Jair Bolsonaro mostra ao país que tem poderes mágicos. Além de
extrair crises do nada, o presidente consegue magnificar os problemas,
transformando-os em encrencas gigantescas. Na crise com o PSL, Bolsonaro
decidiu encenar um personagem conhecido, só que as avessas. Tornou-se
um anti-imperador, uma espécie de Napoleão que se descoroa em praça
pública.
Numa manhã, o presidente diz aos repórteres que não fala em público
sobre o PSL. À noite sua voz soa em gravações captadas por hipotéticos
aliados sem o seu conhecimento. Nelas, Bolsonaro aparece tramando a
destituição do líder do partido. Queria trocar o Delegado Waldir pelo
filho Eduardo Bolsonaro. Jogou o peso da faixa presidencial numa
Operação Tabajara em beneficio da sua dinastia.
Uma guerra de listas transformou a representação do PSL na Câmara
numa bancada de fancaria. No câmbio oficial, o partido tem 53 deputados.
No câmbio negro das listas, a soma dos apoiadores de Waldir e Eduardo
deu 59, um ágio de seis cabeças. Depois de uma checagem, descobriu-se
que prevaleceu na guerra da liderança o delegado Waldir, convertido pela
conjuntura numa versão pós-moderna do Duque de Wellington, o algoz de
Napoleão.
Bolsonaro sabe como fabricar crises. Mas não sabe desfazê-las. Até a
semana passada, o presidente tinha uma mulher chamada Michelle, dois
filhos no controle dos diretórios do PSL em São Paulo e no Rio, tinha um
partido cujos deputados votavam 100% fechados com o governo e um cofre
milionário do fundo partidário para conquistar. Hoje, Bolsonaro precisa
chegar mais cedo em casa, par verificar o que foi feito de Michelle.
Depois de armar contra si mesmo uma derrota com ares de Waterloo, a
solidariedade da primeira-dama talvez seja a única coisa que restou ao
anti-imperador do Planalto.
Fato...
JOSIAS DE SOUZA
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