O presidente Jair Bolsonaro disse que o jornalista americano Glenn
Greenwald, um dos fundadores do site The Intercept Brasil, poderia parar
na prisão aqui no Brasil. “Ele não vai embora. O ‘Green’ pode ficar
tranquilo. Talvez pegue uma ‘cana’ aqui no Brasil, não vai pegar lá fora
não”, afirmou.
A declaração foi feita durante evento na Vila Militar, em Deodoro, no
Rio de Janeiro. O presidente comentava uma portaria publicada esta
semana pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que
permite a deportação “sumária” de estrangeiros considerados “perigosos”.
Bolsonaro, porém, negou que a medida tenha ligação com o jornalista
americano, cujo site vem publicando supostos diálogos entre Sergio Moro e
procuradores da Lava Jato em Curitiba, como Deltan Dallagnol.
“Pelo que o Moro falou comigo, ele tem carta branca, né, eu teria
feito um decreto. Tem que botar pra fora mesmo, quem não presta tem
mandar embora. Não tem nada a ver com o caso desse Green-não-sei-o-quê
aí (Glenn Greenwald), nada a ver com o caso dele. Tanto é que não se
encaixa nessa portaria o crime que ele está cometendo. Até porque ele é
casado com outro homem e tem meninos adotados no Brasil. Malandro, pra
evitar um problema desse, né, casa com outro malandro ou não casa, ou
adota criança no Brasil”, comentou Bolsonaro.
No Twitter, Greenwald disse que as declarações do presidente eram
“comentários perturbados”. “Ao contrário dos desejos de Bolsonaro, ele
não é (ainda) um ditador. Ele não tem o poder de ordenar pessoas presas.
Ainda existem tribunais em funcionamento. Para prender alguém, tem que
apresentar provas para um tribunal que eles cometeram um crime. Essa
evidência não existe”, publicou o jornalista.
O americano também criticou a fala de Bolsonaro sobre a adoção de
seus dois filhos. Segundo Greenwald, ele se casou com o deputado federal
David Miranda (PSOL-RJ) há 14 anos. “Sugerir que alguém adotaria — e
cuidaria de — 2 filhos para manipular a lei é nojenta. O Brasil tem
47.000 crianças em abrigos. A adoção é linda e deve ser encorajada, não
zombado”, escreveu o jornalista.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) repudiou
os comentários de Bolsonaro. “Ao ameaçar de prisão um jornalista que
publica informações que o desagradam, o presidente Bolsonaro promove e
instiga graves agressões à liberdade de expressão. Sem jornalismo livre,
as outras liberdades também morrerão. Chega de perseguição”, publicou a
entidade no Twitter.
Guerrinha que não leva o Brasil a lugar nenhum.
Estadão Conteúdo
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