A Prefeitura de Canguaretama, no Litoral Sul Potiguar, desviou mais de R$ 4 milhões
em recursos do Fundeb para finalidades diversas da prevista em lei,
segundo aponta um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU). O
documento indica que, entre 2016 e 2017, a verba foi transferida para
contas de livre movimentação pela Prefeitura, enquanto deveria ter sido
empregada exclusivamente em ações de manutenção e desenvolvimento do
ensino básico.
Criado em 2007, o Fundeb é um programa federal no qual são
administrados recursos para custear o ensino no País. Na prática,
impostos e outras contribuições de estados e municípios são depositados
em um fundo gerenciado pelo governo, que contribui com uma parte (10% do
bolo) e redistribui a receita de acordo com a demanda dos entes
federados.
A CGU constatou que, entre 1º de janeiro de 2016 e 31 de agosto de
2017, a Prefeitura de Canguaretama recebeu R$ 34,5 milhões em recursos
do Fundeb. Desse total, R$ 9,7 milhões foram transferidos para a conta
corrente da Prefeitura que deveria ser abastecida apenas com outros dois
tipos de receita: o Fundo de Participação dos Municípios e os repasses
de cotas do ICMS. O desvio representa 28% do total das transferências do
Fundeb para a prefeitura no período.
Em ofício enviado à auditoria, a gestão municipal admitiu os desvios,
mas disse que as movimentações não devem ser interpretadas como
“desvios de finalidade”.
“Em face da escassez de recursos por que passam os municípios
brasileiros, é razoável que em algumas datas do mês algumas contas
bancárias não tenham saldos suficientes para atender as despesas a ela
vinculadas, forçando o gestor procurar alternativas legais para saldar
os compromissos da entidade. Esta administração usou dessa estratégia,
através de recursos do Fundeb, devolvendo esses valores nas
oportunidades seguintes que se apresentavam favoráveis”, escreveu a
prefeitura.
A gestão da prefeita Fátima Marinho acrescentou que, além de os
recursos terem sido devolvidos posteriormente, o dinheiro desviado para
outra conta foi usado para pagar contribuições previdenciárias dos
próprios profissionais de ensino.
No relatório de auditoria de utilização de recursos federais, a CGU
registra que a movimentação de recursos do Fundeb para outras contas,
independentemente da devolução posterior, é ilegal. Além disso, o órgão
identificou que nem todos os valores foram devolvidos pela prefeitura e
que registros mostram que não há elementos que comprovem a utilização
das verbas para pagamento de compromissos previdenciários, apesar da
alegação do Município.
“Vale observar que, conforme demonstrado nas tabelas dos valores
refutados, a Prefeitura apresentou comprovantes em duplicidade e, até
mesmo, computou por três vezes um mesmo valor”, complementa a CGU.
Com isso, a Controladoria-Geral da União conclui que, no período
analisado, houve desvio de R$ 4,3 milhões. A cifra corresponde à
diferença entre os R$ 9,7 milhões movimentados indevidamente pela
Prefeitura e os R$ 5,3 milhões devolvidos de outras contas correntes
para a conta específica do Fundeb, do que houve comprovação.
A vereadora Adriana Albuquerque (sem partido) critica a gestão
municipal. Segundo ela, há irregularidades em vários setores da
Prefeitura de Canguaretama, como em contratos firmados pelas
secretarias. “Existe má-fé, desorganização, tudo junto. É um conjunto de
fatores que estão fazendo com que Canguaretama se acabe. O povo está
desacreditado. Ninguém acredita mais em nada. Nosso município está à
deriva, pela irresponsabilidade da atual gestão”, opinou, em contato com
a reportagem do Agora RN.
Nesta quarta-feira, 31, Adriana
participou do programa “A hora é agora”, da rádio Agora FM (97,9), e
também falou sobre o assunto. “A palavra que pode definir o sentimento
do nosso povo é desesperança”, assinalou, na ocasião.
No ano passado, a Câmara Municipal de Canguaretama chegou a abrir um
procedimento para apurar a conduta da prefeita Fátima Marinho e as
irregularidades apontadas pela CGU. Vereadores defenderam, à época, o
impeachment da gestora. Após uma liminar da Justiça, contudo, o processo
foi suspenso.
“Um dia antes da votação, no apagar das luzes, a prefeita conseguiu
uma liminar (decisão provisória) alegando cerceamento de defesa. Mas não
houve. O próprio advogado deixou para se manifestar apenas nas
alegações finais do processo na Câmara. Com uma manobra, paralisaram os
trabalhos. Está engavetado, até porque a Câmara também não recorreu”,
encerrou Adriana.
Bronca...
AGORA RN
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