O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou que
o Brasil pode virar uma Argentina ou uma Venezuela rapidamente caso continue
aumentando seu endividamento e tome decisões erradas de política
econômica.
"Para virar a Argentina,
seis meses; para virar Venezuela, um ano e meio. Se fizer errado, vai rápido.
Agora, quer virar Alemanha, Estados Unidos? [São necessários] dez, quinze anos
na outra direção", afirmou.
A declaração foi feita
durante conversa gravada na sexta-feira (26) e veiculada nesta terça-feira (2)
pelo podcast Primocast. Guedes defendeu o
controle do endividamento público, contrapartidas para o auxílio emergencial e
a execução da agenda liberal –dizendo que ela abrirá um caminho
de prosperidade para o país.
"Você prefere juro baixo, muito investimento, emprego,
renda, Bolsa subindo, todo mundo ganhando, estourando champanhe, um país da
prosperidade, ou prefere ir para a Venezuela?", questionou o ministro em
outro momento.
Guedes deu as declarações
dias depois de as ações da Petrobras registrarem forte queda na Bolsa após o
presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciar a troca do presidente da
estatal em meio a críticas à política
de preços dos combustíveis.
Guedes defendeu
privatizações como a da Eletrobras para, inclusive, gerar
recursos para os mais carentes. Sem citar nomes, criticou o uso de estatais
para benefício da classe política e financiamento de campanhas eleitorais.
Em certo momento, ao mencionar a Petrobras, o ministro chegou a
criticar uma frase usada recentemente pelo próprio Bolsonaro. "Tem uma
turma que começa: 'o petróleo é nosso'. É nosso? Então dá para a gente. Vamos
dar para o povo brasileiro. Vamos pegar os dividendos da Petrobras e entregar
uma parte para o povo brasileiro", afirmou Guedes.
"Ou paga dividendos ou
vende e dá dinheiro para eles. O que não pode é ficar gerando prejuízo para
eles", disse o ministro, citando a ideia de criar um fundo para receber
tais recursos.
Na semana passada, Bolsonaro citou
a frase após anunciar a troca no comando da estatal. "O
petróleo é nosso ou é de um pequeno grupo no Brasil?", indagou o chefe do
Executivo no dia 22.
Guedes defendeu que o auxílio
emergencial seja aprovado no Congresso com as contrapartidas de ajuste fiscal
em médio e longo prazo previstas na PEC (proposta de emenda à Constituição)
Emergencial. No texto, há previsão de itens como o congelamento de salários no
setor público em momentos de calamidade pública e de aperto orçamentário.
Em sua visão, liberar o
benefício sem as compensações "seria caótico para o Brasil, teria um
efeito muito ruim".
Ele afirmou que continuará no
cargo enquanto tiver a confiança de Bolsonaro e não tiver que empurrar o Brasil
para o caminho errado.
"Se eu estiver
conseguindo ajudar o Brasil, fazendo as coisas em que acredito, eu devo
continuar. A ofensa não me tira daqui. O que me tira é a perda da confiança do
presidente, ir para o caminho errado. Se eu tiver que empurrar o Brasil para o
caminho errado, eu prefiro não empurrar. Isso não aconteceu", disse.
Durante o programa, o
ministro ainda defendeu seu trabalho e lamentou críticas na imprensa e de
políticos de oposição, apesar de reconhecer uma série de pendências na agenda
econômica.
"Em algumas coisas,
ficamos para trás. As privatizações estão muito atrasadas, bastante. A reforma
tributária nossa também atrasou. A abertura da economia ia bem, mas chegou a
Covid", disse, para em seguida citar pontos que considera positivos, como
a reforma da Previdência e remoções de burocracia no país.
"Acho que estou
retribuindo à altura, fazendo meu trabalho com seriedade e dedicação.
Sacrifiquei minha família, que vive uma vida mais difícil e limitada. Podia
estar viajando, rodando o mundo e fazendo outras coisas, [mas] estou aqui preso
de manhã, tarde e noite. Não sei que dia é sábado, domingo, não sei as horas.
Acorda, trabalha, lê, trabalha. Mas é um senso de missão", disse.
Guedes disse que entrou para
a vida pública inadvertidamente e que aceitou o desafio por ter confiado em
Bolsonaro. "Estava ajudando alguém, de repente foi radicalizando a eleição
e eu vim. Porque eu confiei nas intenções do presidente; tem ótimas intenções,
responsabilidade com o país. E é bom para a democracia oscilar [de correntes,
ora de esque rda, ora de direita]. Parti da ideia de que, vindo para cá, eu
teria apoio do presidente para fazer as mudanças, porque ele também quer
mudanças. Isso de certa forma me trouxe", disse.
Guedes defendeu a democracia
e a economia de mercado e disse que, em seis meses, a prioridade deve ser a
vacinação em massa. E voltou a reiterar a necessidade das reformas.
"Vamos acreditar em
democracia e mercado. No curto prazo, de hoje para daqui a 6 meses, vacina,
vacina e vacina. Vacinação em massa. Para a recuperação ser sustentável, vamos
dar um pouco de auxílio emergencial para quem não se reequilibrou. E, por outro
lado, vamos acelerar e aprofundar as reformas – se não, a economia
capota", disse.

Registe-se aqui com seu e-mail
ConversãoConversão EmoticonEmoticon