“Jornalista investigativo, apaixonado pela verdade, inimigo da
corrupção e conservador”. É assim que Oswaldo Eustáquio, de 42 anos, se
apresenta aos quase 106 mil seguidores que reúne em sua conta no
Twitter. Era com eles que Eustáquio se comunicava até o fim da manhã
desta sexta-feira, pouco antes de ser preso pela Polícia Federal (PF),
em Campo Grande.
Investigado na Operação Lume, inquérito que apura a promoção de atos
antidemocráticos favoráveis ao fechamento do Congresso e do Supremo
Tribunal Federal (STF), Eustáquio é um dos influenciadores que integra o
núcleo duro da base de apoio ao presidente Jair Bolsonaro na web. Ele
estava sendo monitorado devido ao risco de tentar fugir do país. Nas
redes sociais — há ainda um canal com 315 mil inscritos no Facebook e
uma página com 9,4 mil seguidores no Facebook, pouco ativa — o blogueiro
afirmou hoje que estava no Paraguai e relacionou a viagem a uma
observação jornalística sobre práticas internacionais de combate à
pandemia da Covid-19.
“O nosso núcleo de jornalismo investigativo está no Paraguai e
descobriu o segredo do sucesso do país vizinho no combate ao coronavírus
(…). A receita é simples: Comércio aberto e combate à desinformação da
mídia”, escreveu Eustáquio às 11h48m, no Twitter. Ele foi detido cerca
de uma hora depois, em território nacional.
Além do Twitter e do Facebook, Eustáquio costuma publicar os
conteúdos que produz no site do jornal “Agora Paraná”, um veículo com
quase três décadas de existência que circula na região metropolitana de
Curitiba. Uma publicação do portal, feita em janeiro deste ano, mostra
que a família do blogueiro tem raízes tanto no Paraguai quanto no Mato
Grosso do Sul: a mãe dele, de origem paraguaia, viveu com o pai, que foi
subtenente de infantaria, em Porto Murtinho (MS), na década de 1960, no
lado brasileiro da fronteira com o país vizinho. Os dois se mudaram
para a capital parananese antes do nascimento de Eustáquio, que tem uma
irmã advogada.
O jornalista deu os primeiros passos como um profissional com atuação
voltada para o universo digital em 2012, quando fez as primeiras
publicações em um blog que criou. Na descrição de suas credenciais, à
época, definiu-se como “jornalista diplomado”, “repórter” e “blogueiro” —
o último rótulo foi abandonado anos depois, quando ele passou a figurar
como uma fonte de notícias recorrente entre os bolsonaristas. Na semana
passada, chegou a ironizar o uso da palavra em referência a si próprio:
“Sou repórter especial do Agora Paraná, um blogueiro sem blog”.
Entrave jurídico
A prisão não é o primeiro obstáculo jurídico à atividade de Eustáquio
na internet. Outros problemas com a Justiça já tinham se apresentado
diante do blogueiro em forma de casos relacionados a suspostas denúncias
feitas por ele.
No ano passado, por exemplo, Eustáquio chegou a afirmar que o
jornalista Glenn Greenwald, editor do site “The Intercept Brasil”,
mentiu quando afirmou que a própria mãe estava acometida por um câncer
no cérebro. Arlene Ehrlich Greenwald, de 76 anos, morreu em dezembro,
após oito anos de luta contra a doença. Em fevereiro, Eustáquio foi
condenado a pagar uma indenização de R$ 15 mil por danos morais ao
colega de profissão.
No início deste mês, o ex-deputado federal Jean Wyllys (PSOL) entrou
com uma ação contra Eustáquio no Tribunal de Justiça do Rio e foi atendido em um pedido para que Eustáquio fosse obrigado a retirar do Youtube um
vídeo no qual o parlamentar era associado ao atentado à faca sofrido
por Jair Bolsonaro em 2018. As imagens mostravam o jornalista
entrevistando um homem apelidado de “Luciano Mergulhador”, que mencionou
uma ligação entre Wyllys e Adélio Bispo, autor do crime. Em depoimento à
PF, no entanto, Luciano não repetiu a história, que foi republicada nas
redes sociais pelo deputado Eduardo Bolsonaro, o vereador Carlos
Bolsonaro, o escritor Olavo de Carvalho e outras figuras do
bolsonarismo.
Eustáquio coleciona controvérsias com outras figuras públicas. É o
caso da deputada federal Joice Hasselman, contra quem representou na
Câmara dos Deputados com um pedido de cassação há poucos dias, sob o
argumento de que ela teria instruído assessores a produzir notícias
falsas contra Bolsonaro. E também do youtuber Felipe Neto, a quem chamou
recentemente de “ventrículo da esquerda”. O jornalista ainda criticou
há poucos dias os ex-ministros Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública)
e Henrique Mandetta (Saúde) e o governador de São Paulo João Doria
(PSBD).
O tom é mais ameno em relação a aliados. Ao defender este mês que o
governo precisava “regionalizar” a comunicação de suas ações, Eustáquio
defendeu que Carlos Bolsonaro ganhasse a “camisa 10” para liderar um
movimento nesse sentido. Para pedir a soltura da ativista Sara Girimoni,
conhecida pelo pseudônimo Sara Winter, o jornalista colocou a própria
imagem ao lado dela, classificando-a como ela como “presa” por defender a
pátria e a si mesmo como perseguido pelo mesmo motivo. A ativista foi
solta na quarta-feira, após o ministro Alexandre de Moraes revogar a
prisão preventiva decretada no STF. Ao saber da prisão de Eustáquio, ela
disse que ele é um “preso político” e pediu, através de uma hashtag:
“#SoltemOswaldo”.
Blogueiro.
SONAR – O GLOBO
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