Nas últimas semanas, Justin LaBoy, de 29 anos, ex-jogador de basquete
que se tornou famoso nas redes sociais, e o empreendedor Justin Dior
Combs, 26, filho do rapper P. Diddy, vêm usando o Instagram para
oferecer apresentações ao vivo de strip-tease improvisadas.
“Se não fosse por Justin e as lives que ele organiza, eu não sei o
que teria feito, como teria mantido as contas em dia ou colocado comida
em casa”, disse Sasha, uma dançarina que participa dos shows virtuais.
Em boa parte do planeta, muitos bares e casas de strip-tease foram
forçados a fechar praticamente de um dia para o outro. Milhares de
bartenders, garçonetes e dançarinos ficaram sem renda. E como muitas
outras organizações, de escolas elementares a programas de sobriedade,
as casas de strip também buscaram recriar por via digital as
experiências que oferecem aos frequentadores.
O Magic City, um clube de strip em Atlanta, nos Estados Unidos,
começou a oferecer “’lap dances’ virtuais” por meio do Instagram
Stories. O rapper Tory Lanez também começou a comandar noitadas de dança
virtuais para seus 7,5 milhões de seguidores, sob o título “Quarantine
Radio”.
Mas os eventos de LaBoy têm atraído um grande número de fãs fervorosos.
Músicos como The Weeknd e Diplo e muitos jogadores famosos de futebol
americano e basquete, assim como influenciadores de redes sociais, são
espectadores constantes. Shaquille O’Neal, Meek Mill, YG, Casanova e Lil
Yachty participaram dos programas como convidados especiais.
“A ideia cresceu muito”, disse Combs. “Começou com uma transmissão
conjunta em lives e se transformou nessa loucura. As pessoas me
perguntam toda noite se vamos ter uma live. Justin tem seguidores
devotados, quase como se liderasse um culto, e a coisa está só
começando.”
LaBoy disse que a ideia de recriar a atmosfera de uma casa noturna no
Instagram surgiu à 1h de certa madrugada, quando ele se sentiu
entediado com o streaming ao vivo que estava fazendo para seus mais de
60 mil seguidores. “Eu pensei que precisava convocar um demônio
qualquer”, disse LaBoy. “Onde encontrar alguns demônios?”
Algumas mulheres pediram imediatamente para participar como
convidadas de seu stream. Seus seguidores adoraram. “Ninguém acreditava
que estivéssemos fazendo aquilo de graça”, disse LaBoy. “As meninas
estavam dançando, ‘twerking’, tirando a roupa toda”.
Ele começou a colocar o nome de usuário das participantes como Cash
App, na tela do feed, para que os espectadores pudessem lhes enviar
dinheiro. LaBoy percebeu que tinha descoberto um filão. E assim nasceu o
“Respectfully Justin Show”.
CADA NOITE UM CLUBE NOVO
Horas antes do show, LaBoy começa a divulgar o evento no Instagram,
com o hashtag #respectfully. Como a rede proíbe conteúdo explícito, ele
cria um novo nome de usuário para cada evento. Anuncia o nome da página
no Twitter, mosrtrando o horário e a data da apresentação.
”Nunca tinha visto uma página conseguir 30 mil seguidores em uma
hora”, disse Combs. “Ele está fazendo coisas que eu nunca tinha visto”.
LaBoy apresenta Combs e depois relaxa começando seu stream, com uma taça de vinho, o que já se tornou meme.
“As pessoas postam fotos de taças de vinho e escrevem coisas como ‘se
sua garota sabe o que isso quer dizer, ela não é sua garota’’, disse
Alexis, 24, dançarina em um clube de Atlanta que se apresentou em
diversos dos streams de LaBoy. “Tornou-se um símbolo do show”.
Quando LaBoy aceita a proposta de uma mulher que quer dançar, ele
coloca seu nome de usuária no Cash App no topo da tela e diz aos seus
seguidores que, se eles gostam do que estão vendo, melhor pagar. “O
pessoal ‘traço azul’ precisa pagar”, disse ele, em referência às pessoas
que têm contas verificadas no Instagram.
HISTÓRIAS DE UMA IRMANDADE DEMONÍACA
Algumas dançarinas dizem ter recebido milhares de dólares em doações
via Cash App. Alexis afirmou que faturou um total de US$ 18 mil
(aproximadamente R$ 95 mil) dançando em lives do Instagram durante um
período em que ela não teve outro trabalho. “Justin garante que as
meninas ganhem um dinheiro substancial”, disse ela. LaBoy também divulga
seu nome de usuário no Cash App, e distribui o dinheiro que recebe por
essa via como bonificação para as dançarinas.
