Um vídeo feito no dia 23 de março mostra pessoas recebendo injeções em uma garagem de ônibus em Belo Horizonte. A cena chamou atenção das autoridades, que
descobriram um esquema de empresários e políticos mineiros que tentavam furar a
fila da imunização contra o coronavírus.
Após investigação, a Polícia Federal chegou até a mulher que aparece aplicando as supostas
vacinas: Cláudia Monica Pinheiro Torres de Freitas, de 54 anos,
que tem um histórico de golpes.
Uma mulher que não
quis ser identificada e trabalhava com Claudia como cuidadora de idosos,
conversou com o Fantástico e contou que não é de hoje que a falsa
enfermeira aplicava golpes: "Comecei a trabalhar com ela, dava plantões. A
gente começou a cobrar o dinheiro, ela dava desculpas, inventou histórias de
que foi roubada, que não tinha como dar o dinheiro. As pessoas falavam que ela
era meio perigosa, que ela tinha envolvimento com pessoas que era perigosas, e
a gente ficou com medo mesmo de ir atrás do dinheiro que tinha que receber
justamente por isso. Do que que era ela seria capaz de fazer".
Essa não foi a única
vez que Cláudia teria desaparecido com o dinheiro dos outros. O Fantástico
apurou que há diversos processos contra ela na Justiça. Em um dos casos levados
à polícia, uma das vítimas diz ter perdido R$ 20 mil.
No escritório de um dos donos da garagem onde ocorreram as aplicações, a PF encontrou uma lista com 57 nomes e horários que seriam da vacinação.
A maioria dessas pessoas mora em bairros luxuosos e condomínios fechados da
região metropolitana de BH. Na relação, aparecem nomes de advogados, um aluno
de doutorado, um dentista e quatro parentes do ex-senador Clésio Andrade, que
nega ter recebido o imunizante. Diretores do sindicatos das empresas de ônibus
da região e empresários do ramo do transporte também estão na lista.
Em um trecho do
depoimento que deu à polícia, o empresário Rômulo Lessa, dono de uma empresa de ônibus e, segundo as investigações,
um dos articuladores do esquema de vacinação, afirma que
Cláudia cobrava R$ 600 pelas supostas vacinas e que ela parou de responder às
mensagens depois da primeira aplicação.
Substâncias
encontradas na casa de Cláudia foram levadas para perícia e a análise de
laboratório concluiu que o material encontrado não era vacina. Era simplesmente
soro fisiológico. Ou seja, para a polícia, tudo leva a crer que, além de falsa
enfermeira, ela também aplicava uma falsa vacina, uma substância que não tem
nenhum efeito contra o coronavírus.
A Justiça converteu a prisão de Cláudia de flagrante para preventiva
enquanto seguem as investigações. Neste sábado (3), ela teve o pedido de habeas corpus aceito e foi
solta provisoriamente. Em nota, a defesa de Cláudia disse que "já tomou as medidas
judiciais na busca do seu direito constitucional de responder às investigações
em liberdade".
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