Água foi descoberta pela primeira vez na atmosfera de um planeta
extrassolar, ou seja que orbita uma estrela que não nosso Sol, com
temperaturas semelhantes as da Terra que poderiam sustentar a vida como a
conhecemos, segundo anunciaram cientistas na quarta-feira.
Duas vezes maior que a Terra e com oito vezes a sua massa, o K2-18b
orbita na “zona habitável” de sua estrela à distância — nem muito longe
nem muito perto — onde a água pode existir em forma líquida, disseram os
cientistas à revista Nature Astronomy .
— Este planeta é o melhor candidato que temos fora do nosso sistema
solar [na busca por sinais de vida] — disse a astrônoma da University
College London e co-autora do estudo, Giovanna Tinetti. — Não podemos
afirmar que haja oceanos na superfície, mas é uma possibilidade real.
Dos mais de 4.000 exoplanetas detectados até o momento, este é o
primeiro conhecido a combinar uma superfície rochosa e uma atmosfera com
água. A maioria dos exoplanetas com atmosferas são bolas gigantes de
gás, e os poucos planetas rochosos parecem não ter atmosfera. Mesmo se
tivessem, a maioria dos planetas semelhantes à Terra está muito longe de
suas estrelas para ter água líquida ou tão próximo que a água teria
evaporado.
Descoberto em 2015, o K2-18b é uma das centenas de chamadas
“super-Terras” — planetas com até dez vezes a massa da nossa — detectada
pela sonda Kepler da NASA. Espera-se que missões espaciais futuras
detectem mais centenas nas próximas décadas.
Condições
— Encontrar água em um mundo potencialmente habitável que não seja a
Terra é incrivelmente emocionante — disse o principal autor da pesquisa,
Angelos Tsiaras, também da UCL.
Trabalhando com dados espectroscópicos (que medem a interação entre a
radiação eletromagnética e a matéria) capturados em 2016 e 2017 pelo
Telescópio Espacial Hubble, Tsiaras e sua equipe usaram algoritmos de
código aberto para analisar a luz das estrelas filtrada na atmosfera do
K2-18b. Eles encontraram a assinatura inconfundível de vapor de água.
Exatamente quanta água ainda é incerto, mas os modelos por computador
sugerem concentrações entre 0,1% e 50%. Em comparação, a porcentagem de
vapor de água na atmosfera da Terra varia entre 0,2% acima dos pólos e
até 4% nos trópicos.
Também havia evidências de hidrogênio e hélio. Nitrogênio e metano
também podem estar presentes, mas com a tecnologia atual não é possível
detectar, disse o estudo.
Mais pesquisas serão capazes de determinar a extensão da cobertura de nuvens e a porcentagem de água na atmosfera.
A água é crucial na busca pela vida, em parte porque transporta oxigênio.
— A vida como conhecemos é baseada na água—, disse Tinetti.
Busca
K2-18b orbita uma estrela anã vermelha a cerca de 110 anos-luz de
distância — um milhão de bilhões de quilômetros — na constelação de Leão
da Via Láctea, e provavelmente é bombardeado por radiação mais
destrutiva que a Terra.
— É provável que esta seja a primeira de muitas descobertas de
planetas potencialmente habitáveis— disse o astrônomo da UCL Ingo
Waldmann, também co-autor do estudo.
Segundo ele, isso não é apenas porque super-Terras como K2-18b são os
planetas mais comuns em nossa galáxia, mas também porque anãs vermelhas
— estrelas menores que o nosso Sol — são as estrelas mais comuns.
A nova geração de instrumentos de observação espacial, liderados pelo
Telescópio Espacial James Webb e pela missão Ariel, da Agência Espacial
Européia, será capaz de descrever as atmosferas de exoplanetas com
muito mais detalhes.
Ariel, prevista para um lançamento em 2028, exibirá cerca de 1.000
planetas, uma amostra grande o suficiente para procurar padrões e
identificar discrepâncias.
— Mais de 4.000 exoplanetas foram detectados, mas não sabemos muito
sobre sua composição e natureza — disse Tinetti. — Observando uma grande
amostra de planetas, esperamos revelar segredos sobre sua química,
formação e evolução.
Cientistas na pauta...
O Globo
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