O dinheiro que Alexis conseguiu ganhar dançando na internet supera em
muito o que ela faturava previamente dançando numa casa de strip, e com
esforço muito menor. “No clube, trabalho por oito horas direto”, ela
disse. “No Instagram, são cinco minutos. Cinco minutos comparados a oito
horas de trabalho”.
As mulheres que se apresentam como convidadas também conquistaram
maior número de seguidores para suas contas no Instagram. Alexis criou
uma conta secundária de Instagram para suas lives pessoais no Instagram
depois que usuários lhe enviaram mensagens com propostas.
“Pessoas me oferecem US$ 500 (R$ 2,6 mil) para dizer o nome delas em
uma mensagem de voz”, disse ela. “Entram na minha página e me mandam o
emoji dos olhos ou o do coração, e me perguntam de onde sou, onde vivo.
Todo mundo está muito ativo nessa temporada de quarentena.”
Diversas mulheres que foram destaque nas noites de LaBoy se tornaram
amigas. “Agora temos uma comunidade de demônios”, disse Sasha, 32, que
normalmente trabalha como hostess em um restaurante fino de Los Angeles.
“Entramos juntas nas lives. Somos uma pequena irmandade de demônios”.
As mulheres que se apresentam não mostram seus rostos e mantêm o
anonimato, revelando apenas seus nomes de usuário no Instagram (o site
The New York Times concordou em identificá-las apenas por seus
prenomes). Algumas, como Sasha, usam uma máscara de esqui enquanto
dançam, e outras simplesmente só se filmam da cintura para baixo.
Sasha disse que prefere manter sua identidade offline separada do trabalho que ela começou a fazer na internet acidentalmente.
“Das outras mulheres, uma tem filhos, e todas tínhamos empregos que
nos foram tirados”, disse Sasha. “Todas temos problemas, e é por isso
que estamos fazendo o que estamos fazendo. Estamos todas tentando manter
o sigilo sobre nossas identidades e, ao mesmo tempo, conquistar fãs e
ganhar algum dinheiro.”
Sasha afirmou também que faturou cerca de US$ 4 mil (aproximadamente
R$ 21,1 mil) suas apresentações online, o que a inspirou a criar uma
conta no OnlyFans, um serviço que lhe permite conquistar assinantes
diretos.
“Meu número de seguidores não para de crescer”, disse ela. “Isso me
mostrou que tenho de fazer outras coisas para faturar. Tenho de pagar
minhas contas e preciso de dinheiro para as compras”.
MAIS EXCLUSIVIDADE
O sucesso do “Respectfully Justin Show” inspirou uma série de cópias,
e muitos dos envolvidos buscam tirar vantagem de mulheres que estão
enfrentando dificuldades. Outros usuários se fazem passar por LaBoy e
Combs e pedem dinheiro às mulheres e fotos que as mostrem nuas.
“Há um milhão de páginas falsas que não são fechadas e tentam trapacear as garotas e tirar dinheiro delas”, disse Sasha.
Em 4 de abril, LaBoy decidiu que pararia de tuitar na opção aberta do
Twitter o nome da conta de Instagram da festa de cada noite, tanto por
motivos de privacidade quanto para evitar bloqueios. “É só para
convidados, agora”, escreveu ele. “Deus me livre, os farsantes e os
‘haters’ arruinaram a coisa para todo mundo.”
As dançarinas dizem que não se incomodam pelos shows atraírem menos
espectadores, desde que “os caras endinheirados” continuem a aparecer.
Não é sempre que uma delas tem a oportunidade de dançar para alguém como
Meek Mill ou Kevin Durant, e sem nem sair de casa.
Até agora, o número de espectadores não caiu muito. “Os homens
compram mesas e seções do clube, isso fica mais em conta”, disse LaBoy.
“Você pode ficar em casa, ver todo mundo que quer e gastar só US$ 5 ou
US$ 10 (R$ 21 ou R$52).”
Diversas marcas já contataram LaBoy para patrocinar seus eventos, mas
ele disse que não aceitou as ofertas até o momento e ainda está
tentando decidir o que fazer. “Estou tentando descobrir. Quando a vida
lá fora voltar ao normal, como é que algo assim vai gerar dinheiro?”,
questionou.
Sasha também falou que recebeu muitas mensagens de outras mulheres
que estão sem trabalho e encontraram sua conta no Instagram. Segundo
ela, as mulheres costumam perguntar o que precisam fazer para ganhar
dinheiro dançando online.
“As meninas perguntam como tomei coragem para fazer isso”, disse
Sasha. “E eu respondo que basta colocar a máscara de esqui e pronto”.
Urra!
F5 – Folha de São Paulo com THE NEW YORK TIMES
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