Desde o dia 11 de setembro, a atividade sísmica está intensa na região do vulcão ativo Cumbre Vieja, localizado na ilha de La Palma, no arquipélago das Canárias, na Espanha. Até o momento, o Instituto Geográfico Nacional (IGN) da Espanha registrou 4.530 terremotos na região.
Com o aumento da atividade sísmica, o Plano Especial de Proteção Civil e Atenção às Emergências de Risco Vulcânico das Ilhas Canárias (Pevolca) elevou o nível de alerta de verde para amarelo, que indica “Atenção às comunicações oficiais” diante de um risco de atividade vulcânica em Cumbre Vieja, em La Palma.
Na quinta-feira (16), o Comitê Científico do Pevolca informou que a atividade sísmica na região permanece:
“O processo continua e pode ter uma evolução rápida no curto prazo, porque podem ser registrados terremotos de maior intensidade. O sinal amarelo reforça informações à população, medidas de vigilância e monitoramento de atividade vulcânica e sísmica.”
Além disso, o comitê destacou que a deformação acumulada aumentou para 10 cm. Conforme explicou a pesquisadora do Observatório Nacional Suze Guimarães, a deformação é uma maneira de se medir os efeitos causados pelos tremores, diferente da escala que mede as amplitudes das vibrações.
“Como a atividade sísmica está aumentando e como há vários terremotos próximos uns aos outros, isso é um sinal que demonstra que as atividades estão voltando”, explicou Suze. “Além disso, pela característica do vulcão, ele poderia causar uma deformação longitudinal muito grande, ou seja, arrasto de massa que, por sua vez, poderia gerar a formação de tsunamis e essas ondas poderiam chegar à costa sul-americana.”
No entanto, a pesquisadora explicou que, para isso acontecer, os abalos sísmicos precisariam ser em uma quantidade ainda maior do que a atual para promover um acúmulo de massa suficiente para gerar um tsunami, o que poderia levar mais de um década.
Escala de níveis de alerta por cor:
O Brasil corre riscos?
Depois que o nível de alerta foi alterado para amarelo, houve a preocupação de que uma eventual erupção poderia ser catastrófica o bastante para provocar um tsunami que poderia atingir a costa do Brasil. Contudo, especialistas da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), da qual o Observatório Nacional faz parte, afirmam que as chances de isso acontecer são baixas:
“Esse assunto foi discutido na mídia uns 20 ou 30 anos atrás quando foi publicado um trabalho de geólogos americanos sobre a possibilidade de desabamento de uma parte da ilha provocar um tsunami no Brasil. Na época, a conclusão foi de que a probabilidade de que o deslizamento fosse suficientemente grande para provocar um tsunami perigoso era muito pequena”, explicou Marcelo Assumpção, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG/USP).
Segundo Assumpção, para que um tsunami chegasse ao Brasil, a atividade vulcânica teria de ser excepcional para derrubar uma parte da Ilha provocando um deslizamento gigantesco em direção ao mar: “Teoricamente, o tsunami poderia ser bem grande.”
Assumpção observou ainda que a atividade vulcânica nessa Ilha é normal:
“Os vulcões estão ativos nas Ilhas Canárias, e as erupções frequentemente são precedidas de um aumento de atividade sísmica.”
O professor Aderson Nascimento, coordenador do Laboratório Sismológico da UFRN, reforçou que a possibilidade do fenômeno ocorrer é muito baixa:
“A atividade vulcânica na região das Canárias é comum e é monitorada. Na região do Atlântico, não existe nenhum sistema alerta de tsunami porque o risco é baixíssimo para isso ocorrer”, disse o sismólogo. “A probabilidade é muito pequena, até porque, para emitir um alerta de tsunami, é preciso saber qual foi terremoto, que tipo de fenômeno provocou o tsunami, para poder calcular com esse tsunami vai se propagar e, tão importante quanto isso, é saber como essas ondas, de um eventual tsunami, vão chegar às costas dos países. No caso do Brasil, esse risco é muito pequeno.”
Aderson destacou ainda a importância da RSBR nesse contexto:
“Nesse sentido, a Rede Sismográfica Brasileira é importantíssima porque um terremoto desse tipo, que eventualmente possa ter potencial de gerar um tsunami, pode ser registrado pelas nossas estações.”
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