Nunca imaginei que, em pleno isolamento social,
fosse estar presente em uma orgia com quase 600 pessoas. Não é como se
fosse minha primeira festa de sexo, com drinks, risadas e gente
transando, mas foi a primeira experiência em uma websuruba — reunião de
pessoas com o intuito de ver e serem vistas em situações pouco
ortodoxas, tudo em nome do prazer geral.
A festa “Sdds Sentar”, organizada pelo perfil @sentomesmo no
Instagram, teve quase 2 mil inscritos para a sala virtual. O evento, no
dia 30 de maio, reuniu gente de todo o tipo mostrando tudo para quem
quisesse ver. Teve peitos, pintos, dildos, bundas e vulvas.
Para participar foi necessário um breve cadastro, com uma clara
mensagem: não era possível prevenir que a tela fosse gravada ou
fotografada, e que o participante estaria ciente disso. Entendida essa
questão, era só entrar no aplicativo, ligar o som e curtir o visual.
O que você mostraria na câmera ficava a seu critério, como os vários
pênis eretos de corpos sem rosto, vulvas tocadas por ágeis dedos e o
movimento de (sortudos) casais transando. Uma pessoa responsável operava
o software de troca de câmeras, mostrando quem queria ser visto em tela
cheia, deleite para observados e observadores.
O pico, segundo o organizador, foi de 600 pessoas online. No início,
enquanto a música rolava — um pop seguido de eletrônico, que para mim
foi mais som de fundo para rolar o clima que motivo de foco — as pessoas
ainda estavam tímidas, interagindo via chat de texto com quem surgia na
câmera. Não demorou para os primeiros corpos nus aparecerem e, daí para
a frente, foi só alegria.
De todos os fetiches, o voyeur era o rei da festa. Como o visual
importava, até a própria nudez foi deixada de lado. Teve gente de roupa
elaborada, como um casal vestido de prints animais, e aqueles sem roupa
nenhuma; gente com máscara sofisticada e também a já comum máscara-anti-corona para
esconder o rosto. Eu não tive escolha — muita tatuagem para esconder e
pouco creme base — e mostrei a cara junto com um grupo de destemidos.
Ainda que algumas pessoas estivessem produzidas para o evento com cenas de sexo ao
vivo, a festa pouco parecia um filme pornô tradicional. Como os
participantes acabavam interagindo via chat, e todo ato era consentido, a
sensação geral era de diversão, felicidade e coletividade — sentimento
necessário em momento de isolamento. Estar bem e se sentir sexy era o
principal. O gozo, secundário.
Comecei a noite achando que manteria a cueca vestida e que esse seria um experimento quase antropológico. Tolinho.
Após uma hora e pouco de festa — que passou mais rápido que imaginei —
já estava participando do que eu presumo ser a maior masturbação
coletiva da história da internet brasileira.
A operadora da câmera exibiu o homem que dançava no barra de Pole
Dance exibindo um plug anal que emula um rabo, depois a mulher que
pulava, animada, em um vibrador — protegida da identificação com uma
balaclava sobre o rosto (meu novo fetiche) — e transferiu a imagem para a
mulher que derrubava cera quente de vela nos peitos enquanto recebia
uma enxurrada de elogios do chat em texto. Homens e mulheres se
divertiam vendo quem se divertia mostrando.
Para mim, a websuruba foi um sucesso, mesmo diferente dos eventos que
já estou acostumado. Com menos variáveis que uma orgia presencial,
quero que esse tipo de evento se torne mais comum enquanto nos
escondemos em nossas casas aguardando o vírus minguar.
Talvez, a versão virtual até convença pessoas menos interessadas em surubas que sexo em grupo é legal — e nada vergonhoso, como nos ensinam por aí.
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POR Angelo Dias – FOLHA DE SPRegiste-se aqui com seu e-mail
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