Um dos principais aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), o senador Jaques Wagner (PT-BA) sugeriu nesta quinta-feira (4) que
o empreiteiro Léo Pinheiro sofreu ameaças para escrever carta enviada
com exclusividade à Folha na qual o ex-executivo da OAS reitera
acusações contra o petista.
No texto, Léo Pinheiro rechaça a possibilidade de ter adaptado suas
declarações sobre o apartamento tríplex em Guarujá (SP) para que seu
acordo de delação premiada fosse aceito pela Lava Jato.
Reportagem da Folha produzida a partir de mensagens obtidas pelo site
The Intercept Brasil mostrou que o empreiteiro só passou a ser
considerado merecedor de crédito na Lava Jato após mudar diversas vezes
sua versão sobre o apartamento que a empresa afirmou ter reformado para
Lula. Seu testemunho foi peça chave para a condenação do petista por
corrupção e lavagem de dinheiro.
Nesta quinta, Wagner lamentou ter participado da aprovação da lei que
instituiu a delação premiada, sancionada no governo da ex-presidente
Dilma Rousseff (PT).
“Hoje, sou obrigado a dizer que me arrependo de ter contribuído,
porque nós não fomos, na minha opinião, no detalhe”, afirmou, sem
especificar o que poderia ter sido aprimorado.
Para ele, Pinheiro escreveu o documento sob ameaça. “A carta, para
mim, chega a ser risível. Porque a carta alguém deve ter dito ‘ou você
escreve a carta, ou você não terá o benefício de eventual redução de
pena’.”
“Na verdade, eu não tenho provas, mas imagino…eu conheço o Léo
Pinheiro. O que ele deve ter passado lá dentro. Não sei que tipo de
ameaças que ele recebeu”, continuou o senador e ex-governador da Bahia.
“É impossível você falar de uma contribuição livre e espontânea de
alguém que está preso.”
Outros petistas também apoiaram Lula. O deputado federal Paulo
Teixeira (PT-SP), vice-presidente nacional do partido, chamou a carta de
“recurso desesperado de quem não teve a delação premiada.” A
colaboração do empreiteiro ainda aguarda homologação pela
Procuradoria-Geral da República.
Colegas de Wagner no Senado, no entanto, saíram em defesa do instituto da delação.
“Não podemos, a despeito de excessos que tenham havido, criminalizar o
que a Lava Jato avançou no Brasil”, disse o líder da minoria na Casa,
Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
“O grande erro da Lava Jato foi o juiz da operação servir a um
governo que tem caso de corrupção. A delação premiada é um instituto que
melhorou o sistema penal brasileiro e deve, sendo utilizado como vem
sendo pelo Ministério Público, aprimorar os mecanismos anticorrupção”,
afirmou Randolfe.
O líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), disse que a carta de
Léo Pinheiro demonstra a intenção de dizer a verdade depois que “a casa
caiu”.
“Acho que ele não foi coagido a mandar uma carta dizendo que não foi coagido”, afirmou Olímpio.
Recado dado.
Folhapress
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