O bloqueio orçamentário do governo Jair Bolsonaro (PSL) no Ministério
da Educação atinge recursos que vão da educação infantil à
pós-graduação. O congelamento inclui verbas para construção de escolas,
ensino técnico, bolsas de pesquisa, transporte escolar, além de custeio
das universidades federais.
O MEC provisionou R$ 5,7 bilhões em cortes, segundo dados obtidos no
Siop (Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento do Governo). A
iniciativa atende a um decreto de contingenciamento definido pela área
econômica do governo da ordem de R$ 30 bilhões. No MEC, ele envolve, no
total, 23% dos valores discricionários (que excluem despesas
obrigatórias, como salários).
Na semana passada, o governo definiu um novo bloqueio, de R$ 1,6
bilhão —o que resultará em um corte total de R$ 7,3 bilhões. A divisão
desse novo congelamento por área ou órgão ainda passa por análises
dentro do MEC.
Após a polêmica sobre embargo de recursos por motivação ideológica em
universidades federais, o ministro da Educação, Abraham Weintraub,
defendeu que priorizaria creches. O discurso do governo tem sido o de
privilegiar a educação básica, especialmente a educação infantil,
alfabetização e ensino profissional, mas essas áreas foram atingidas.
Considerando as rubricas relacionadas à educação básica, etapa que
vai da educação infantil ao ensino médio, foram congelados até agora R$
680 milhões. Com relação à construção e manutenção de creches e
pré-escolas, a pasta contingenciou 17% dos R$ 125 milhões do orçamento
autorizado.
Esses recursos estão no âmbito do FNDE (Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação), autarquia ligada ao MEC. O congelamento
total do FNDE é de R$ 1,02 bilhão, equivalente a 21% do discricionário.
Além dos cortes em obras e manutenção do ensino, ações ligadas a
livros didáticos e transporte escolar também sofreram impacto. Estão
congelados R$ 144 milhões dos recursos para compra de livros, que
representa 8% do autorizado. Já o programa de aquisição de veículos
escolares perdeu R$ 23 milhões, equivalente a 7% do previsto.
Foram suspensos 40% dos valores separados para o ensino técnico e
profissional. Dos R$ 250 milhões autorizados, R$ 99,9 milhões foram
bloqueados.
O corte para ações de alfabetização e Educação de Jovens e Adultos
atingiu 41% do previsto. São R$ 14 milhões congelados ante de R$ 34
milhões autorizados.
De acordo com Cesar Callegari, ex-secretário de Educação Básica do
MEC, os cortes indicam a postura do governo com relação à educação. “É
coerente com a falta de qualquer projeto na área educacional. O governo
dá indicações de que, para ele, basta um ministro da Educação que seja
vetor da guerra ideológica”, diz.
“Com uma estrada e uma ponte, você interrompe a obra e depois
continua. Mas a descontinuidade de programas de educação representa sua
destruição”.
Somadas todas as universidades federais, o contingenciamento é de 30%
sobre os recursos discricionários. No total, essas instituições
sofreram bloqueio de R$ 2 bilhões.
As instituições temem não conseguirem manter o funcionamento mínimo,
como pagamento de energia e água, caso os cortes não sejam revertidos. O
percentual bloqueado varia em cada instituição.
A área de pesquisa também foi atingida. A Capes (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), ligada ao MEC, sofreu
corte de R$ 819 milhões, 19% do autorizado.
Mas na rubrica de bolsas, tanto para o ensino superior quanto
relacionada à educação básica, o corte é um pouco maior: 23% dos R$ 3,4
bilhões reservados para essa finalidade foram congelados.
Questionado sobre os critérios para o contingenciamento, o MEC
afirmou, em nota, que o bloqueio foi operacional e técnico, sem detalhar
qual foi a prioridade. Sobre a determinação de novo corte, de R$ 1,6
bilhão, diz analisar a melhor forma “de cumprir a determinação do
governo”.
Os bloqueios de orçamento podem ser revertidos pelo governo ao longo
do ano. A gestão Bolsonaro defende que com a aprovação da reforma da
Previdência a economia pode melhorar, e o aumento de arrecadação
permitiria retomar o previsto no orçamento.
A Capes informou que, para atender o bloqueio, fará redução gradativa
de novas bolsas em cursos de pós-graduação que têm registrado nota 3
(conceito mínimo de permanência no sistema avaliativa do órgão) no
período de dez anos. Atualmente, 211 programas têm essa pontuação.
Também serão suspensas bolsas do programa Idiomas sem Fronteiras e o
congelamento de bolsas ociosas. Haverá a retomada, segundo a Capes, de
chamadas públicas para que empresas possam investir em pesquisa.
Educação a inimiga de Bolsonaro.
Folhapress
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