Padre Marcelo Rossi acaba de completar 25
anos de sacerdócio, mas afirma que é como se estivesse começando agora. O
pároco diz sentir uma nova disposição e um novo sentido de vida. Voltou
a lançar músicas, prepara um livro e quer se fazer cada vez mais
presente na internet e nas redes sociais, porque, na visão dele, é o
lugar em que o jovem está.
Todo esse novo entusiasmo surgiu depois que ele foi empurrado por uma
mulher durante uma missa em Cachoeira Paulista (a 212 km de São Paulo),
em 14 de julho.
Para o padre, foi um milagre o fato de não ter acontecido nada de
grave com ele, apesar da queda de quase dois metros de altura. “Bendito
empurrão. Está vendo, uma coisa que poderia ser a minha morte, se tornou
para mim uma forma de motivação. Eu só posso agradecer”, diz ele à
reportagem da Folha de São Paulo. Rossi conta que perdoou a mulher, cujo
nome não foi divulgado, logo depois do empurrão. Para a polícia, ela
disse que sofre de transtorno bipolar e passa por tratamento
psiquiátrico.
Desde o acidente, o sacerdote conta que as pessoas o têm procurado
muito mais. “Elas sempre vieram falar comigo, mas agora elas perguntam:
‘Você está bem mesmo?’ E muitas querem me tocar. Podem me tocar, não tem
problema nenhum.” O sacerdote diz também que a morte de Gugu Liberato
aos 60 anos, vítima de uma queda em sua casa em Orlando (EUA), foi outra
coisa que mexeu demais com ele e o fez valorizar ainda mais a vida.
Marcelo Rossi era um dos convidados mais assíduos do programa Domingo
Legal (SBT), no fim dos anos 1990 e início de 2000, na época comandado
pelo apresentador.
“Era para ele [Gugu] quebrar o pé, mas bateu a cabeça. Nós somos tão
frágeis. Eu fui empurrado, não tem explicação [não ter acontecido nada],
eu preciso agradecer a Deus”, reafirma. Participar de atrações da
televisão aberta -além do Domingo Legal, o sacerdote era presença
constante no Domingão do Faustão e no Planeta Xuxa, ambos da Globo- foi
essencial para o padre Marcelo Rossi popularizar as suas músicas e
alcançar o seu objetivo, segundo ele, “levar a palavra de Deus” para as
pessoas. Agora, ele quer novamente isso, mas com uma outra meta: atingir
os jovens, especialmente na faixa dos 13 aos 25 anos. O primeiro passo
nessa empreitada é usar, mais uma vez, a música.
De olho nisso, acaba de lançar nas plataformas digitais o EP “Maria
Passa à Frente” com seis músicas: “Maria Passa à Frente”, gravada em
parceria com o cantor sertanejo Gusttavo Lima; “Jesus te Deu Uma Mãe”;
“Fiel Guardião”; “Sopra em Nós”; “Colo de Mãe”; e “Rainha dos Anjos do
Céu”, esta última lançada nesta quinta-feira (19). “Agora, mais do que
nunca, eu destaco a importância da música. Quem canta reza duas vezes.
Por meio da música, você toca as pessoas”, diz. As seis canções, afirma
ele, passam a mensagem da superação dos problemas com a ajuda da fé em
Deus. Mas Rossi faz questão de ressalvar: “Eu não sou cantor, sou
padre”.
INTERNET E REDES SOCIAIS
O sacerdote diz que, com tanta informação disponível a um clique nas
redes sociais e na internet em geral, o jovem fica perdido e não sabe
distinguir o que é verdade do que é fake news. Isso não significa que
ele seja contra as redes sociais e o Google -até diz considerar a
plataforma de busca “uma bênção”. “Cada um hoje posta o que quiser como
se fosse a verdade plena… Parece um pouquinho a época em que Lutero se
separou da Igreja”, compara, citando o alemão Martinho Lutero, que foi
uma das figuras centrais da Reforma Protestante, no século 16.
Segundo Rossi, foi a partir desse movimento, que começaram a surgir
várias igrejas pelo mundo, com interpretações diferentes da Bíblia.
“Estamos conversando agora, e está sendo montada uma igreja. É
impressionante.” Para ele, a unidade da igreja católica é o grande
segredo para a sua existência ao longo dos séculos. “E é a unidade na
diversidade, isso que é o legal. Você tem diversos movimentos diferentes
[na igreja católica], é a unidade na pluralidade, na diversidade. Não a
uniformidade.
O papa, a igreja jamais pedem isso”, afirma. E é esse sentido de
identidade que ele quer passar para os jovens. Como? Com uma presença
cada vez maior nas redes sociais. No Instagram, o seu perfil oficial tem
3,3 milhões de seguidores. No YouTube, onde ele tem transmitido orações
e bênçãos ao vivo, já são 1,13 milhões de inscritos. “O meu objetivo é
abrir os olhos dos jovens a não ficar acreditando em tudo que lê, para
antes ele ver se é fato.” Quando ainda estava no início da sua vida como
sacerdote, Rossi lembra que o papa João Paulo 2º, quando esteve no
Brasil em 1997, fez um desafio aos padres brasileiros: que, sem perder a
identidade, eles fossem ao encontro dos fiéis.
Foi seguindo esse preceito, que ele resolveu frequentar programas
populares como o de Gugu e do Faustão para lançar as suas músicas. “Para
mim, Jesus tem que ser levado para todo lugar. Essa é a minha opinião, e
eu estava com o apoio dele [do papa]….Não foi fácil, imagina em 1998,
1999, 2000, meu Deus. Mas foi uma experiência de poder levar a palavra
de Deus, e a gente atingiu muitas pessoas e crianças”, afirma. Agora,
afirma o padre, é hora de encontrar novas ferramentas.
“Na linguagem de hoje, quem não se atualiza, não vai conseguir
conversar com o outro”, diz, em uma alusão à famosa frase do
apresentador Chacrinha “quem não se comunica, se trumbica”. “Hoje, com
uma rede social, você pode eleger alguém ou você pode derrubar alguém, e
isso não acontecia há 20 anos […] É um mundo novo, nós temos que
aprender, ver o que é bom e o que não é bom. Eu confesso para você, que
tenho muito a descobrir.” Além disso, ele também prepara um livro em que
pretende falar mais sobre a experiência do empurrão. “Pretendo lançar
no dia 14 de julho de 2020.”
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