O governo de Jair Bolsonaro veiculou publicidade sobre a reforma da Previdência em sites de fake news, de jogo do bicho, infantis, em russo e em canal do YouTube que promove o presidente da República.
As informações constam de planilhas enviadas pela Secom (Secretaria Especial de Comunicação da Presidência) por determinação da CGU (Controladoria-Geral da União), a partir de um pedido por meio do Serviço de Informação ao Cidadão.
A Secom contrata agências de publicidade que compram espaços por meio do GoogleAdsense para veicular campanhas em sites, canais do YouTube e aplicativos para celular.
O anunciante escolhe que tipo de público quer atingir, em que tipos
de sites não quer que sua campanha seja veiculada e quais palavras-chave
devem ser vetadas. Então o Google distribui os anúncios para sites ou
canais do YouTube que cumpram os critérios estabelecidos pelo
anunciante.
O montante pago pela Secom é dividido entre o Google e o site ou
canal do YouTube. As porcentagens do Google variam, de 40% a 20% ou
menos, dependendo da negociação entre os sites e a plataforma. No final,
o anunciante recebe um relatório sobre todos os seus anúncios, onde
foram veiculados, quantas impressões e outros dados.
Segundo as planilhas da Secom, disponíveis no site de Acesso à
Informação do governo federal, dos 20 canais de YouTube que mais
veicularam impressões (anúncios) da campanha da Nova Previdência no
período reportado, 14 são primordialmente destinados ao público
infantojuvenil, como o canal Turma da Mônica e Planeta Gêmeas.
Um dos canais de YouTube que mais receberam anúncios, segundo a
Secom, é o Get Movies, que não só é destinado ao público infantil mas
tem 100% do seu conteúdo em russo. “O destino no YouTube para russos que
querem assistir a desenhos animados e outros tipos de programa para a
família”, diz a descrição do canal que recebeu 101.532 anúncios, segundo
a tabela.
Usando os filtros do Google, é possível que o anunciante ou a agência
de propaganda que o representa excluam, por exemplo, sites ou canais
infantis, de conteúdo político, de temática ilegal (como jogo do bicho)
ou pornográficos, para garantir que a publicidade não será veiculada
nesses canais.
Os anunciantes também recebem uma lista detalhada de todos os sites,
aplicativos e canais de YouTube que veicularam campanha publicitária. O
canal infantil Kids Fun, por exemplo, foi um dos campeões em anúncios
(469.777).
Ao contratar anúncios pelo Google, é possível selecionar conteúdo para adolescentes e adultos e excluir o infantil.
Em 11 de novembro de 2019, foi pedido à Secom, por meio do Serviço de
Informação ao Cidadão, um relatório de canais nos quais os anúncios do
governo federal contratados por meio da plataforma Google Ads foram
exibidos, para o período de 1º de janeiro a 10 de novembro de 2019.
A Secom negou duas vezes o pedido. Após recursos, a CGU determinou em
fevereiro que a Secom deveria disponibilizar o relatório pedido no
prazo de 60 dias contados da notificação da decisão.
A resposta da Secom só foi encaminhada ao site em 17 de abril deste
ano, mais de cinco meses após o pedido inicial. No entanto, as planilhas
enviadas abrangem apenas o período de 6 de junho a 13 de julho de 2019 e
11 a 21 de agosto de 2019.
As planilhas devem ser encaminhadas à CPMI das Fake News nos
próximos dias. Os documentos não especificam o total gasto pela Secom
com os anúncios. Em maio de 2019, a secretaria anunciou que gastaria R$
37 milhões em inserções publicitárias sobre a reforma da Previdência, em televisão, internet, jornais, rádio, mídias sociais e painéis em aeroportos.
Outra publicação que recebeu uma quantidade considerável de anúncios
com dinheiro público foi um site com resultados do jogo do bicho. O
resultadosdobichotemporeal.com.br recebeu 319.082 anúncios, segundo a
planilha enviada pela Secom. O jogo do bicho é ilegal no Brasil.
Sites de fake news também receberam muitos cliques —e verba— de
anúncios do governo. Um dos campeões, com 66.431 anúncios, foi o Sempre
Questione.
Na página inicial deste site, nesta sexta (8), havia notícias como
“Ovni é flagrado sobrevoando Croata, interior do Ceará, e aterroriza
moradores” e “Kiko do Chaves diz que coronavírus é farsa de Bill Gates e
da Maçonaria”.
A campanha também foi veiculada em sites que disseminam desinformação, como o Diário do Brasil (36.551 anúncios).
A Secom relata nas planilhas gastos com anúncios veiculados em sites e
canais que promovem o presidente Jair Bolsonaro. No Bolsonaro TV –que
se descreve como “canal dedicado em apoiar o presidente da República,
Jair Messias Bolsonaro”– houve 5.067 impressões, segundo a planilha.
Aplicativos para celular como “Brazilian Trump”, “Top Bolsonaro
Wallpapers” e “Presidente Jair Bolsonaro” também veicularam a campanha.
Ainda segundo a planilha, foram veiculados anúncios em sites de
políticos eleitos, como o do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).
“Usar dinheiro público para anunciar em sites que promovem o
presidente pode, potencialmente, ferir o princípio da impessoalidade”,
diz Diogo Rais, professor de direito eleitoral da Universidade Mackenzie
e diretor do Instituto Liberdade Digital. “Além disso, ao anunciar em
sites que disseminam notícias falsas, o governo está financiando a
produção de fake news.”
Para Manoel Galdino, diretor-executivo da Transparência Brasil, ao
anunciar em sites de jogos de azar ilegais, o “governo está remunerando
atividades criminosas”. “Segundo a Constituição, a propaganda do governo
precisa seguir a moralidade, o que não inclui incentivar atividades
antiéticas, como fake news, ou ilegais, como jogo do bicho.”
O canal de YouTube Terça Livre TV, que pertence ao blogueiro Allan dos Santos, consta na planilha da Secom de veículos que receberam anúncios do governo. Segundo o documento, houve 1.447 anúncios no canal.
Em depoimento à CPMI das Fake News, em novembro de 2019, Santos
afirmou: “Sou dono do maior portal conservador da América Latina e não
recebo nenhum centavo do governo”.
Procurada, a Secom afirmou, em nota, que “a plataforma de anúncios da
Google atua automaticamente a partir de parâmetros para a entrega do
conteúdo publicitário aos públicos de interesse. As definições são
abrangentes e não determinam com exatidão o local na internet em que o
anúncio será veiculado. Porém, neste caso específico, buscou-se perfis
reconhecidos pela ferramenta do Google que tenham afinidade para o tema
“Previdência” e demais correlações de acordo com sintaxe para o tema da
campanha”.
“Foram realizados comandos para o bloqueio da entrega da publicidade
em sites de conteúdos impróprios, que incitem a violência ou que atentem
contra os direitos humanos. Trata-se de procedimento padrão, em
cumprimento às diretrizes da lei 6.555/2008″, finaliza a nota.
O Google afirmou, em nota: “Mesmo quando um site ou vídeo não viola
nossas políticas, compreendemos que os anunciantes podem não querer sua
publicidade atrelada a determinados conteúdos e, por conta disso, nossas
plataformas permitem bloquear categorias de assuntos e sites
específicos, além de gerarem relatórios sobre a exibição dos anúncios”.
Por meio de sua assessoria, o senador Angelo Coronel (PSD-BA),
presidente da CPMI das Fake News, afirmou que não iria comentar o
assunto porque “não recebeu e não conhece as informações”.
Esse mito é chegado na Fake News seu moço...
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