Por José Casado na Veja
Quando perguntam como é ser ex-presidente, Michel Temer responde rindo: “É muito bom. Já não podem dizer ‘Fora Temer’, porque estou fora.”
Em 13 dias ele vai celebrar 81 anos de idade, e mais de meio século de uma biografia política construída na arte do convencimento pela suavidade da conversa.
Temer, com sutileza, acaba de realizar uma proeza.
Ao auxiliar Jair Bolsonaro a tatear uma saída no confronto aberto com o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral, demarcou no piso do Palácio do Planalto o limite da influência dos principais líderes do Centrão, o deputado Arthur Lira, presidente da Câmara, e o senador (licenciado) Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil.
O episódio da carta de rendição de Bolsonaro é notável em vários aspectos.
Entre eles, o realce da ineficiência de Lira e Nogueira, chefes do Partido Progressistas, locomotiva do Centrão, em convencer Bolsonaro a mudar de rumo para salvar o governo e o mandato — sob risco iminente de perda ou de inelegibilidade.
Temer partilha com o ex-presidente José Sarney a liderança do MDB, um partido de base regional, que funciona como uma confederação de grupos de influência estadual e cujo hábito é o da união nas crises.
Mesmo com toda experiência acumulada, nem Temer nem Sarney são capazes de prever o desfecho de uma crise protagonizada por Bolsonaro, que tem na imprevisibilidade sua característica mais perceptível.
Mas, ontem, Temer demonstrou como na política as aparências enganam: com todo o poder acumulado, o Centrão ficou impotente diante da crise inflada por Bolsonaro que ameaçava a sobrevivência dele no mandato presidencial e do governo do qual se tornaram sócios.
TL CONTA MAIS
Ontem, depois da carta divulgada e ânimos aparentemente contidos, circulou a notícia que o Ministro Alexandre Moraes iria encontrar o presidente Jair Bolsonaro na presença dos ministros Fábio Faria e Ciro Nogueira.
Moraes desmentiu a informação de pronto. Sem encontros, por enquanto.
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