Desde que a quarentena pela pandemia de covid-19 começou no Brasil,
diversos artistas já se apresentaram de casa com transmissão ao vivo.
Gusttavo Lima foi um dos pioneiros do novo modelo de shows e fez uma
apresentação histórica com cerca de cinco horas de duração.
Se hoje as lives viraram um fenômeno, há alguns anos, a situação era
bem diferente. Segundo Filipe Callil, CEO da ClapMe, empresa que
trabalha com live streaming desde 2013, era um desafio provar a
importância das transmissões ao vivo.
“A gente tinha uma dificuldade em convencer as pessoas que elas
tinham que fazer live, principalmente artistas. Eles costumavam dizer ‘a
transmissão ao vivo vai comprimir meu áudio, vai deixar minha voz
anasalada. Cantar na minha casa? Imagina, vai expor minha privacidade e
minha família…'”, relembra o empresário, que começou a ver uma mudança
de comportamento quando o Facebook implementou a ferramenta de lives por
conta das Olímpiadas de 2016 e, pouco tempo depois, também no
Instagram.
Com a pandemia, as transmissões ao vivo se tornaram a única
alternativa para o mercado musical obter receita e os artistas acabaram
se rendendo ao formato. Atualmente, Filipe estima que grandes nomes da
música, como Luan Santana e Marília Mendonça, possam faturar mais de 1
milhão de reais cada um por live.
“Isso só de patrocínio, porque há um impasse com relação ao pagamento
do YouTube em cima das views. Mas se eles fecham três cotas de 300 mil
reais cada uma nas lives…”, declara.
O que as marcas procuram?
As transmissões ao vivo também fizeram as empresas e especialistas de
marketing saírem da caixinha. Filipe explica que a live nunca foi vista
como uma ferramenta de compra de mídia, como acontece agora.
“Muitos pensavam: ‘Por que vou botar minha grana numa live do
Gusttavo Lima e, de repente, ter a imagem da minha marca atrelada a algo
não muito legal, se posso comprar mídia no YouTube ou em um portal,
onde tenho segurança?’ Na quarentena, a live começou a ganhar audiência,
repercussão e virou basicamente a saída para todo mundo.”
Thays Almendra, CEO da Social Digital BR e especialista em
planejamento estratégico de projetos digitais e marketing de influência,
afirma que desde o início da pandemia surgiram inúmeros pedidos de
anúncios em lives. Para atender as marcas e indicar um artista, Thays
diz que precisa entender as necessidades individuais.
“A primeira pergunta que eu faço é: qual seu objetivo? Se a marca ‘x’
quer o maior alcance de todos com total de views de 15 milhões, você
pensa em Gusttavo Lima ou Simone e Simaria. Tem marca que investe em
lives pequenas, porque ela quer de fato alcançar o público nichado
daquele artista. Mas, muito mais do que ter alcance, uma live tem que
ter alguma relevância tanto para a marca, quanto para o artista”,
explica.
Thays afirma que a live por si só não vai trazer a conversão imediata
que a marca procura, pois existe todo um fluxo de compra (interação com
QR code ou cross com outras mídias, por exemplo). Mas, diante da grande
visibilidade dos shows ao vivo, ela acredita que o investimento seja o
mais vantajoso atualmente.
“A live está na crista da onda e os clientes vão querer estar por
trás dela. Os olhos das pessoas estão voltados para o digital,
principalmente para o YouTube. Cresceu muito a procura de quem não usava
essa ferramenta (75% de aumento na faixa etária de 35 a 54 anos,
segundo dados da Kantar). Se você for ver o ibope no momento que passa
seu comercial na TV e a quantidade de pessoas atingidas, o alcance que
determinadas lives têm, muitas vezes, é maior. Acho que uma coisa não
anula a outra, mas se você tem só uma grana pra investir, eu investiria
na live.”
Futuro das lives pós-pandemia
Para Filipe, o uso do streaming e as ramificações em cima deste
mercado que vão surgir daqui pra frente são um caminho sem volta.
“Se antes já era uma tecnologia latente, prestes a explodir, agora, a
marca que não fizer ativações pensando em live, depois da quarentena e
do boom das lives, vai estar para trás. Não dá pra prever os novos
produtos e ideias que virão, fugindo da parte da música, esporte,
gastronomia para outras frentes. Mas a gente quer estar na guarda como
autoridade e ditador de tendência. É briga de cachorro grande”, avalia o
especialista.
Thays engrossa o coro e declara que, apesar de as lives já serem
tendência entre gamers e grandes festivais no passado, foi aceita pelos
músicos e veio para ficar.
“O digital virou o foco da campanha, trouxe autenticidade para os
conteúdos. Os artistas e influenciadores vão repensar que as pessoas
querem estar mais próximas deles. O que acho que vai cair são
influenciadores fakes que não dão a cara a tapa. Pode ser em live, ou em
outro formato que vier pós-pandemia, o que vai impactar de fato é a
realidade, o que está acontecendo na sua casa? A live veio a partir
disso, dentro da casa do artista e do influenciador”, sugere.
Nossa.
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