Uma das consequências do isolamento social imposto em todo o mundo
devido ao avanço do Coronavírus tem sido o aumento da violência
doméstica contra as mulheres. Os dados se repetiram em diversos países e
também nos vários estados brasileiros, em maior ou menor proporção,
entre eles o Rio Grande do Norte. A dura realidade foi tema de mais uma
reunião da Comissão de Enfrentamento ao Coronavírus da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Norte nesta segunda-feira (27).
“Isso foi registrado no mundo inteiro e aqui no RN não foi diferente.
Dados da Secretaria de Segurança refletem que há aumento de registros de
violência, entre fevereiro e março desse ano, de 22% na região
metropolitana de Natal. Em todo o RN foi de 8,8%. Já as medidas
restritivas aumentaram o seu uso em 18,5%”, disse a promotora de Justiça
Erica Canuto, coordenadora do Núcleo de Apoio à Mulher Vítima de
Violência do Ministério Público Estadual.
Ainda de acordo com a especialista, o RN teve um aumento de 300% no
número de feminicídios se comparado o mês de março deste ano com o mesmo
período de 2019. No terceiro mês de 2020 foram quatro mulheres
assassinadas, enquanto em 2019 se registrou uma vítima desse tipo de
crime no mesmo espaço de tempo.
Érica Canuto também cobrou ações para combater o avanço da violência
contra as mulheres no RN. “Pelo número de violência no país, o quinto do
mundo que mais mata mulheres, temos o dever de nos anteciparmos em
políticas públicas. Não podemos esperar a morte da mulher, tem que se
antecipar para evitar que ela aconteça. O Estado precisa se aparelhar,
precisa ter Casa Abrigo Estadual, as mulheres do interior não têm para
onde recorrer, para onde ir e se refugiar”, afirmou.
A promotora sugeriu colocar o tema como uma das pautas principais do
Estado. O RN, segundo ela, possui o maior índice de violência
psicológica contra mulheres e 87% dos casos registrados ocorrem na
frente de crianças. “É um círculo vicioso, as crianças aprendem com a
repetição. Elas estão vendo o comportamento”, completou.
Ainda de acordo com a representante do Ministério Público, o isolamento
social se transformou em um fator de risco para as mulheres porque a
“casa é um lugar perigoso” para elas. “É o uso do álcool, das drogas,
armas, doenças, são sempre fatores de risco. Tudo isso, não causa a
violência, mas aumenta a violência de gênero contra a mulher”.
Presidente da Comissão de Enfrentamento ao Coronavírus, o deputado
estadual Kelps Lima (SDD) cobrou do Governo do Estado a implantação de
políticas públicas voltadas para o tema. “Existem protocolos para isso
que não foram adotados pela atual gestão nem nenhuma no RN até agora.
Qual avanço para o uso da tecnologia a favor das mulheres foi
implantado? O homem que agride uma mulher deveria usar tornozeleira
eletrônica, temos que constranger ele, e não a mulher. Precisamos sair
do discurso”, afirmou.
Para Kelps, “é pífia a política do governo do Estado em relação ao
assunto. Não se consegue citar uma ação efetiva. Chega de retóricas,
cartilhas, campanhas, temos que ser efetivos e fortes. Punir com força
homem que bate em mulher”, concluiu.
O deputado Francisco do PT enfatizou a importância do tema em debate no
colegiado. “Infelizmente essa questão é lamentavelmente uma das faces
mais cruéis e covardes do machismo, que teima em imperar na nossa
sociedade, inclusive através de gestos de pessoas e autoridades”, disse.
Representante da bancada feminina na Assembleia Legislativa, a deputada
Isolda Dantas (PT) relatou que “há uma subnotificação enorme” de casos
de violência contra a mulher. “A violência pelos noticiários é visível,
nem precisa de dados. A casa, como disse a promotora, é um lugar muito
perigoso para as mulheres. A violência é a expressão mais dura do
machismo”, disse. A petista sugeriu transformar a delegacia virtual para
que possa também receber denúncia de violência contra a mulher.
O deputado Sandro Pimentel (PSOL) ressaltou a importância das mulheres
tomarem cada vez mais consciência dos seus direitos para que se sintam
protegidas pelo Estado. “Não bastasse o medo e o temor do coronavírus,
ainda tem que ficar em casa com a pessoa que a agride constantemente”,
lamentou.
Já o deputado Tomba Farias (PSDB) disse que muitos fatores podem
contribuir para o aumento da violência doméstica durante o isolamento,
como o consumo de álcool em excesso e até mesmo o medo em relação ao
futuro, diante do alto número de desempregados do país.
Promotora...
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