A Polícia Federal afirmou, por meio de nota, que caberá à Justiça,
“em momento oportuno, definir o destino do material” apreendido na
terça-feira (23) com suspeitos de agirem como hackers.
A manifestação menciona entendimento da lei e contradiz o ministro da
Justiça, Sergio Moro, que, conforme mostrou a Folha, avisou a
autoridades na tarde desta quinta-feira (25) que as mensagens capturadas
pelo grupo preso pela PF seriam destruídas.
O presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), João Otávio
Noronha, afirmou à Folha que a informação foi dada pelo próprio ministro
por telefone.
“As mensagens serão destruídas, não tem outra saída. Foi isso que me
disse o ministro e é isso que tem de ocorrer”, disse o presidente do
tribunal. A comunicação foi confirmada à reportagem pela assessoria de
Moro.
O descarte de qualquer material apreendido em operações policiais é
uma decisão que cabe à Justiça e só pode ocorrer com decisão do juiz.
Na nota, a PF disse ainda que a operação deflagrada nesta semana não
tem “como objeto a análise das mensagens supostamente subtraídas de
celulares invadidos”.
A polícia também afirmou que “o conteúdo de quaisquer mensagens que
venham a ser localizadas no material apreendido será preservado, pois
faz parte de diálogos privados, obtidos por meio ilegal”.
Além de Noronha, outras autoridades tiveram seus celulares atacados
pelo grupo, entre elas os presidentes da Câmara e do Senado e ministros
do STF (Supremo Tribunal Federal).
Para a Polícia Federal, Walter Delgatti Neto, um dos quatro presos
pela PF na terça-feira, foi a fonte do material que tem sido publicado
desde junho pelo site The Intercept Brasil com conversas de autoridades
da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.
Conforme revelou a Folha, Delgatti disse à PF que encaminhou as
mensagens ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do site, de forma
anônima, voluntária e sem cobrança financeira.
Em depoimento ao Senado no dia 19 de junho, Moro defendeu que o site
Intercept Brasil, que divulgou as mensagens, entregasse o material para
ser periciado.
“Pega o material e entrega para uma autoridade, sem prejuízo da
publicação das matérias. Aí vai se poder verificar por inteiro esse
material, o contexto no qual ele foi inserido e principalmente verificar
se esse material é autêntico ou não. Porque até agora não temos nenhuma
demonstração da origem desse material”, declarou Moro na ocasião.
ENTENDA A OPERAÇÃO
Qual o resultado da operação da PF? Nesta terça (23), quatro pessoas
foram presas sob suspeita de hackear telefones de autoridades, incluindo
Moro e Deltan. Foram cumpridas 11 ordens judiciais, das quais 7 de
busca e apreensão e 4 de prisão temporária nas cidades de São Paulo,
Araraquara (SP) e Ribeirão Preto (SP). Os quatro presos foram
transferidos para Brasília, onde prestariam depoimento à PF
As prisões têm relação com as mensagens trocadas entre Moro e
procuradores da Lava Jato divulgadas desde junho pelo site The Intercept
Brasil? Walter Delgatti Neto, um dos suspeitos presos na operação de
terça, afirmou em depoimento que encaminhou as mensagens que obteve ao
jornalista Glenn Greenwald, fundador do site, de forma anônima,
voluntária e sem cobrança financeira. Não há até agora indício de que
tenha havido pagamento pelo material divulgado, segundo investigadores.
Como a investigação começou? O inquérito em curso foi aberto em
Brasília para apurar, inicialmente, o ataque a aparelhos de Moro, do
juiz federal Abel Gomes, relator da Lava Jato no TRF-2 (Tribunal
Regional Federal da 2ª Região), do juiz federal no Rio Flávio Lucas e
dos delegados da PF em São Paulo Rafael Fernandes e Flávio Reis. Segundo
investigadores, a apuração mostrou que o celular de Deltan também foi
alvo do grupo.
Quando Moro foi hackeado? Segundo o ministro afirmou ao Senado, em 4
de junho, por volta das 18h, seu próprio número lhe telefonou três
vezes. Segundo a Polícia Federal, os invasores não roubaram dados do
aparelho. De acordo com o Intercept, não há ligação entre as mensagens e
o ataque, visto que o pacote de conversas já estava com o site quando
ocorreu a invasão.
Moro.
Folhapress
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