A Polícia Federal indiciou nesta segunda-feira (1º) um assessor
especial do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, dois
ex-auxiliares e quatro candidatas do PSL de Minas Gerais sob suspeita de
participação em esquema de candidaturas de laranjas para desviar verba
pública da legenda.
Os suspeitos (o número de implicados pode ser maior, já que o caso
está sob sigilo) foram indiciados sob suspeita dos crimes de falsidade
ideológica eleitoral, apropriação indébita de recurso eleitoral e
associação criminosa —com pena de cinco, seis e três anos de cadeia,
respectivamente.
A investigação sobre as candidaturas de laranjas do PSL, partido do
presidente Jair Bolsonaro, começou após a Folha revelar, em reportagens
publicadas desde fevereiro, a existência de um esquema que direcionou R$
279 mil em verbas públicas do PSL para quatro candidatas do partido em
Minas.
Apesar de figurarem no topo do ranking das que nacionalmente mais
receberam esse tipo de verba, elas tiveram, juntas, apenas cerca de
2.000 votos —indicativo de que não houve campanha real.
Parte desse dinheiro foi parar em empresas ligadas ao gabinete de
Álvaro Antônio, na época deputado federal, presidente do PSL estadual e
coordenador da campanha de Bolsonaro em Minas.
Mateus Von Rondon, assessor especial e braço direito do ministro,
Roberto Soares e Haissander de Paula, ex-assessores e que coordenaram a
campanha do político no Vale do Aço de Minas, foram presos na
quinta-feira (27), ocasião em que houve busca e apreensão em suas
residências.
A Justiça ordenou a soltura dos três nesta segunda-feira, último dia da prisão temporária de cinco dias.
A suspeita da Polícia Federal é a de que as candidaturas e o serviço
eleitoral declarado pelas quatro candidatas não tenham passado de
simulação, com o intuito de desviar dinheiro público do PSL.
As quatro candidatas —Lilian Bernardino, Naftali Tamar, Debora Gomes e
Camila Fernandes, candidatas do Vale do Aço e de Curvelo— foram
chamadas a prestar novo depoimento nesta segunda, mas permaneceram
caladas.
Apesar do indiciamento, a PF ainda não concluiu as investigações, que
prosseguem. Futuramente, caberá ao Ministério Público analisar o
material e decidir se oferece denúncia à Justiça.
O presidente Bolsonaro afirmou durante viagem ao Japão que determinou
ao ministro da Justiça, Sergio Moro, a investigação de candidaturas
laranjas em outros partidos. O caso foi discutido pelo presidente em
reunião com o ex-juiz nesta segunda.
Em buscas realizadas pela PF em Minas Gerais no final de abril, os
policiais não encontraram nas empresas nenhum documento que indicasse
que elas de fato prestaram os serviços declarados pelas mulheres à
Justiça Eleitoral.
Outras candidatas do PSL passaram a acusar publicamente Álvaro
Antônio de patrocinar o esquema, entre elas a deputada federal eleita
Alê Silva (PSL-MG), que disse ter recebido relatos de ameaça de morte
vinda do ministro.
Dezenas de pessoas foram ouvidas pelos investigadores. Entre elas um
contador do partido que afirmou que cuidou da parte contábil da
prestação de contas das candidatas investigadas a pedido de um irmão de
Marcelo, Ricardo Teixeira.
Relatório do Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras)
também apontou operações atípicas em contas bancárias de Álvaro Antônio
—R$ 1,96 milhão de fevereiro de 2018 a janeiro de 2019.
Além de Minas, a Folha revelou a existência do esquema também em
Pernambuco, terra do presidente nacional da legenda de Bolsonaro, o
deputado federal Luciano Bivar.
A repercussão do caso resultou na demissão do coordenador da campanha
de Bolsonaro, Gustavo Bebianno, que presidiu o PSL nacionalmente em
2018.
Na época, o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência negou
em entrevista que o caso das laranjas do PSL tivesse desencadeado uma
crise entre ele e Bolsonaro.
O presidente e um de seus filhos, o vereador Carlos, disseram que era
mentira a informação divulgada pelo então ministro sobre ele ter
conversado com Bolsonaro sobre esse tema. Bebianno acabou demitido dias
depois.
Ele afirma que jamais teve contato com as candidatas laranjas e que
os repasses do partido a elas, tanto em Minas quanto em Pernambuco,
foram de responsabilidade dos diretórios dos respectivos estados, versão
corroborada posteriormente por Bivar e Álvaro Antônio.
Em diversas manifestações, o ministro do Turismo sempre negou
irregularidades e acusou a Folha de promover uma perseguição
político-partidária contra ele. Ele afirma que a distribuição do fundo
partidário do PSL de Minas Gerais cumpriu rigorosamente o que determina a
lei e que confia no trabalho isento, sério e justo das autoridades que
investigam o caso.
A defesa de Von Rondon disse que ele já prestou os esclarecimentos e
que sua prisão teve o único intuito de colher seu depoimento. Roberto
Soares e Haissander de Paula também sempre negaram ter promovido esquema
de candidaturas de laranjas.
Das quatro candidatas indiciadas, apenas Débora já se posicionou
sobre o caso à Folha nos últimos meses, quando negou ter sido candidata
laranja. As demais não se manifestaram.
E tome "laranjas"...
Folhapress
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