A crise instalada na gestão do procurador-geral da República Augusto
Aras após o embate de uma das suas principais auxiliares, a
subprocuradora Lindora Araújo, com a força-tarefa da Lava-Jato em
Curitiba implodiu a relação da Procuradoria-Geral da República (PGR)
com todas as forças-tarefas da Lava-Jato, incluindo também as do Rio e
de São Paulo.
Como revelado ontem pelo GLOBO,
a crise teve início após o envio de um ofício pela força-tarefa de
Curitiba à Corregedoria do Ministério Público Federal acusando Lindora
de, durante uma ida a Curitiba, ter realizado uma manobra ilegal para
copiar dados sigilosos da operação, sem formalizar um pedido de acesso.
Com o desgaste, a ação de Lindora provocou, ainda na noite de sexta, um pedido de demissão coletiva dos procuradores do grupo de trabalho da Lava-Jato na PGR, que agora fica sem nenhum integrante.
Respeitados internamente, os procuradores do grupo da Lava-Jato na
PGR eram o principal ponto de interlocução das forças-tarefas de
Curitiba, Rio e São Paulo com a gestão Aras. Por isso, logo após o
pedido de demissão coletiva, as forças-tarefas se posicionaram em apoio
aos procuradores e emitiram uma nota pública. A nota também foi assinada
pelos integrantes da Força-Tarefa Greenfield, de Brasília.
A nota classifica os procuradores que pediram demissão da PGR como
“competentes, dedicados, experientes e amplamente comprometidos com a
integridade, a causa pública e o combate à corrupção e enfrentamento da
macrocriminalidade”. Segundo a nota, eles “cooperaram amplamente em
importantes trabalhos conjuntos com as forças-tarefas Lava-Jato e
Greenfield, razão pela qual os seus integrantes expressam seu profundo
agradecimento e admiração”. Os quatro procuradores são citados
nominalmente na nota: Hebert Reis Mesquita, Luana Vargas Macedo, Maria
Clara Barros Noleto e Victor Riccely.
A avaliação interna das forças-tarefas é que se instalou uma crise de
confiança envolvendo a subprocuradora-geral da República Lindora
Araújo, que ocupa a função de coordenadora do grupo de trabalho da
Lava-Jato na PGR e teria a atribuição de apoiar e auxiliar no trabalho
dessas forças-tarefas. Com isso, a tendência é que o diálogo existente
com Lindora, que já era pouco, seja reduzido a zero.
Essa desconfiança já vinha desde que veio a público a negociação,
pela PGR, de um acordo de colaboração premiada com o advogado foragido
Rodrigo Tacla Duran, que lançava suspeitas sobre um amigo do ex-ministro
da Justiça Sergio Moro e sobre a atuação da Lava-Jato de Curitiba.
Essas suspeitas já haviam sido investigadas e arquivadas pela própria
PGR. Responsável por essa negociação, Lindora tocou o acordo sem a
participação da força-tarefa da Lava-Jato de Curitiba, que tomou
conhecimento da negociação pela imprensa. O caso foi revelado pelo GLOBO.
Como as investigações que correm em primeira instância não precisam
de participação da PGR, a orientação nas forças-tarefas é seguir tocando
o trabalho normalmente. Caso haja necessidade de diálogo com Brasília
devido ao surgimento de políticos com foro privilegiado nas
investigações, ainda não se sabe de que forma esse diálogo se daria.
A falta de confiança, entretanto, deve abalar o andamento das
investigações. O bom relacionamento das forças-tarefas com as gestões
anteriores da PGR permitiu a rápida evolução de diversos trabalhos em
conjunto. No início da Lava-Jato, os primeiros acordos de delação
premiada foram assinados com o aval e participação do então PGR Rodrigo
Janot. Já sob a gestão de Raquel Dodge, embora o ritmo das investigações
tenha diminuído, a Lava-Jato do Rio assinou diversos acordos de
colaboração em conjunto com a PGR que permitiram o rápido andamento de
inquéritos contra conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Rio
(TCE-RJ) e que culminaram na prisão do então governador Luiz Fernando
Pezão (MDB). No caso da gestão Aras, esses trabalhos agora devem passar a
ocorrer de forma descoordenada e isoladamente.
Recomendo...
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