Antes de deixar o ministério da Saúde, Luiz Henrique Mandetta falou
sobre ingratidão e risco de colapso no sistema de saúde do país. As
declarações ocorreram em uma cerimônia informal para colocar a sua foto
na galeria de ex-ministros, acompanhada pelo jornal Folha de S.Paulo.
Nesta despedida privada, ocorrida algumas horas depois de o
presidente Jair Bolsonaro anunciar a sua demissão, Mandetta fez um
discurso de cerca de dez minutos para servidores e assessores, após
ouvir aplausos, cantorias e falas emocionadas de aliados.
Ele começou falando sobre a Santa Irmã Dulce, religiosa brasileira
canonizada recentemente. Por sua solicitação, um quadro da santa
católica estava colocado no local.
“Quando fui a Salvador ver o hospital da obra de Irmã Dulce, estava
com prefeito ACM Neto e ele se ajoelhou. Eu decidi ajoelhar também e
rezar para que ela iluminasse o país. E disse: Irmã Dulce, se a senhora
for santa, vou no Vaticano. Achei que ia demorar 30 anos e pagar a
promessa lá na frente, mas fui. Chegando lá, o que eu pedi foi: protege o
SUS, porque, ao proteger o SUS, a senhora protege muita gente”, disse o
já ex-ministro.
Mandetta usou do exemplo da santa para se referir ao desafio de
implementar medidas de isolamento social durante a pandemia de
coronavírus, alvo de críticas de Bolsonaro.
“A obra dela era uma obra para gente pobre, gente da rua de Salvador,
que ela nunca negou, nunca fechou a porta. Tudo o que fizemos aqui foi
pensando nos mais humildes. No dia que gente desse ministério me falou
como era o ônibus que vinha para cá, o grau de proximidade das pessoas,
vamos falar em isolamento social como? O SUS vai pagar a conta de
séculos de negligência, de favela, de falta de saneamento básico, de
falta de cuidado com o povo mais humilde que é a grande massa
trabalhadora desse país”, continuou.
“O que é falar para eles: ‘vão trabalhar, por que temos que passar
por isso rápido’? Se passar por isso rápido significa estressar muito
além do razoável o sistema de saúde”, disse Mandetta, indicando que há
risco de um colapso no SUS. “Quando a gente vê o sistema de saúde dos
Estados Unidos, quando vê Nova York em colapso, Chicago em colapso, a
gente pensa no nosso Brasil e nesse povo daqui e fala: Santa Dulce,
nossa senhora, ajuda.”
Ele expressou preocupação com o relaxamento de medidas de isolamento,
que poderiam levar a um comprometimento do sistema de saúde como visto
na Europa, e disse que idosos “não são e nunca serão descartáveis sob o
argumento da economia que for”, em uma indireta a Bolsonaro.
“O Padre Antônio Vieira falava: se tudo que fizeres pela pátria, e
ela ainda assim lhe for ingrata, não tereis feito mais do que sua
obrigação”, disse. Mandetta esteve à frente do ministério por três meses
e 16 dias.
Mandetta.
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