As fraudes e
irregularidades no recebimento do auxílio emergencial chegaram ao
universo do crime e também no exterior. Reportagem exibida ontem no
“Fantástico”, da Rede Globo, mostrou que 11 dos 22 criminosos mais
procurados do país — entre traficantes, assassinos e ladrões de banco —
receberam os R$ 600 do programa do Ministério da Cidadania. Além dos
foragidos, brasileiros que moram no exterior também foram beneficiados
com a medida de preservação para os mais vulneráveis.
A investigação
do “Fantástico” foi feita a partir da lista de foragidos, publicada no
site do Ministério da Justiça e Segurança Pública. A reportagem cruzou
os nomes dos criminosos mais procurados do país com a base de dados de
solicitantes do auxílio emergencial. Na identificação do cadastro de 11
deles, os recursos constavam como liberados.
Ao todo, 58
milhões de brasileiros tiveram o requerimento aprovado e liberado por
Caixa e Dataprev, responsável pela análise dos cadastros.
A lista de
beneficiários irregulares inclui nomes como William Moscardini, o
Baixinho, acusado de participar do roubo de R$ 60 milhões de uma empresa
de transporte de valores no Paraguai, em 2017. Ele nunca foi preso por
esse crime, mas recebeu duas das três parcelas do auxílio.
Outro foragido
beneficiado é Leomar de Oliveira Barbosa, o Léo Playboy. Condenado a 36
anos de prisão, ele era o braço direito de Fernandinho Beira-Mar. Desde
2018, Léo Playboy é procurado pela Polícia Federal.
Especialistas
ouvidos pelo “Fantástico” suspeitam que não tenha havido o cruzamento
das informações prestadas no cadastramento do auxílio com outras bases
de dados disponíveis, como a do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Gasto de R$ 16 milhões
Segundo o
relatório de investigação da Controladoria-Geral da União (CGU), obtido
pela reportagem, mais de 27 mil foragidos, em todo o país, tiveram o
auxílio emergencial aprovado pela Caixa. Só com o pagamento da primeira
parcela, liberada para essas pessoas, o governo federal gastou mais de
R$ 16 milhões. Em São Paulo, por exemplo, o benefício foi liberado para
6.879 foragidos. No Rio de Janeiro, para 825.
Além de
criminosos, a investigação da CGU identificou golpistas que receberam os
recursos utilizando dados de pessoas que já morreram, além de presos
que se cadastraram com celulares que circulam dentro das cadeias.
Moradores no
exterior também estão recebendo os recursos de modo irregular. Em
Portugal, brasileiros confirmaram, em conversas em grupos de aplicativos
de mensagens, que deram entrada no benefício. Em chats também obtidos
pelo “Fantástico”, uma das brasileiras chega a brincar: “Já dá pra fazer
um churras (churrasco).” Uma outra pessoa tentou justificar, alegando a
alta carga tributária paga quando morava no Brasil: “Tanto desconto lá e
nunca fui beneficiada. Eu fiz e deixei na poupança das crianças.”
Em nota ao
“Fantástico”, o Ministério da Cidadania informou que há “casos em
reanálise que estão passando por filtro de checagem” para evitar o
pagamento indevido. A pasta disse, ainda, que as parcerias com órgãos de
controle auxiliam na fiscalização e que, quando identificado, será
cobrada a devolução do valor recebido indevidamente.
Criminosos...
O Globo
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