Um grande obstáculo nas pesquisas em busca
da cura para a infecção de HIV é que ele pode se “esconder” dentro de
células humanas, adotando uma forma latente que impede sua localização
por drogas ou pelo sistema imune. Cientistas anunciaram nesta
quarta-feira o sucesso de dois diferentes métodos para “desentocar” o
vírus da Aids, abrindo .
Os trabalhos, liderados pela Universidade da Carolina do Norte em
Chapel Hill e pela Universidade Emory, de Atlanta, ambas nos EUA,
obtiveram sucesso em reativar sinais da presença do vírus em
experimentos com macacos e camundongos.
Para tal, os pesquisadores usaram drogas que fazem com que o HIV saia
da latência e comece a produzir as proteínas que o compõem, deixando-o
exposto.
Um dos experimentos, liderado por Victor Garcia, de Chapel Hill, usou
a AZD5588, droga originalmente criada para tratamento de câncer, que
também atua numa cadeia de reações imunes.
“Essa abordagem promissora para reversão da latência — em combinação
com as ferramentas apropriadas para a liberação sistêmica da infecção
por HIV — aumenta muito as oportunidades para liberação”, escreveu o
cientista com seus coautores em estudo na revista científica Nature, que
publica o trabalho.
O outro, liderado por Guido Silvestri, sai na mesma edição,
descrevendo uma estratégia diferente. O grupo de Atlanta usou uma
combinação de drogas para, ao mesmo tempo, inibir um tipo de célula
imune que cala a atividade do vírus em sua presença (os linfócitos T
CD8) e aumenta a produção de interleucina, uma molécula que atua na
regulação da imunidade.
Os dois grupos de pesquisa interagiram e colaboraram um com o outro,
mas demonstraram cada um deles a eficácia de seus métodos em dois
modelos experimentais consagrados de pesquisa. Um deles foi a infecção
de macacos resos pelo SIV, o vírus análogo ao HIV que infecta símios. O
outro foi a infecção por HIV em “camundongos humanizados”, um tipo
especial de cobaia.
Como o HIV é capaz de infectar apenas humanos, cientistas alteraram a
medula óssea de camundongos, usando tecido humano, para que esses
roedores passassem a produzir células vulneráveis ao vírus da Aids.
Assustar e matar
E, tanto nos símios quanto nos roedores, as diferentes estratégias
para desentocar o HIV de seu esconderijo funcionaram. Os pesquisadores
manifestam esperança de que a estratégia shock and kill (provocar o
vírus para depois matá-lo) possa se tornar realidade para humanos. Um
passo importante para a transição até testes clínicos é usar
antirretrovirais para demonstrar a fase do “kill” (matar) em animais,
porque os estudos atuais se dedicaram apenas ao “shock” (assustar).
Apesar de reconhecerem que há um longo de caminho de pesquisa pela
frente, cientistas não relacionados com os dois estudos expressaram
otimismo.
Um desafio a ser enfrentado, ainda, é a habilidade do vírus de
plantar seu código genético dentro do DNA. Não está claro ainda se isso
pode sabotar as ambições dos pesquisadores na busca da cura, porque o
HIV poderia em tese se recriar a partir dos cromossomos humanos. E é
preciso saber, também, se há algum grupo de células que resiste às
terapias criadas agora para impedir o vírus de se esconder.
“A estratégia shock and kill ainda é em grande medida um conceito
teórico, não uma realidade terapêutica”, escreveu Mathias Lichterfield,
do Hospital Brigham and Women’s, de Boston, em um artigo de comentário
encomendado pela Nature. Em sua opinião, porém, os trabalhos de Garcia e
Silvestri “parecem ser as intervenções mais robustas demonstradas até
hoje para perturbar a latência dos vírus”.
Hoje, soropositivos conseguem atingir sobrevida de longo prazo, e a
infecção já vem sendo descrita por alguns médicos como uma doença
crônica tratável. Os antirretrovirais, porém, provocam a resistência do
HIV em alguns casos, e em alguns pacientes o organismo não se adapta bem
à droga no longo prazo. A busca de uma cura, por isso, ainda é
considerada uma meta de pesquisa importante.
Boa.
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