A cúpula do DEM articula com o grupo político ligado ao presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), uma possível fusão entre os dois partidos. Na noite de terça-feira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), disse a líderes do Centrão – bloco formado por DEM, PP, PL, Republicanos e Solidariedade – que, se o presidente Jair Bolsonaro sair mesmo do PSL, as negociações com a sigla comandada por Bivar podem avançar.
A “inconfidência” de Maia foi feita durante churrasco oferecido por ele ao deputado Alexandre Frota (SP),
que comemorava 56 anos. Frota foi expulso do PSL em agosto, após
criticar Bolsonaro, e se filiou ao PSDB. Na festa, ocorrida na
residência oficial da Câmara, estavam integrantes do chamado “PSL
bivarista”, além de políticos de outros partidos.
As conversas com a direção do DEM começaram pouco antes de a crise
entre Bolsonaro e o PSL vir a público. Um dos participantes desses
encontros contou que Bivar já pressentia um “fim tumultuado” do
relacionamento. O Estado apurou que o presidente, por sua vez, também já havia manifestado interesse de migrar para o DEM.
Em maio, na convenção do DEM, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni,
disse que Bolsonaro mirava o DEM “com o olho de quem gostaria de voltar
para casa”. Em 2005, quando era deputado, Bolsonaro foi filiado ao
então PFL, hoje DEM. O partido tem três ministros – Saúde, Agricultura e
Casa Civil.
Agora, porém, o grupo que está tratando da fusão é o de Bivar. A ala
pró-Bolsonaro tenta destituir Bivar e seus aliados para comandar a
legenda e os fundos partidário e eleitoral. Estão em jogo cerca de R$
400 milhões de repasses públicos até 2020, ano de disputas municipais. A
cifra pode chegar a R$ 1 bilhão até 2022, quando haverá eleição
presidencial. Bolsonaro somente mudará de partido se a estratégia de
“refundar” o PSL não vingar.
A crise anima o Centrão. Com cerca de 230 dos 513 deputados, esse núcleo planeja criar dificuldades para Bolsonaro “patrocinar” a formação de outra legenda, como mostrou o Estado.
Em recente reunião na Câmara, dirigentes do bloco começaram a alinhavar
as linhas gerais de um projeto que endurece a punição para deputados
que mudarem de partido. A proposta tem o objetivo de atrapalhar os
planos dos bolsonaristas, caso vingue a ideia da união entre os
bivaristas e o DEM. No caso de uma fusão, nenhum parlamentar corre o
risco de perder o mandato.
O DEM já tratou de fusão com o PSDB em um passado não muito distante,
mas as conversas não prosperaram. Dirigentes de siglas envolvidas nas
atuais negociações observaram que a chance de casamento entre o DEM e o
PSL é hoje muito maior do que a aliança com os tucanos.
Adepto da ala bivarista, um deputado do PSL disse ao Estado,
sob a condição de anonimato, que a união pode ser a saída para os
parlamentares que não concordam com Bolsonaro. Nas últimas reuniões, as
cúpulas dos dois partidos também chegaram a alinhavar como ficariam as
principais candidaturas para as próximas eleições e qual seria o nome da
nova sigla.
Em Salvador, por exemplo, DEM e PSL são aliados. Interessada em
disputar a Prefeitura de São Paulo, em 2020, e com muitas resistências
do PSL de Bolsonaro, a deputada Joice Hasselmann (SP)
já teve várias reuniões com Maia e com o presidente do DEM, ACM Neto,
para discutir uma possível filiação ao partido. Apesar de ser líder do
governo no Congresso, Joice é considerada do grupo pró-Bivar.
No caso da disputa paulistana, porém, o movimento depende de uma estratégia casada com o governador João Doria. Pré-candidato à sucessão de Bolsonaro, Doria apoia oficialmente a campanha à reeleição do prefeito Bruno Covas (PSDB).
O presidente do DEM, ACM Neto,
não quis dar detalhes sobre as negociações para a fusão com o PSL de
Bivar. “Sendo um assunto muito sério, não vou tratar disso a título de
especulação”, afirmou ele. Procurado, Maia preferiu não se manifestar.
DEM na pauta...
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