Mais de um mês após a morte de Maria Roberlândia de Carvalho Gomes, os
familiares dela ainda não sabem o que provocou o óbito. A suspeita de morte por
Covid-19 está sendo investigada pelos órgãos de saúde do Rio Grande do Norte,
mas o resultado do exame ainda não saiu.
Desde então, os parentes não têm
qualquer informação sobre esse processo, nem foi dado prazo para o resultado do
exame realizado no corpo. “Estamos indignados”, diz Jéssica Carvalho, filha de
Roberlândia.
Em nota, a Secretaria de Estado da
Saúde Pública (Sesap) afirmou que aguarda o resultado do teste para coronavírus
que foi colhido e enviado para o Instituto Evandro Chagas, no Pará. A Sesap
também disse que pediu prioridade para esse exame.
Roberlândia tinha 47 anos de idade e
era faxineira de uma loja de venda de carros seminovos. Ela não havia sido
sequer identificada como paciente suspeita do novo coronavírus quando morreu,
no dia 19 de março. O exame para identificação da doença não foi realizado
antes da morte dela.
A filha dela, Jéssica Carvalho, alega
que, aos parentes, foi dito extraoficialmente que seria realizada uma
viscerotomia, para saber ela havia morrido de Covid-19. Trata-se de uma técnica
de retirada de pedaços dos órgãos para a realização de diagnósticos. “Como não
tinham feito o exame para identificar a doença em vida, precisaram fazer esse”,
justifica a filha.
Porém, Jéssica conta que entrou em
contato com a Sesap e a Secretaria de Saúde de Parnamirim, e que nenhuma das
pastas deu detalhes ou confirmou o procedimento. “Eles não nos dão informações.
Por que escondem isso da gente? Nós temos o direito de saber”, reclama.
Ela afirma que já tentou saber
detalhes sobre o exame da mãe várias vezes e em nenhuma delas obteve
informações conclusivas. “Nós queremos saber o que houve”, reforça. Ainda
segundo a filha de Roberlândia, os familiares que conviviam com ela não tiveram
sintomas da doença, contudo não foram realizados exames nos parentes para saber
se eles contraíram Covid-19.
O caso
Maria Roberlândia morreu em uma
quinta-feira, dia 19 de março, na UPA Nova Esperança, em Parnamirim, Grande
Natal. Na época, o G1 conversou com o filho dela, João
Paulo Gomes, que disse que a mãe começou a sentir os sintomas no fim de semana
anterior ao óbito. “Todos nós gripamos aqui em casa e ficamos bem depois. Ela
não melhorou”, relatou na ocasião.
Maria Roberlândia morava com o
marido, o filho, a nora e uma neta de quatro anos de idade no bairro de Nova
Parnamirim. De acordo com o filho, ela procurou o médico na rede particular
quando os sintomas se agravaram, no dia 17 de março.
João Paulo Gomes conta que o médico
que a atendeu identificou que ela estava com sintomas do novo coronavírus:
falta de ar, tosse e febre. Foi aí que orientou que Maria Roberlândia
procurasse a rede pública de saúde, para realizar os testes e confirmar ou não
a suspeita.
O encaminhamento dado à paciente, ao
qual o G1 teve acesso, orientou que fosse realizado um “exame
de imagem” (raio-x), para que se investigasse a possibilidade de Covid-19.
Ainda segundo João Paulo, a mãe dele seguiu direto para a Unidade de Ponto
Atendimento (UPA) Nova Esperança, em Parnamirim.
Raio-x
não foi realizado
Jéssica Carvalho afirma que o raio-x
não foi realizado na UPA. Além disso, apesar de apresentar os sintomas, ao ser
questionada se havia tido contato com algum estrangeiro e responder que não,
Maria Roberlândia não se enquadrou como caso suspeito do novo coronavírus, e o
exame para a detecção da doença também não foi feito.
Na época, a orientação do Ministério
da Saúde determinava que, para fazer o teste, era necessário preencher alguns
requisitos. Ter tido contato com pessoas de fora do país, ou infectadas era um
deles.
João Paulo Gomes contou ao G1 na
época que Roberlândia foi medicada e liberada. A faxineira voltou para casa,
mas o quadro de saúde não apresentou evolução. Já na manhã do dia 19, com muita
falta de ar, foi levada novamente à UPA, desta vez pelo Serviço de Atendimento
Móvel de Urgência (Samu). Ele disse que a mãe foi entubada e, às 11h do mesmo
dia.
De acordo com nota enviada pela
Secretaria de Saúde de Parnamirim à imprensa no dia da morte, os médicos que
atenderam Maria Roberlândia na UPA afirmam que ela apresentava situação
compatível com quadro bacteriano e não com Covid-19. Contudo a secretaria
admite a possibilidade de ela ter se contaminado pelo vírus depois.
Jéssica Carvalho lembra que, para o
sepultamento, não houve orientação. A família por si só que tomou as
providências para que o enterro ocorresse de acordo com as determinações para
casos de Covid-19. “Não tínhamos a confirmação, não sabíamos se era suspeita
oficialmente. Mas ficou o preconceito das pessoas. Para todos é como se ela
tivesse falecido disso”.
O enterro aconteceu com caixão
lacrado, com 10 pessoas presentes e durou 10 minutos. “Nós precisamos saber o
que aconteceu, se minha mãe faleceu por causa dessa doença. Nós não sabemos de
nada”.
Maria Roberlândia com os filhos, João Paulo e Jéssica
G1
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