Walter Delgatti Neto, o ‘Vermelho’, disse, em depoimento, nesta
sexta-feira, 26, que repassou conversas da Lava Jato ao editor Glenn
Greenwald, do The Intercept, de forma não remunerada. Ele diz ter pedido
à ex-deputada federal Manuela D’ Ávila (PC do B) o contato do
jornalista. O relato dele à Polícia Federal foi revelado pela GloboNews.
Segundo fontes ligadas à investigação, a informação relatada pelo
hacker sobre Manuela D’Ávila está correta. Ela está em Londres e deve se
manifestar por meio de nota ainda nesta sexta.
Segundo ‘Vermelho’, em março de 2019, ele teria descoberto a maneira
com a qual hackeou autoridades. À PF, Delgatti diz ter invadido o
aplicativo Telegram de um promotor de Araraquara que o denunciou por
tráfico, envolvendo apreensão de remédios em sua casa.
A partir da conta do promotor, acessou um grupo de Procuradores da
República. Em seguida, teria acessado o ex-procurador-geral Rodrigo
Janot, e, em seguida, de três procuradores da força-tarefa da Lava Jato,
como o coordenador Deltan Dallagnol.
‘Vermelho’ diz acreditar que as mensagens de Telegram não podem ser
alteradas em razão do ‘formato’ do aplicativo. O hacker afirma ter
invadido também celulares de procuradores da Operação Greenfield, mas
não encontrou irregularidades.
No depoimento, ‘Vermelho’ declarou que ligou para Manuela D’Ávila no
dia das Mães, relatou que ‘possuía o acervo de conversas do Ministério
Público Federal contendo irregularidades’ e pediu o número de Glenn. O
hacker contou que a ex-deputada não estava acreditando, então, ele
decidiu mandar a ela uma gravação de áudio entre os procuradores Orlando
e Januário Paludo, da força-tarefa da Lava Jato.
À PF, ‘Vermelho’ disse que 10 minutos após ter enviar o áudio à
Manuela, recebeu uma mensagem de Glenn no Telegram. Segundo o hacker, o
jornalista disse ter interesse público no material.
Ele narrou que repassou a Glenn os conteúdos das contas de Telegram
que havia acessado. ‘Vermelho’ disse que o acervo era muito grande e,
por isso, resolveu criar uma conta no Dropbox para enviar o material e
repassou a senha para Glenn.
De acordo com o hacker, ele nunca passou seus dados pessoais para
Glenn e não o conhece. ‘Vermelho’ afirmou não ter recebido qualquer
valor ou vantagem em contrapartida pelo material disponibilizado.
No depoimento, segundo a Globonews, ‘Vermelho’ declarou que não
editou o conteúdo das contas de Telegram que teve acesso. À PF, ele
disse que a partir da agenda do Telegram do procurador Deltan Dallagnol,
teve acesso aos números telefônicos do ministro Sérgio Moro, do
desembargador do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), Abel
Gomes, e do juiz federal Flávio Lucas, da 18ª Vara Federal do Rio.
‘Vermelho’ afirmou que não acessou o conteúdo do Telegram de Sérgio Moro
e dos magistrados federais.
A reportagem tenta contato com Manuela D’Ávila. O espaço está aberto para manifestação.
Manuela foi a vice na chapa do Haddad em 2018.
Estadão Conteúdo
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