Canais no YouTube, que veiculam notícias falsas,
defendem o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal
Federal (STF) e pedem uma intervenção militar no Brasil são abastecidos
por verbas publicitárias de estatais, aponta levantamento feito pelo
jornal O Globo, publicado neste domingo, 31, com base em dados
obtidos pela Lei de Acesso à Informação. Alguns dos donos dos canais e
sites são alvo da investigação em andamento no STF que apura a existência de uma rede de divulgação de fake news e de ataques aos ministros da Corte.
Ao todo, 28.845 anúncios da Petrobras e da Eletrobras foram veiculados nestes canais entre janeiro de 2017 e julho de 2019, antes e durante o governo Bolsonaro.
Uma outra base de dados, da Secretaria de Comunicação (Secom) da
Presidência, aponta que 390.714 anúncios do governo federal tiveram como
destino 11 sites e canais com o mesmo perfil entre junho e agosto do
ano passado. As estatais e a Secom alegam que não direcionaram as verbas
para os veículos, embora seja possível impedir que um determinado canal
receba publicidade.
Entre os blogueiros que receberam verba publicitária da Petrobras e que são investigados pelo STF estão Allan dos Santos, do canal "Terça Livre", Enzo Leonardo Suzi Momenti, do canal "Enzuh", e Bernardo Pires Kuster.
Os três foram alvos de mandados de busca e apreensão na última
quarta-feira. O "Terça Livre", de Santos, veiculou 3.490 anúncios pagos
pela Petrobras. Já o canal de Kuster no YouTube veiculou 3.602 anúncios
pagos pela estatal, enquanto o canal de Momenti veiculou 1.192. A
Eletrobras também teve propagandas divulgadas nesses três canais. Foram
536 no de Kuster, 398 no "Terça Livre" e 273 no de Momenti.
Embora o levantamento se restrinja ao período entre 2017 e 2019, a
prática continua. Na última semana, o Tribunal de Contas da União (TCU)
mandou suspender campanhas do Banco do Brasil em sites que veiculam
notícias falsas. O banco havia decidido por conta própria bloquear a
publicidade ao tomar conhecimento do destinatário, mas decidiu manter os
anúncios após protesto do vereador Carlos Bolsonaro, filho do
presidente Jair Bolsonaro.
Procuradas, as estatais alegaram que não fizeram indicação direta de
quais sites ou canais deveriam receber a verba destinada pela empresa
para mídia digital. De acordo com a Petrobras, são os algoritmos das
redes de conteúdo contratadas por ela que fazem a distribuição da verba.
Já a Eletrobras responsabilizou o Google e o YouTube pela veiculação de
anúncios pagos pela empresa em canais com esse perfil. A empresa afirma
ainda que, após tomar conhecimento dos fatos, deixou de contratar a
Reachlocal e de veicular anúncios nas plataformas do YouTube e do
Google. A Reachlocal, por meio de nota, também responsabilizou o YouTube
pela distribuição da verba das estatais para os canais mencionados
nesta reportagem.
Procurado, o Google, que é dono do YouTube, disse que anunciantes têm
mecanismos para impedir a veiculação em canais que avaliem
negativamente.
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