O presidente da República em exercício, general Hamilton Mourão,
disse hoje (24), em palestra na sede do Clube Militar do Rio de Janeiro,
que o Brasil “é um exemplo em proteção ambiental”. “Nossa matriz
energética é mais de 80% de energia limpa e renovável. A base é energia
hidrelétrica, eólica e solar. Usamos muito pouco petróleo e carvão. O
resto do mundo só tem 25% de energia renovável. Não podem nos acusar de
sermos os poluidores e os responsáveis pela redução de vida na Terra”,
disse para um público composto majoritariamente por militares da
reserva.
Mourão também elogiou o discurso que o presidente Jair Bolsonaro fez
mais cedo na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidos (ONU), em
Nova York, nos Estados Unidos. “Foi incisivo, firme, direto e soberano.
Ele disse bem: a Amazônia não é patrimônio da humanidade, é patrimônio
nosso”, avaliou o general.
Segundo Mourão, a legislação brasileira é a mais evoluída do mundo.
“Hoje, 50% da Amazônia é área preservada e protegida. É terra indígena e
área de proteção ambiental. E aliás, se somarmos todo o território no
Brasil de terra indígena e de área de proteção ambiental, temos 2,6
bilhões de quilômetros quadrados. É quase um terço do Brasil. Nenhum
país tem isso. E,no restante da Amazônia, quem tem terra só pode
explorar 20% dela”, afirmou.
Ele também disse que há países que veem a Amazônia como uma reserva
para o futuro. “Por que os Estados Unidos não invadiram o Irã ainda?
Porque as Forças Armadas do Irã são capazes de defender o país. E é o
que vai acontecer aqui também. Não adianta falar que a Amazônia é minha
se eu não tenho capacidade de defendê-la”, acrescentou.
O presidente em exercício relacionou as recentes queimadas, que
geraram preocupação em líderes políticos internacionais, ao tempo seco
comum nos meses de setembro e outubro. De outro lado, ele sugeriu que as
mudanças climáticas ainda demandam explicações.
“O clima mudou e nós sabemos disso. Mas não sabemos se essa mudança
veio para ficar ou se é uma curva da senoide na nossa passagem pelo
globo terrestre”, disse Mourão. Assim como Bolsonaro, ele avaliou
criticamente as questões fundiárias envolvendo povos indígenas. Segundo
ele, os principais conflitos são no sudeste do estado do Pará e no sul
do estado do Amazonas. “Isso se arrasta há mais de 40 anos. Gente que
veio do centro-sul ocupando a terra e depois ali foi dito que era terra
indígena. Então tem lugares onde vivem 4 mil famílias e 150 indígenas.
Mas aquilo virou terra indígena.”
Geopolítica mundial
Mourão dedicou boa parte do tempo da exposição para fazer avaliações
sobre a geopolítica e economia mundial. Segundo ele, até 2030, a China
pode se tornar responsável por até 50% do Produto Interno Bruto (PIB)
mundial. “Na China não há Ministério Público, não há Ministério do Meio
Ambiente. Se querem construir uma estrada em uma distância como daqui do
Rio para Angra dos Reis, eles começam a construção e quem estiver na
frente sai. Dessa forma funciona lá.”
Ele também afirmou que o último período democrático da Venezuela
acabou em 1998 com a eleição do presidente Hugo Chávez, que classificou
de ditador. Ao mesmo tempo, Mourão disse que não há condições para uma
solução militar partindo do território brasileiro, uma vez que, ao
entrar no país vizinho, seria preciso atravessar 600 quilômetros em um
território de mata. “Quantas manobras logísticas nisso aí? É inviável e é
fora daquilo que nós pensamos. Nós não intervimos em assuntos internos
de outro país”, acrescentou.
De outro lado, o general defendeu que seja feita pressão política,
diplomática e econômica. Segundo Mourão, o governo Nicolás Maduro se
sustenta com apoio estrangeiro. Ele acusou Cuba de manter no país entre
20 mil e 25 mil pessoas atuando em sistemas de inteligência e no
controle de milícias. Também disse que a Rússia dá suporte ao país em
resposta aos Estados Unidos, que são responsáveis pela posição de tropas
da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Leste Europeu.
“Em primeiro lugar, precisamos tirar os cubanos de lá. Como vamos
fazer isso? Eu tive oportunidade de conversar com o vice-presidente dos
Estados Unidos sobre esse assunto. Cuba recebe 120 mil barris de
petróleo por dia da Venezuela. Ela não usa isso, ela vende. Alguém tem
que chegar nela e fazer um acordo. E quem é esse alguém? Uma potência,
que tem a primazia. Vai dizer pra Cuba: você vai continuar recebendo os
120 mil barris, mas tira seu povo da Venezuela”, sugeriu.
Desenvolvimento
O presidente em exercício também defendeu o diálogo entre os países
do Mercosul e afirmou que o Brasil precisará da Argentina,
independentemente de quem ganhe as eleições no país marcadas para o
próximo mês. A disputa envolve o atual presidente Maurício Macri, que
conta com o apoio público de Bolsonaro, e Alberto Fernández, cuja vice é
a ex-presidente Cristina Kirchner.
“A Argentina é nosso terceiro parceiro comercial. Uma das causas da
quedas na projeção do PIB do Brasil para este ano é que a nossa
manufatura exporta para a Argentina, e a Argentina não está comprando.
Então faz parte manter as negociações”, disse Mourão.
Na palestra, o presidente em exercício sustentou que o
desenvolvimento do Brasil passa por diversas medidas, entre as quais as
reformas tributária e da Previdência, contenção de gastos e
privatizações. Ele relacionou o desequilíbrio das contas públicas aos
últimos governos e também a previsões constitucionais. “Tudo começa na
Constituição de 1988. Uma Constituição parlamentarista em sua essência
para um regime presidencialista. Uma Constituição que previa um sistema
de bem-estar social padrão sueco, para um país latino-americano ainda
emergindo. Benesses para todos sem olhar se no futuro haveria recursos
para pagar essas benesses.”
Mourão também deixou claro seu posicionamento contrário à
concentração pela Petrobras das atividades de refino e distribuição e
defendeu a exportação de tecnologia agrícola para mercados da África e
da Ásia. “Os países mais desenvolvidos chegaram ao seu teto. Atingiram
aquilo que os economistas modernos chamam de japanização. O Japão também
parou de crescer. E temos um grande país ao sul do Equador com espaço
de manobra para avançar. É o nosso momento.”
Mourão...
Agência Brasil
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