Com a prisão do policial militar aposentado Fabrício Queiroz, o
presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (18) a aliados que o
Judiciário tem tentado construir um clima político com o objetivo de
tirá-lo do cargo.
Segundo relatos de assessores palacianos, o presidente considerou que
não foi uma coincidência o fato de, na mesma semana, terem sido feitas
buscas e apreensões contra aliados , no âmbito do inquérito que corre no
STF (Supremo Tribunal Federal) sobre atos antidemocráticos, e prendido,
via decisão judicial do Rio, seu amigo e ex-assessor do senador Flávio
Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Nas conversas reservadas, Bolsonaro se queixou, de acordo com relatos
feitos à Folha, de que estão tentando a todo custo encontrar alguma
evidência que o prejudique, mas ressaltou que reagirá ao que chamou de
cerco jurídico.
Nesta quinta, o presidente não parou para conversar com apoiadores na
porta do Palácio do Alvorada. Seguiu direto para o Planalto. Conforme
noticiou o Painel, o ministro da Justiça, André Mendonça, foi chamado
para uma reunião para discutir uma estratégia de reação. O
ministro-chefe da AGU (Advocacia-Geral da União), José Levi, também deve
ser chamado.
No governo, há tanto quem defenda que o presidente deve reagir
publicamente à prisão do amigo, com uma crítica dura ao Judiciário, e a
resposta oficial para a defesa de seu filho, tentando, assim, se afastar
do episódio.
Flávio afirmou que a prisão do ex-assessor é "mais uma peça movimentada
no tabuleiro" para atacar seu pai. "Encaro com tranquilidade os
acontecimentos de hoje. A verdade prevalecerá! Mais uma peça foi
movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro", escreveu em rede
social.
O receio, sobretudo na cúpula militar, é que, ao se posicionar,
Bolsonaro reforce ainda mais o seu vínculo com Queiroz e com o advogado
Frederick Wassef. O policial aposentado foi preso em Atibaia em um
imóvel de Wassef, que é advogado do presidente.
Para integrantes do núcleo fardado, o melhor neste momento seria que
Bolsonaro se afastasse publicamente de Wassef e que deixasse o advogado
se explicar sobre o motivo de Queiroz ter se abrigado em uma de suas
propriedades.
Apesar de defenderem a estratégia do silêncio, militares do governo
reconhecem que, neste caso, é impossível dissociar o presidente do
advogado, figura frequente no Palácio do Planalto.
Nesta quinta-feira (18), em um comportamento atípico, Bolsonaro não
parou para conversar com um grupo de eleitores que o esperava na entrada
do Palácio da Alvorada.
Queiroz é investigado por participação em suposto esquema de
"rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, no gabinete do
então deputado estadual Flávio Bolsonaro.
"Rachadinha" é quando funcionários são coagidos a devolver parte de seus
salários. O filho de Bolsonaro foi deputado estadual de fevereiro de
2003 a janeiro de 2019.
A operação que prendeu Queiroz em São Paulo foi comandada pelo delegado
Nico Gonçalves, chefe do Dope (Departamento de Operações Policiais
Estratégicas) da Polícia Civil.
Bolsonaro amedrontado seu moço.
Folha de São Paulo
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