Da noite para o dia, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), de 41 anos,
se transformou de líder do governo no Congresso — e uma das
parlamentares da maior confiança do presidente Jair Bolsonaro —, em
inimiga número um de seus filhos. Destituída da liderança, a parlamentar
passou a ser achincalhada nas redes sociais, especialmente pelo
deputado Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do presidente, que se utiliza de
uma poderosa milícia digital para detonar desafetos, inclusive
integrantes do próprio governo do pai. Essa rede, segundo ela, é
composta por 21 perfis falsos no Instagram, 1.500 páginas fakes no
Facebook, e centenas de contas no Twitter, abastecidas por assessores
parlamentares, pagos com recursos públicos. Ela afirma que vai denunciar
Eduardo na comissão de ética da Câmara e na CPMI da Fake News.
Jornalista e autora de um livro sobre a biografia do ex-juiz Sergio
Moro, Joice foi a mulher mais bem votada de toda a história da Câmara,
com mais de um milhão de votos, que ajudaram Bolsonaro a ter uma votação
espetacular em São Paulo. Agora, ela está a um passo de romper com o
presidente: “Bolsonaro não tem inteligência emocional nenhuma. É abaixo
de zero”.
Quando deixou a liderança do governo no Congresso, a senhora disse
que sabia muito bem o que Bolsonaro fez no verão passado. Quais foram os
malfeitos?
Acho que o mais grave é a existência de uma rede grande na Internet,
que, desde a época da campanha, produz material para atacar pessoas, com
fake news e material para denegrir reputações. Mas quando começaram a
fazer montagens com minha imagem, como a nota de três reais, uma porca
com meu rosto, pessoas extremamente obesas com meu rosto, aquilo me
motivou a investigar. Eu peguei uma dessas imagens e disse que sabia o
que eles fizeram no verão passado. E quando eu fui ver, tudo estava no
perfil do Eduardo. Ali, ele assumiu a autoria desses memes agressivos.
Eles faziam o mesmo na campanha?
Durante a campanha existia fake news para todo o lado, da parte do
Bolsonaro, como por parte do PT. E pelo volume de posts, estava claro
que havia robôs. Mas quando os ataques começaram, já durante o governo,
contra integrantes do próprio ministério, como aconteceu no caso dos
ministros Gustavo Bebianno e Santos Cruz, que foram demitidos, eu fiquei
impressionada. No caso do Santos Cruz, tratava-se de um herói de
guerra, 46 anos amigo do presidente, e ele foi massacrado. No caso do
vice-presidente Hamilton Mourão chegaram a insinuar que ele desejava que
o presidente morresse. Tudo isso me assustou muito. E eu comecei a
pesquisar.
E de onde partiam os ataques?
Contra mim, os ataques começaram ainda na campanha, com a narrativa de
que Joice não é Bolsonaro, Joice é Doria. E espalharam isso no Brasil
inteiro. Em segundos, eles disseminam isso nas redes. E o que sabemos
até agora? Eles têm 21 perfis no Instagram, tais como Snapnaro,
Bolsonéas e Bolsofeios. Cada um desses perfis está ligado a um assessor
parlamentar de um dos três filhos do presidente , do Eduardo, do Flávio e
do Carlos. Eles já eram assessores na campanha e agora continua com
eles, mas pagos com dinheiro público. O Carlos tem assessores dessa área
de Internet lotados até em gabinetes de outros deputados.
Quem são esses deputados?
Não posso revelar porque vão ficar bravos comigo. Mas tem um deputado
muito ligado ao presidente, do PSL do Rio de Janeiro, que tem dois
desses assessores do Carlos lotados em seu gabinete em Brasília. Eles
são contratados para abastecer essas redes. No caso do Eduardo, está
lotado em seu gabinete o Dudu Guimarães. Ele é dono de um desses perfis,
o Snapnaro. O Eduardo lançou no Twitter a campanha deixe de seguir a
pepapig. E começaram a ligar minha imagem a uma porca. Quatro horas
depois, o Snapnaro publicou um Twitter com uma porca com biquíni preto
andando, e embaixo havia um texto: Joice Hasselmann indo para a
liderança. É só juntar as coisas.
Joice na pauta...
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