"Esqueçam decreto de governadora
e de prefeitos. Esqueçam pelo amor de Jesus Cristo e fiquem em casa. Isso é o
maior absurdo que a gente pode ver nos dias de hoje, se falar em
flexibilização. O povo deve ficar em casa. Os poderes, os governantes têm que
ter a coragem de dizer o que são serviços essenciais nas suas cidades, o que é
serviço essencial dentro desse estado, e não abrir comércio da forma como está
sendo aberto, chamar o povo para a rua, distribuir máscara para causar sensação
de falsa segurança". A fala é do secretário de Saúde de Natal, George
Antunes, na manhã desta segunda-feira (1º).
Em entrevista à Inter TV Cabugi, o
secretário afirmou que a estimativa é que o pico da pandemia do novo
coronavírus ocorra no estado próximo ao dia 15 de junho e se mantenha por pelo
menos outros 15 dias. Por causa disso, ele afirmou que está revoltado com a
flexibilização do comércio que já ocorre em algumas cidades do estado.
"Estou completamente revoltado, você percebeu até o tom de voz meu que já
mudou quando se fala nesse assunto. Para mim é um absurdo", disse.
O secretário ainda criticou o
fechamento dos pronto-socorros de hospitais estaduais e de uma UPA de
Parnamirim, na região metropolitana, no fim de semana, o que causa superlotação
nas unidades da capital.
"Mesmo compreendendo que é uma
obrigação minha ter pronto atendimento, mas o estado recentemente fechou a
porta do (Hospital) Giselda Trigueiro. Ontem à noite o secretário manda uma
mensagem dizendo que vai fechar a porta do Hospital Santa Catarina e só vai
receber paciente referenciado. Parnamirim se dá ao direito de fechar uma
Unidade de Pronto Atendimento. Isso do ponto de vista de legalidade, nem
existe, é inadmissível, se fechar uma unidade de pronto atendimento. Isso pode
se caracterizar até como omissão de socorro", disse.
"As minhas UPAs estão
superlotadas, mas ninguém fecha UPA não. Ontem, no Satélite, que recebeu um
monte de gente de Parnamirim, se viraram lá. Foram arrumar cilindro de
oxigênio, botaram gente em sala de prescrição médica. E as UPAs estão
superlotadas. E eu digo a vocês com toda convicção: se não se tomar uma medidas
agora, nós vamos ter um caos instalado nessa cidade. Eu digo a vocês que é uma
tragédia anunciada", afirmou, defendendo o aumento das restrições para
aumentar o isolamento social.
George Antunes ainda considerou que,
mesmo com a abertura de leitos no Hospital de Campanha e no Hospital Municipal,
o sistema não dará conta da demanda de novos pacientes. Isso porque os
pacientes da Covid-19 são de longa permanência nas UTIs. Um paciente com
coronavírus, de acordo com ele, leva de 14 dias a 20 dias internado.
"Ou a gente fecha a metade
dessas portas que estão abertas, que eu acho um absurdo o que está acontecendo,
ou nós vamos ter um caos. Se vocês estão achando que a situação está crítica, é
porque vocês não tem noção exata do que virá. A se manter nessa condição, nós
vamos ter pessoas morrendo nas calçadas, sem ter direito nem a entrar em uma
unidade de pronto-atendimento ou hospital", disse.
"Ou se toma uma medida
de se apertar o distanciamento social,do isolamento social, ou o caos vai se
instalar. Porque não tem hospital de campanha, não tem hospital municipal que
dê conta. Isso eu afirmo com convicção"
Para o secretário, os governantes
provocam uma "mensagem subliminar" na população ao liberar o comércio
e entregar máscaras. "Estou dizendo para as pessoas, coloquem a máscara,
podem ir para o comércio, vão comprar confecção, vão fazer suas unhas, vão
cortar seu cabelinho, vão passear, vão para a rua", considera.
Paralelo a isso, ainda criticou os
disseminadores de notícias falsas e citou um áudio compartilhado por um médico
dizendo que os hospitais privados estavam vazios. "Isso é uma mentira. Não
tem hospital vazio não. Eu tentei contratar 10 leitos de UTI no Hospital do Coração
e ele me disse que não tinha condição", ponderou.
Considerando a pressão recebida pelos
gestores, o secretário disse que eles deverão escolher como perder votos - a
quem irão desagradar. "Ele (político) vai ter que escolher de que forma
quer perder voto. Se ele quer perder voto diminuindo a flexibilização, ou se
quer perder voto sendo responsabilizado pelas mortes que estão acontecendo.
Isso é uma opção que ele vai ter que fazer", pontuou.
Sobre esse dilema, o secretário ainda
citou o psicanalista francês Jacques Lacan: "A gente tem que botar esses
governantes para pensarem sobre um dilema que era colocado já por Lacan, há
muito tempo, que é o dilema do indivíduo entre a bolsa e a vida. Está se
falando ai do comércio, que tem que sobreviver, mas no dilema, todos que
escolhem a bolsa, acabam perdendo a bolsa e a vida. A economia hoje tem que ser
pensada como uma economia de guerra. Todas as potencialidades, do governo
federal, estado e municipal, tem que estar voltado para a guerra. Estamos em
guerra com um inimigo silencioso, mas isso é uma guerra. Temos que voltar
nossas atenções para salvar vidas. A economia nós recuperamos depois. Uma vida
ninguém recupera, e nem recupera o que é desestruturado numa família que perde
um ente seu".
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