Pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) pedem que o
governo declare estado de emergência de saúde pública por causa da
contaminação provocada por manchas de óleo que atingem praias do
Nordeste. Em nota divulgada na sexta-feira, 25, especialistas alegam
riscos para “número expressivo de populações vulneráveis potencialmente
expostas” e falta de orientação sanitária.
“Existe uma situação de calamidade que requer uma intervenção
imediata, ampla, coordenada e com suporte legal do Setor Saúde”, diz o
comunicado da UFBA. “A situação de Emergência Ambiental nos estados do
Nordeste é essencial para o controle do desastre/crime identificado em
30 de agosto de 2019.”
Para justificar o pedido , os especialistas enumeram uma série de
razões. A primeira é que o óleo bruto ou petróleo apresentam “riscos
toxicológicos” que “podem levar à morte por intoxicação”. “Entre os
componentes mais tóxicos estão o benzeno, tolueno e xileno. O benzeno é
uma substância química cancerígena, pode causar má formação fetal e
patologias graves e potencialmente fatais como câncer e aplasia de
medula”, afirmam. Segundo os cientistas, a absorção dessas substância
pode acontecer desde por contato com a pele a até mesmo por inalação.
Com base em dados do Ibama, os pesquisadores calculam que as manchas
de óleo podem afetar a saúde de 144 mil pescadores artesanais. “Diante
da situação de vulnerabilidade econômica, eles não dispõem de
equipamentos de proteção individual, acesso aos serviços de saúde para
realizar exames periódicos quando há exposição crônica aos agentes
químicos, além da dificuldade de obtenção de informações e orientações
fidedignas”, afirmam.
Para os especialistas, faltam medidas sanitárias tanto para garantir a
segurança de quem consome esses pescados quanto para não prejudicar os
trabalhadores. “Por decorrência, tanto a segurança à saúde como a
alimentar não estão sendo objetos de ação eficaz da estrutura sanitária
nos níveis Federal, Estaduais e Municipais de saúde, resultando em
consequências desastrosas, a exemplo de notícias veiculadas que indicam a
suspensão generalizada do consumo de mariscos e pescados em todo
Nordeste.”
De acordo com o comunicado, a falta de recursos financeiros tem
resultado em “improvisos e práticas insuficientes para responder a
dimensão do evento”. “O apelo generalizado ao voluntarismo – mobilizando
milhares de pessoas desprotegidas para retirada das manchas de óleo,
muitas vezes manualmente e sem orientações e equipamentos necessários –
reflete a falta de recursos financeiros e humanos, associados à
fragilidade organizacional das ações de saúde”, afirma. “São homens,
mulheres, muitas gestantes e crianças tomados pela sensibilidade do
malefício desse crime ecológico, ao atuarem desordenadamente na limpeza
da praia podem se contaminar e agravar o risco de adoecimento.”
Os cientistas pedem medidas urgentes para que todas as praias e
manguezais com presença de petróleo sejam mapeadas e tenham as
atividades de mariscagem interditadas. Solicitam também que o estado de
saúde desses trabalhadores seja monitorado e que todos os pescadores e
marisqueiros atingidos recebam seguro defeso.
Outra medida, diz a nota, é organizar processos de controle
sanitário, com participação do Ministério da Saúde, para especificar “o
risco real de consumo de mariscos e pescados para população apenas em
áreas ou situações atingidas pelo desastre e proteja o consumo seguro,
evitando pânico e condutas sem fundamentos técnicos”.
Nossa.
Estadão Conteúdo
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