No Município de Patu, Rio Grande do Norte, encontramos a
cavidade natural conhecida como Casa de Pedra de Patu. Na segunda
metade do século XIX este local passou a ser utilizado como abrigo pelo
cangaceiro Jesuíno Brilhante e seu bando.
Esta cavidade natural passou a ser citada por folcloristas,
historiadores e pessoas que pesquisam o cangaço e a vida deste
cangaceiro, porém nunca havia sido abordada em um estudo que integrasse o
lado histórico-cultural, com a sua relevância em relação ao patrimônio
espeleológico nacional.
Esta lacuna começou a ser preenchida em abril de
1998 pela organização não governamental de pesquisas espeleológicas
SEPARN-Sociedade para Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental do Rio Grande
do Norte, que iniciou uma série de levantamentos espeleológicos na
gruta e seu entorno, tendo as pesquisas continuado em visitações
ocorridas respectivamente em fevereiro de 2002, março e maio de 2005,
junho de 2007 e setembro de 2008.
Foi possível avaliar as condições de preservação do
local, alvo de visitações irregulares, e também foi possível produzir o
mapeamento topográfico do interior da cavidade, auferir sua posição
exata, produzir estudos sobre a geologia da área, além de lançar as
bases e diretrizes para elaboração de um pretenso plano de
aproveitamento turístico racional da área.
A gruta está localizada na Serra do Cajueiro, no imóvel
Fazenda Cajueiro, propriedade rural às margens da RN-078 distante 5,6 Km
do centro urbano, sendo o proprietário o Sr. Jorge Pereira de Castro,
que é conhecido na região como Jorge Baiano. Durante o chamado período
do ciclo do algodão no Nordeste, mais de 150 famílias chegaram a viver
na propriedade, sendo um importante centro produtor desta malvácea.
Atualmente ainda existem as benfeitorias da época, como a casa sede,
capela, os currais e outras casas diversas.
Já a história do cangaceiro Jesuíno Alves de Melo Calado
(1844-1879), o Jesuíno Brilhante, está associada à Casa de Pedra de
Patu por influências familiares, uma vez que o descobridor da gruta foi
seu tio materno, José Brilhante (1824-1873), igualmente cangaceiro e
conhecido como “Cabê”. A pouca bibliografia existente sobre a vida de
Jesuíno Brilhante conta que o velho cangaceiro José Brilhante, estava
abrindo veredas de fuga em meio a uma grande mata e topou com a entrada
da gruta.
Se a história é verdadeira não sabemos, mas é nítido
como o local é um esconderijo seguro e estratégico. Devido
principalmente à sua altitude, a parte superior da cavidade proporciona
uma bela visão de todo a região, dando condições de visualização contra
seus potenciais perseguidores, numa evidente vantagem tática. Associado a
este fator o local onde se encontra a cavidade é de difícil acesso. O
fato de existir uma saída lateral, o que proporcionaria uma área de
escape do local em caso de emboscada, foi criada pela remoção de blocos
graníticos e é creditada a uma intervenção dos cangaceiros na gruta.
Inúmeras informações foram colhidas através de
entrevistas junto aos moradores da região, onde foi possível conhecer a
associação entre seus antepassados e gruta, além do conhecimento das
práticas comuns daqueles que viviam a vida no cangaço.
Na gruta não estão caracterizados sinais evidentes de
ocupação por indígenas, mas nada impede que eles tenham utilizado a
gruta, vistos os mesmos terem deixados vários registros rupestres nas
redondezas e o fato da cavidade ser um abrigo natural próximo à água.
Os elementos que apontam a entrada de Jesuíno Brilhante
na vida do cangaço são os comuns neste tipo de situação; injustiça
social, perda da posse da terra, afronta aos valores socioculturais
ligados ao meio e consequências ligadas ao fenômeno das secas. Até 1871
Jesuíno trabalhou como lavrador e vaqueiro, era casado e possuía cinco
filhos. Porém seus problemas tiveram início com o roubo de alguns de
seus caprinos, fato atribuído aos seus vizinhos, a família Limão.
Não bastasse o sumiço dos animais, alguns dias após o
acontecido, um irmão de Jesuíno foi agredido por um membro da família
Limão na feira da então Vila de Patu. Movido pela defesa da honra,
Jesuíno matou o agressor de seu irmão e com poucas alternativas à sua
disposição, tornou-se o cangaceiro mais famoso do Rio Grande do Norte.
Perseguido, seu principal refúgio era a gruta,
escondendo-se com o seu bando e sua família, tendo travado combates com
policiais. Nunca foi capturado no local, tendo sido morto na Paraíba em
1879, no sítio Riacho dos Porcos, do município de Brejo do Cruz (PB).
Morreu em combate aos 35 anos de idade.
Conforme comentamos anteriormente, são diversos os escritores e
pesquisadores do fenômeno do cangaço atestam a utilização desta gruta
por este cangaceiro, dentre eles Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) com o
seu livro “A Flor de Romances Trágicos”. O primeiro livro publicado que
faz inúmeras vezes alusão a esta caverna, é a do escritor cearense
Rodolfo Teófilo (1853-1932) com o seu romance, “Os Brilhantes” de 1895.
Depois vieram outros literatos, escritores e pesquisadores como Eloy de
Souza (1873-1959), Gustavo Barroso (1888-1959).
Em 19 de janeiro de 1969, o escritor Raimundo Nonato
(1907-1993) visitou a caverna com a intenção de coletar dados mais
fidedignos para a realização do seu livro “Jesuíno Brilhante – O
Cangaceiro Romântico”.
O escritor Raimundo Nonato relata o quanto foi difícil o
acesso e compreende a razão do cangaceiro haver resistido a várias
incursões de forças do governo, dentre estas uma comandada pelo então
oficial de polícia e futuro senador e ministro Amaro Bezerra Cavalcanti.
Não existem registros fotográficos de Jesuíno Brilhante,
contudo a sua caverna-esconderijo é um dos símbolos mais importante de
suas aventuras e desventuras.
Restou a fama de cangaceiro romântico, que não desonrava
as senhoras, supostamente roubava dos mais ricos e doava aos mais
pobres e protegia os sertanejos dos abusos dos coronéis.
Atualmente, apesar da visitação desordenada, podemos
adiantar que a gruta encontra-se em razoáveis condições de preservação e
com real potencial para a sua utilização dentro do contexto de turismo
ecológico.
Gruta na pauta.
Tok de História .
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