. Em seguida, o advogado diz: “Amanhã ele assina
a abertura da 1 empresa dele”.
O telefone registrado no cadastro da
Receita Federal como sendo da Bolsonaro Jr Eventos é o mesmo contato do
escritório de William de Araújo Falcomer dos Santos. Nesta terça-feira (31),
a Folha ligou para o local e a secretária confirmou que se
tratava do escritório de William, mas que o advogado estava em viagem.
Ele não respondeu os contatos feitos
pela Folha por telefone, celular, emails e mensagens no
WhatsApp, assim como Marconny e a Precisa Medicamentos também não se
pronunciaram.
Jair Renan não respondeu o email
enviado pela Folha no endereço divulgado pelo filho do
presidente, em sua conta oficial do Instagram, como sendo de sua assessoria.
Frederick Wassef, advogado de Jair Renan Bolsonaro, disse que o filho do presidente não tem nenhuma relação com o advogado William.
Segundo Wassef, William e Jair Renan
se conheceram em um evento, em 2019, por intermédio de uma amiga em comum. Os
dois teriam se visto poucas vezes em situações como jogos de futebol e eventos
públicos.
O advogado de Jair Renan frisou que
não existe relação de negócio ou amizade, mas contou que o fillho do presidente
foi apresentado ao lobista Marconny por
William.
“Renan é uma pessoa pública e volta e
meia está em eventos, em festas e tem muitos conhecidos, é comum que ele
conheça várias pessoas. Conheceu esse advogado no começo de 2019 e não tem e
nunca teve qualquer tipo de relação com ele."
"Não o contratou, nunca tem relação
comercial, jamais fizeram qualquer negócio juntos, nada. Uma entre as centenas
de pessoas que ele conhece, que viu poucas vezes de forma esporádica em eventos
públicos e sociais.”
A defesa não confirmou as trocas de
mensagem por WhatsApp. Wassef afirmou, ainda, que William ajudou Jair Renan em
orientações verbais sobre como ele faria para abrir uma empresa. No entanto,
foi um contador que abriu o negócio para o filho do presidente.
Ele disse que Jair Renan colocou o
número de William no cadastro da Receita por ser uma figura pública. “O Renan à
época dos fatos não tinham nenhum telefone fixo e pediu para o advogado e usou
o telefone dele. Tanto que não tinha nada de mais.”
A empresa de Jair Renan foi constituída oficialmente no site da Receita Federal como de serviços de organização de feiras, congressos, exposições e festas, no dia 16 de novembro.
Ele inaugurou o empreendimento junto com o seu ex-personal trainer, Allan Lucena,
no camarote 311 do estádio Mané Garrincha, em Brasília.
O empreendimento é investigado pela Polícia Federal por suposto tráfico de
influência. O inquérito foi instaurado a partir de um
pedido feito pela PRDF (Procuradoria da República no Distrito Federal), no dia
8 de março.
Em dezembro, a Folha revelou que a
cobertura com fotos e vídeos da festa de inauguração da empresa do filho 04 do
presidente foi realizada gratuitamente por uma produtora de
conteúdo digital e comunicação corporativa que presta serviços ao governo
federal. A empresa havia recebido R$ 1,4 milhão do governo Bolsonaro naquele
ano.
A Folha também revelou que o presidente
Jair Bolsonaro recebeu no Palácio do Planalto o empresário
Wellington Leite, que doou um carro elétrico avaliado em R$ 90 mil para um
projeto parceiro da empresa de Jair Renan.
O relator da CPI da Covid, Renan
Calheiros (MDB-AL), chegou a afirmar que Marconny de Faria era lobista da
Precisa após exibir um áudio durante uma sessão da comissão. “Esse que está
falando é o depoente com o Marconny Farias, outro lobista da Precisa e de
outros negócios do Ministério da Saúde".
Em diálogos, o lobista conversava com o empresário e ex-secretário da Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) José Ricardo Santana, em junho de 2020, sobre
a venda de 12 milhões de testes rápidos pela Precisa ao Ministério da Saúde.
A CGU (Controladoria-Geral da União)
apontou evidências de tentativa de interferência no processo de chamamento
público para a contratação com a ajuda de Roberto Dias, ex-diretor de Logística
do ministério, para beneficiar a Precisa.
Marconny também encaminhou mensagens
de Danilo Trento, diretor da Precisa Medicamentos, para Ricardo, em junho do
ano passado. Ele explicava como funcionará o processo de aquisição dos testes.
A CPI aprovou em 16 de agosto
requerimento para que Marconny seja ouvido pelo grupo.
“As mensagens reforçam as suspeitas sobre a atuação de Roberto Dias no Ministério da Saúde e deixam claro existir de fato um mercado interno no Ministério que busca facilitar compras públicas e beneficiar empresas, assim como o poder de influência da empresa Precisa Medicamentos antes da negociação da vacina Covaxin. Diante do exposto, é imprescindível a convocação do senhor Marconny para os trabalhos desta Comissão Parlamentar de Inquérito, razão pela qual peço a aprovação do presente requerimento", justificou o vice-presidente do grupo, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do pedido.
Registe-se aqui com seu e-mail
ConversãoConversão EmoticonEmoticon