Em novo depoimento prestado na quinta-feira, o ex-assessor Fabrício
Queiroz afirmou ao Ministério Público Federal que “esperava” ser nomeado
para trabalhar no gabinete de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no
Senado no fim de 2018, antes de vir a público o relatório do Conselho de
Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que apontou movimentações
atípicas no valor de R$ 1,2 milhão nas suas contas.
Esse foi o segundo depoimento prestado por Queiroz desde que foi
preso na Operação Anjo, deflagrada no último dia 18 de junho – ele foi
preso em um imóvel pertencente a Frederick Wassef, advogado da família
Bolsonaro. Na segunda, ele também foi ouvido pela Polícia Federal e deu
declarações de teor semelhante.
Ele foi ouvido pelo procurador Eduardo Benones, do Ministério Público
Federal, na condição de testemunha, que não lhe dá o direito de
permanecer em silêncio. A investigação do MPF apura suspeitas de
vazamento na Operação Furna da Onça – o empresário Paulo Marinho disse
que a equipe de Flávio Bolsonaro recebeu um vazamento da Polícia Federal
do Rio avisando que foram detectadas movimentações financeiras atípicas
de Queiroz e que ele foi demitido do seu cargo por isso.
Neste depoimento, o ex-assessor afirmou que tinha a expectativa de
ser nomeado por Flávio para seu gabinete no Senado, cargo ao qual o
filho do presidente foi eleito no fim de 2018. Essa nomeação,
entretanto, não ocorreu e Queiroz se tornou a peça central na
investigação sobre rachadinha.
O ex-assessor disse que não chegou a conversar com Flávio sobre uma
possível nomeação ao Senado. “Apenas esperava que isso viesse a ocorrer
devido aos bons serviços que prestou durante a candidatura”, afirmou.
Queiroz voltou a dizer que não teve conhecimento desse vazamento e
que sua saída do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa no Rio se
deu a pedido dele próprio, como havia dito em depoimento à Polícia
Federal na última segunda-feira. Também afirmou que tomou conhecimento
apenas pela imprensa, no início de dezembro, do relatório do Conselho de
Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que apontou que movimentação
de R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e o mesmo mês de 2017 em suas
contas.
Foi por causa da expectativa de ir para Brasília que Queiroz pediu
demissão, ainda em outubro, do seu cargo no gabinete de Flávio na
Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), e deu entrada em seu pedido de
aposentadoria na Polícia Militar do Rio. A expectativa, porém, não se
concretizou. Em seu primeiro depoimento, Queiroz afirmou à PF como
justificativa para seu pedido demissão, que estava “cansado” de
trabalhar como assessor político e que iria cuidar de problemas de
saúde.
O ex-assessor também disse que se encontrou com Flávio logo após ter
vindo a público o relatório do Coaf, no fim de 2018, e que depois disso
não manteve mais contato com o senador. Afirmou ainda que também cortou
contato com o presidente Jair Bolsonaro desde então.
O senador Flávio Bolsonaro já foi intimado pelo MPF para também
prestar depoimento nesta investigação. Uma data ainda será agendada.
Caso haja necessidade ao curso da investigação, Queiroz pode ter que ser
ouvido novamento pelos investigadores. Também devem ser ouvidos nos
próximos dias outros personagens citados no caso.
Queiroz ainda não prestou depoimento na investigação da rachadinha,
conduzida pelo Ministério Público Estadual. Desde que seu nome ficou sob
suspeita, o ex-assessor passou a se esquivar de apresentar explicações.
Sua defesa apresentou informações por escrito, mas Queiroz nunca chegou
a prestar depoimento ao MP do Rio. Agora que está preso, ele deve
também ser ouvido pelos promotores sobre o esquema de rachadinha. Neste
caso, como é investigado, ele tem o direito de ficar em silêncio.

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O Globo
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