O Brasil já perdeu mais de 55.000 pessoas vítimas da Covid-19 e
passamos mais de 1.200.000 infectados. É muita dor para as famílias, que
não puderam velar e enterrar seus entes queridos com dignidade, pois
cada pessoa que morre tem o direito de – um ritual religioso – em
consideração à sua história de vida.
Apesar disso, não há luto
oficial, que significa uma forma de manifestar tristeza coletiva, onde a
bandeira nacional, tão venerada para fins equivocados, deveria ser
hasteada a meio mastro nas instituições e repartições públicas em
respeito aos óbitos do coronavírus.
Aliás, determinados líderes e
indivíduos são incapazes de sentir empatia com os familiares das vítimas
e tampouco externar palavras de solidariedade aos profissionais de
saúde, que sacrificam suas vidas para salvar os pacientes infectados
pelo vírus.
Essas mortes não são uma fatalidade e sim uma tragédia
que já tinha sido anunciada, contudo, algumas das maiores autoridades
de Estado vieram a público desprezar os protocolos sanitários do
Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde.
A catástrofe da pandemia ainda não acabou, os hospitais irão colapsar e
os cemitérios receberão mais corpos para sepultar, porque o País
desdenhou o perigo do coronavírus, uma ideia que se fixou na cabeça de
gente que insiste em “trollar” o isolamento social e publicar “fake
news” para desacreditar a letalidade da doença.
O que estamos
assistindo é a anatomia da destrutividade humana, como se registra nos
crimes e nos conflitos, ou seja, um comportamento perverso que
descarrega nas mídias sociais e nas manifestações de rua suas narrativas
ideológicos e irracionais como “salvaguarda” da família, da
propriedade, da religião e da pátria.
Na verdade, vivenciamos um
clima de tensão e medo, que aumentou os níveis de agressividade dentro
das famílias e na sociedade, consequência de atitudes compulsivas e
egocêntricas de criaturas que vêem o mundo apenas um lugar de poder,
posse e consumo, não se importando com os riscos da pandemia e nem com a
vida das pessoas.
Esse entesouramento está vinculado a um modo frio e calculista de
parte do governo e da sociedade de se relacionar com os demais, que
Freud classifica do tipo retentivo anal. Em outras palavras, são os
teimosos e mesquinhos que não querem uma convivência pacífica, na busca
de soluções coletivas, para enfrentar esse momento difícil.
Portanto,
a calamidade pública da Covid-19 mostrou que não podemos nos curvar
diante da “pandemia de imbecis”, que está arrastando a Nação para o
abismo. Então, precisamos nos manter coesos e unidos para o
enfrentamento do vírus, a fim de salvar vidas, recuperar a economia, a
renda da população e combater a desigualdade.
Afinal, a pandemia
está nos relembrando que é inaceitável que idosos, crianças, mulheres e
pessoas com deficiência sejam humilhadas e agredidas dentro e fora dos
seus lares, bem como está nos advertindo que os narcisistas malignos e
os sociopatas não podem legislar e governar, uma vez que eles estimulam o
desejo insano de destruir os outros e a natureza.
j
Nossa.
Jackson César Buonocore é Sociólogo e Psicanalista
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