A cena de abertura do livro de memórias de Rodrigo Janot, que será
lançado em duas semanas, mostra o então vice-presidente Michel Temer
pedindo a Janot, em março de 2015, que ele não investigasse Eduardo
Cunha, recém-eleito na época para a Presidência da Câmara.
Em Nada menos do que tudo , escrito pelos jornalistas Jailton de
Carvalho e Guilherme Evelyn, Janot conta que estava almoçando em sua
churrascaria favorita em Brasília quando recebeu um telefonema. Era a
secretária da Vice-Presidência. Temer queria vê-lo no Palácio do Jaburu.
Ao chegar ao Jaburu, Janot conta ter sido recebido por Temer e por
Henrique Eduardo Alves e levado para uma varanda coberta do palácio.
“Eu chamei o senhor aqui porque quero conversar não com o
procurador-geral da República, mas com um brasileiro preocupado com o
Brasil, com um patriota”, teria dito Temer.
Em seguida, sem meias palavras, Henrique Alves disse a Janot que ele não poderia investigar Cunha:
“Cunha é um louco, pode reagir de forma imprevisível e colocar o
Brasil em risco. Confiamos no senhor como brasileiro e como patriota
para manter a estabilidade do país”, disse Alves, na versão de Janot.
Janot afirma ter se virado para Michel Temer e o questionado:
“O senhor é do Direito, a minha área, ele (Henrique Alves) não é. O
senhor está entendendo a gravidade do que ele está propondo ao
procurador-geral da República?”, perguntou Janot.
“Ele está propondo ao patriota Rodrigo Janot. Esse homem é muito
perigoso, e a gente não sabe quais as consequências que poderão vir
dele. Então apelamos para que o senhor não leve a cabo essa
investigação, que a arquive”, teria pedido Temer.
Com palavrões, Janot conta no livro ter sido duro com a dupla:
“Olha, vice-presidente, eu acho isso muito complicado. Na verdade,
não consigo separar a figura do patriota da figura do procurador-geral. O
que os senhores estão me propondo aqui é que eu cometa um crime de
prevaricação. Isso eu não farei jamais. E muito me estranha que o
vice-presidente da República e o ex-presidente da Câmara dos Deputados
venham fazer uma proposta indecorosa dessas ao procurador-geral da
República. Estou chocado com a ousadia de vocês. Os senhores são
responsáveis por esse homem estar assumindo a Câmara. Os irresponsáveis
são vocês. Vocês é que são os não patriotas. Como é que vocês fizeram
uma merda dessas?”.
Nossa.
Guilherme Amado – Época
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