O colombiano
Guillermo Amaya Ñungo, de 55 anos, preso pela Polícia Federal em
Fortaleza no dia 17 deste mês, é ex-guerrilheiro das Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (Farc) e era procurado pelas autoridades do
seu país de origem e dos Estados Unidos. Ele é apontado como chefe de
uma organização criminosa especializada no tráfico internacional de
drogas.
A prisão
ocorreu quando Guillermo chegava a uma escola no Bairro Messejana para
buscar a filha adolescente. Policiais federais cumpriram um mandado de
prisão para extradição, decretado pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
após pedido da Justiça norte-americana.
Com ele, foi
apreendido um documento de identificação falso, no nome de José Jesus
Rodríguez Hernandez, como se apresentava no Brasil.
O chefe da
Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), delegado Samuel Elânio,
relata que a Polícia Federal no Ceará recebeu a informação sobre a
suspeita da presença do colombiano uma semana antes da prisão, após
investigações da Coordenação de Repressão a Entorpecentes da PF em
Brasília e do Drug Enforcement Administration (DEA, ou Órgão para
Combate das Drogas, em inglês), do Departamento de Justiça dos Estados
Unidos.
"Nós tínhamos o
nome verdadeiro dele e também o falso. Com o nome falso, conseguimos
pegar o trânsito dele pelo país, pela via aérea e pela fronteira.
Identificamos pessoas que estavam com ele, seja com o nome verdadeiro ou
falso, e também deu o direcionamento para onde irmos. Mesmo com o nome
falso, ele tinha algumas cautelas", pontua.
Morada no Brasil
De acordo com o
delegado, o colombiano, usando o nome falso, entrou a pé no Brasil pelo
município de Pacaraima, em Roraima, na fronteira com a Venezuela. Ao
ser interrogado pela PF, o preso disse que estava em Fortaleza há três
meses. Ele residia em um duplex de luxo, no Bairro Lagoa Redonda, na
companhia da esposa e de duas filhas.
Questionado por
que morava no Ceará, ele respondeu que fugiu da Venezuela, onde teria
sido sequestrado e extorquido por outros criminosos. O colombiano não
explicou como mantinha a vida de alto padrão na capital cearense e
alegou que estava com dificuldades financeiras. A investigação
identificou que o homem recebia ajuda de outras pessoas no país,
principalmente venezuelanos que estão em outros estados brasileiros.
Guillermo está
preso na Superintendência da Polícia Federal no Ceará e está à
disposição da Justiça norte-americana. A PF instaurou um inquérito para
investigar o crime de falsa identidade, que será apurado
independentemente da extradição.
Grupo de guerrilha
O delegado
Elânio afirma que não há notícias de crimes cometidos por Guillermo
Ñungo no Brasil. O colombiano foi membro das Farc e atuou também em um
grupo de guerrilha na Venezuela, de onde enviava drogas para Estados
Unidos, México e Nicarágua.
As Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) foram criadas em 1964 como um
grupo guerrilheiro que tinha o objetivo de implantar o socialismo
naquele país. Mas a atuação do Exército Nacional, com apoio dos Estados
Unidos, enfraqueceu o movimento.
Para se equipar
militarmente, as Farc começaram a praticar sequestros de autoridades e
tráfico de drogas, principalmente de cocaína, o que desgastou a imagem
da organização para o povo colombiano.
Tráfico de drogas
O Tribunal do
Distrito Leste do Texas, nos Estados Unidos, determinou a prisão de
Guillermo em 15 de outubro de 2009, por enviar cocaína com frequência
para o país.
O traficante
transportou 1,6 tonelada de cocaína a bordo de uma aeronave registrada
nos Estados Unidos, da Venezuela para Honduras, em 16 de abril de 2014,
para depois levar a terras norte-americanas.
Guillermo foi
preso em outubro de 2003, na Nicarágua, com mais quatro colombianos, em
uma oficina mecânica de fachada que era utilizada como uma fábrica de
armazenar, preparar e embalar drogas. Conforme a imprensa da Nicarágua,
Guillermo era o proprietário de vários veículos apreendidos na operação
policial e de uma extensa fazenda.
O grupo
colombiano estaria financiando obras da Prefeitura de San Marcos, como a
construção de um depósito de lixo, e um clube de futebol da primeira
divisão do país; e não pagava impostos sobre propriedades. Em janeiro de
2004, os suspeitos foram soltos pela Justiça da Nicarágua.
Traficantes no Ceará
Líder de cartel do México foi preso com documento falso na Grande Fortaleza — Foto: Arquivo pessoal
Guillermo Ñungo
não é o primeiro traficante internacional de drogas localizado no
Ceará. O mexicano Jose Gonzalez Valencia foi detido pela PF em um parque
aquático em Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), quando
estava acompanhado da família, em 27 de dezembro de 2017.
Já Rogério
Jeremias de Simone, o "Gegê do Mangue", e Fabiano Alves de Souza, o
"Paca", dois chefes de uma facção criminosa brasileira, foram
descobertos apenas após serem executados, também em Aquiraz, em 15 de
fevereiro de 2018. Eles já estavam instalados com familiares no Ceará.
O delegado
Samuel Elânio reconhece que a presença desses criminosos no Ceará "é uma
preocupação". "A gente se pergunta, já imaginando uma resposta, 'por
que Fortaleza?'. É uma cidade linda, mas tem outros cantos no mundo e no
Brasil bonitos também. A gente trabalha com essa vertente de que pode
estar havendo uma rede de tráfico de drogas muito pesada aqui no Ceará. É
isso que a gente quer descobrir e evitar. Eu não acredito que seja só
um paraíso para os criminosos se esconderem, pode ser que tenha algo a
mais", analisa.
A PF não
descarta a relação entre esses traficantes internacionais que aqui
estiveram. "Todos esses casos, pontualmente, estão sendo investigados.
Se a gente vai chegar a um denominador comum, eu não sei. Nada impede de
não terem relação alguma, mas (é possível) que todos tenham o mesmo
objetivo e não se digladiarem".
PF em ação...
G1 CE
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