O Laboratório de Análise e Processamento de Imagens (Lapis) da
Universidade Federal de Alagoas (Ufal) indicou, pela primeira vez, um
navio suspeito de derramar óleo no Litoral do Nordeste. Uma terceira
imagem de satélite, segundo o órgão, foi crucial para se chegar a
embarcação suspeita, cuja identificação não será revelada, até que se
investigue o caso. O Lapis, no entanto, detalhou as características do
navio e do seu itinerário.
A imagem, segundo o Lapis, mostrou dois itinerários do navio, em maio
e em julho de 2019. O navio costumava fazer o trajeto de um país
asiático até a Venezuela, pela África do Sul, com o aparelho
transponder, que indica a sua localização durante o percurso,
devidamente ligado.
Todavia, as análises sobre a embarcação mostram que, no percurso do
dia 1º de julho a 13 de agosto, o itinerário do navio pelos oceanos foi
“bastante controverso”. De acordo com o Lapis, imagens do navio fazendo o
percurso com o transponder ligado e desligado foram comparadas.
Segundo o órgão, o trajeto com o aparelho desligado é “bastante
conturbado”. “É possível comparar a situação com um percurso normal da
própria embarcação (traçado verde abaixo), feito com a devida
identificação.
O navio suspeito não transmitiu, de forma regular e sem interrupções,
todas as informações de sua faixa de Automatic Identification System
(AIS, um sistema de monitoramento de embarcações usado
internacionalmente). As embarcações que não transmitem consistentemente
seu sinal de rastreamento público violam o direito marítimo
internacional. “De fato, a prática foi observada pelo navio
investigado”, diz o Lapis.
Foi registrado apenas que o navio partiu de um país da Ásia, no dia
1º de julho. O próximo ponto registrado foi na costa norte da América do
Sul, possivelmente de uma parada, na altura da Guiana, no dia 28 de
julho.
“No oceano Atlântico, o itinerário do navio foi incomum”
No Atlântico, o navio, segundo o Lapis, não parou em nenhum porto e
continuou sem identificação regular, realizando uma estranha manobra que
indica uma mudança de trajetória.
A partir da Guiana, o navio deu uma grande volta, aproximou-se do
nordeste dos Estados Unidos, em 31 de julho, e retornou pela costa
africana, tendo passado por Serra Leoa, no dia 09 de agosto. Após essa
mudança, a embarcação seguiu o percurso de volta e chegou ao seu porto
de origem, na Ásia, em 13 de agosto.
“Em nenhum momento, o navio atracou em algum porto na área marítima
que navegava. Suas poucas paradas registradas, em alto mar, mostraram um
comportamento anormal”, relata o laboratório, que complementa: “O
percurso mostra alteração na direção do navio, indicando um
comportamento suspeito ou um grande problema mecânico. É claro que ainda
será necessário aprofundar essas investigações”.
Pela análise da trajetória, o Laboratório concluiu que não houve
estabilidade no percurso da embarcação, como costumava ocorrer
normalmente em sua trajetória, desde a Ásia, seguindo pela África do
Sul, com destino ao Atlântico Norte.
“O navio suspeito possui uma tonelagem bruta duas vezes maior que o
Bouboulina [navio indicado pela Marinha do Brasil como o suspeito de
despejar óleo no litoral nordestino]. Se confirmada sua relação com o
desastre ambiental no Nordeste, esse dado pode justificar as
impressionantes seis mil toneladas de óleo já retiradas das praias da
região”.
Atualmente, o navio suspeito segue uma rota aparentemente normal,
vindo da Venezuela com destino à Singapura, com o transponder ligado.
Seu trajeto continua sendo monitorado pelo Lapis.
Lapis reforça que navio apontado pela Marinha não despejou óleo no mar do Nordeste brasileiro
O Lapis, por meio de satélite, já havia capturado uma grande mancha
de óleo no mar, com cerca de 25 km de extensão e 400 metros de largura. A
mancha pode ser bem maior, pois parte dela talvez não tenha sido
registrada pela faixa de cobertura do satélite.
O Lapis havia identificado também, a partir de três satélites
(Sentinel-1A, Aqua-Modis e NOAA-20 Viirs) uma grande mancha de óleo na
costa norte do Nordeste, a 40 km de São Miguel do Gostoso (RN).
“Somente aquela imagem foi suficiente para o Laboratório concluir que
os cinco navios gregos suspeitos, inclusive o Bouboulina, não cometeram
o desastre ambiental no Nordeste brasileiro. […] Uma reportagem do
Estadão, do último dia 13 de novembro, mostrou que a organização
norte-americana Skytruth, especializada em análises do mar, questiona as
imagens de satélites divulgadas pela Marinha e Polícia Federal”, diz o
órgão.
A análise daquela organização, que reúne empresas como Google e
Oceana, confirma as hipóteses do Lapis. Na avaliação dos especialistas
americanos, a imagem da Hex Tecnologia Geoespacial, que apoiou as
autoridades brasileiras, não indica óleo, e o navio grego Bouboulina não
originou o derramamento.
Com o avanço nas investigações, a nova mancha, localizada pelo Lapis,
desta vez, no Litoral da Paraíba, levou à identificação da provável
embarcação que derramou óleo no Litoral do Nordeste.
A bandeira da embarcação suspeita não é grega. Todos os seus dados
serão repassados, pelo Lapis, ao Senado Federal, no próximo dia 21 de
novembro. Na ocasião, haverá uma audiência pública da Comissão Externa
que acompanha as investigações sobre a poluição por óleo no Litoral do
Nordeste.
A partir das imagens de satélites localizadas, nos dias 19 e 24 de
julho, rastreamos todos os navios-tanque que transportaram óleo cru
nessas datas, pela costa leste e pela costa norte do Nordeste
brasileiro. No total, 111 navios navegaram por ali com esse tipo de
carga.
De todas as embarcações analisadas, concluiu-se que apenas uma delas
apresentou evidências de que algum incidente pode ter ocorrido durante
seu trajeto, podendo ser a provável fonte do óleo que polui o Litoral
brasileiro.
Nossa..
OP9
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