“É, ficou moda, né? Eu sou uma sugar baby. Qual é o problema?”, questiona Fernanda Rizzi, assistente executiva e sugar baby.
Em inglês, “sugar baby” significa “bebê de açúcar”. A expressão é
antiga e foi criada nos Estados Unidos no início do século passado para
definir um relacionamento entre um homem mais velho e com dinheiro – o
“daddy”, “papai” – e uma jovem – a sugar baby.
Mas é tão atual que foi parar na novela “A Dona do Pedaço”. A Sabrina
era garota de programa. Fisgou o milionário Otávio e passou a chamá-lo
de: sugar daddy. “A Sabrina veio com essa história de sugar, eu acho que
uma tentativa do personagem dela, né, de dar um glamour a uma relação
antiga, ué, de estar com um homem casado”, comenta o ator José de Abreu.
“Ninguém enganou ninguém. Eles desde o início têm esse acordo muito
claro”, comenta a atriz Carol Garcia. Chegou ao ponto de a baby Sabrina
ganhar um apartamento do daddy Otávio.
Nos Estados Unidos, faz mais de dez anos que sugar babies e daddies
usam as redes sociais e sites especializados nesse tipo de
relacionamento. A americana Jennifer Lobo, filha de brasileiros, é dona
de um dos primeiros sites sugar do Brasil. “Agora tem mais de 2 milhões
de pessoas”, conta.
Babies também procuram daddies em aplicativos de paquera. Um daddy,
que não quer ser identificado, diz que é uma troca de favores entre quem
quer dinheiro e quem tem dinheiro. “Elas querem uma segurança, querem
uma coisa diferente que os meninos ou homens da idade delas não pode
fornecer”, diz.
Fernanda conta que tem um daddy francês há três anos. Ela trabalha, e ele só banca mimos de luxo: viagens, jantares, presentes.
“Qual a mulher que não gosta de ganhar uma bolsa? Hipócrita seria a
mulher que ‘ah não, eu não gosto de ganhar presente. Eu não gosto de
ganhar um sapato que eu vi na loja que custa um valor que seria o meu
salário do mês’”, diz a sugar baby.
Mas muitas vezes quem paga se sente dono da relação. Como a
empresária Marisa Araújo, que depois de três casamentos se considera uma
“sugar mommy” bem resolvida. “Eu gosto de estar no domínio porque eu
acho que quando você paga uma conta, você fica numa posição de mais
poder. Eu sempre fui assim meio mandona, meio decidida, meio dona da
situação. Já dei um celular pra ele, já dei roupa, já dei tênis que ele
gosta, daqueles de passear”, conta.
“Assim que eu penso que é um relacionamento sugar. Na hora que ela
precisa, ‘nossa, eu tô com a minha conta de luz que vai vencer, não
tenho dinheiro esse mês’, você vai lá e paga pra ela”. O daddy de uma
baby arrumou um emprego pra ela numa loja de material de construção – o
mundo sugar não é necessariamente luxo e riqueza.
“Ele me ajudou a pagar alguns boletos de cartão de crédito, me ajudou
com o meu primeiro emprego… Como eu fiquei desempregada recentemente,
ele passou a me ajudar com boletos da faculdade. Roupa, joias… Os meus
olhos não crescem em relação a isso”, conta a sugar que não quis ser
identificada.
E nem todo relacionamento sugar é de exclusividade. “Não falo para
ele de outras pessoas, ele não fala pra mim de outras pessoas, e a gente
decidiu manter assim”.
“Ele sabe que eu tenho o meu perfil em uma rede social e que eu
converso com outras pessoas e que se aparecer alguém… Eu falo: ‘é
leilão, né?’. Se aparecer quem dá mais, leva! E é verdade isso!”, diz
Fernanda.
Sites sugar pedem a garotas de programa que não se cadastrem neles.
Mas críticos desse estilo de vida acham que, na verdade, o que o mundo
sugar faz é glamourizar a prostituição, que não é crime no Brasil. O
crime é explorar a prostituição.
“Os encontros do tipo sugar são uma forma de prostituição. Tem outros
aspectos nessa relação, mas no fim das contas há uma expectativa de que
favores sexuais vão ser prestados”, afirma Haley Halverson,
vice-presidente do Centro Nacional sobre exploração sexual.
Repórter: “É prostituição ou não é prostituição?”
Jennifer: “Tem nada a ver prostituição. Você não tem que julgar uma
mulher como prostituição porque ela quer ser tratada como… Tratada bem,
como princesa, alguém que quer fazer isso pra ela. Não tem nada errado
em isso”.
“Acho que qualquer um que esteja num relacionamento sugar fica
vulnerável em termos de violência sexual, e também extorsão sexual ou
chantagem, porque a pessoa pode ficar dependente do dinheiro que está
recebendo”, explica Haley Halverson.
E, segundo uma baby que não quer aparecer, sites, redes e
aplicativos, especializados ou não, podem atrair golpistas. “Os caras só
tão querendo nudes. É muito cara prometendo muita coisa. Que não tem
condições de cumprir”, diz uma sugar baby.
“A baby não pode ver o daddy como um caixa eletrônico que a hora que
ela quer ela vai lá e saca. Como o daddy não pode ver a baby como um
produto que ele vai lá e usa a hora que ele quer”, explica o sugar
daddy.
O professor de Direito Civil Gustavo Tepedino faz outro alerta: “Se
nessa relação for constituída uma união estável, ou seja, um projeto de
vida em comum, há uma participação do sugar na metade dos bens
construídos durante a vida. Para se evitar a participação de bens, é
possível um contrato que separe os bens”.
A sugar mommy Marisa não fez contrato, nem está preocupada com isso.
Repórter: “E se se cansar…”.
Marisa: “Troca. É como um aluguel de casa: cansou, é muito melhor alugar do que vender porque, cansou do ambiente, você troca”.
Fernanda, sugar baby: “Só que isso tem um preço”.
Repórter: Qual é o preço?
Fernanda: Ou você é feliz ou você gosta de coisas sofisticadas.
Repórter: E você?
Fernanda: Eu falo que eu vivo em picos. Porque tem vezes que a gente
está junto e eu estou nos melhores restaurantes seja no Brasil, seja em
Paris, e eu não estou feliz. Mas eu quero estar ali. Aquilo de uma certa
forma me faz bem, me traz uma felicidade instantânea.
“Existe um desequilíbrio de poder entre sugar babies e sugar daddies.
Uma pessoa está entrando com todo o dinheiro, são os homens que estão
definindo como a relação funciona”, explica Haley Halverson.
Detalhe: VÍDEO COM REPORTAGEM AQUI
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