O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou neste domingo (07) que, se
estivesse no lugar de Jair Bolsonaro, teria escolhido outras pessoas
para trabalhar com ele no comando do governo.
Durante encerramento da Brazil Conference, nos EUA, o vice fez um
balanço dos cem primeiros dias do governo Bolsonaro —completos na
quarta-feira (10)— e foi questionado sobre o que faria diferente caso
fosse o presidente.
Em um primeiro momento, Mourão disse que agradecia a pergunta, mas
que sua parceria com Bolsonaro era total. “Quando ele toma uma decisão,
eu acato.”
Questionado mais uma vez sobre possíveis mudanças na condução do país
até aqui, o vice então respondeu: “Talvez pela minha personalidade, eu
escolhesse outras pessoas para trabalhar comigo”.
Para Mourão, a grande participação de militares no governo Bolsonaro cria um risco de associação caso o governo falhe.
“Se nosso governo falhar, errar demais, não entregar o que está
prometendo, essa conta irá para as Forças Armadas, daí a nossa extrema
preocupação”.
O vice respondia à pergunta da plateia —formada por estudantes,
professores e pesquisadores— sobre o papel dos militares no Planalto e a
percepção do presidente Ernesto Geisel (1974-1979) de que governar não
era tarefa das Forças —Geisel iniciou a transição do regime militar para
o civil.
Sobre a comparação, Mourão declarou: “O general Geisel não foi eleito, eu fui”.
Nesse momento, o vice-presidente foi ovacionado pelo público. Uma
pessoa, porém, gritou “ditadura nunca mais” e foi rapidamente retirada
do auditório por seguranças.
Apesar de afirmar que a conta de um eventual fracasso do governo vai
para o colo dos militares, Mourão tentou minimizar o peso da farda na
gestão de Bolsonaro.
Ele disse que o presidente é “mais político do que militar”, pois
está no Congresso há quase 30 anos e que os auxiliares no comando de
pastas importantes, como o GSI (Gabinete de Segurança Institucional),
com o general Augusto Heleno, e a Secretaria de Governo, com o general
Santos Cruz, já estavam na reserva.
Sob críticas de aliados de Bolsonaro por sua postura muitas vezes
antagônica à do governo, Mourão fez questão de dizer que sua parceria
com o presidente é total e que, quando o chefe do Planalto toma uma
decisão, ele a acata.
Nas últimas semanas, Mourão tem se colocado do outro lado do tabuleiro nas principais polêmicas do governo.
Na mais recente, enquanto Bolsonaro e seu ministro das Relações
Exteriores, Ernesto Araújo, insistiam na ideia de que o nazismo foi um
movimento de esquerda, Mourão disparou: “De esquerda é o comunismo, não
resta nenhuma dúvida”.
Como mostrou a Folha, o roteiro incomodou aliados de Bolsonaro, que
avaliam os compromissos como reforço da tese de que o vice está tentando
se firmar como figura plural e dissonante de Bolsonaro.
“Bolsonaro é tão criticado e, muitas vezes, tão pouco compreendido: a
visão do presidente é muito clara, ele está trabalhando para as
próximas gerações e não para as próximas eleições, ele tem firme em sua
mente que, em 1º de janeiro de 2023, quando entregarmos o bastão para
quem nos suceder, o país estará com as reformas prontas”, disse Mourão,
diante de um auditório lotado composto por estudantes de Harvard,
empresários e autoridades como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
e o governador do Rio, Wilson Witzel, chamado de “dileto amigo”.
Mourão advertiu para o uso das redes sociais para disseminar o ódio. O
vice-presidente tem sido alvo de diversos ataques do guru do
bolsonarismo, Olavo de Carvalho, e os filhos do presidente
frequentemente usam as mídias sociais para atacar opositores.
“A revolução tecnológica dos últimos anos não trouxe exclusivamente
benefícios, a velocidade da disseminação das informações favorece o
conhecimento, mas também permite que operadores fora do sistema se
aproveitem dessas plataformas para fins destrutivos, muitas vezes
violentos e para semear o ódio”, afirmou.
“O Brasil e a Nova Zelândia foram palco recente dessa violência
planejada e organizada nas mesmas redes sociais onde pessoas de bem
trocam informações, compartilham experiências e imagens e cultivam
relações de qualidade. Este é o nosso primeiro recado : não ao ódio.”
E o general apontou a crise ambiental e o protecionismo comercial
como alguns dos principais desafios enfrentados pelo mundo hoje.
Indagado, Mourão disse textualmente que o Brasil não irá abandonar o
Acordo de Paris sobre o clima. “O Brasil tem uma responsabilidade
enorme, não vamos sair do Acordo de Paris e vamos nos sujeitar ao que
ali está colocado.”
Durante a campanha, Bolsonaro chegou a dizer que faria como o
americano Donald Trump e abandonaria o acordo do clima, mas, depois,
voltou atrás.
Educação
O vice de Bolsonaro foi categórico ao dizer que há um problema no
Ministério da Educação e que o presidente vai decidir nesta
segunda-feira (8) o destino do ministro Ricardo Vélez Rodríguez, que
protagonizou várias polêmicas na área nas últimas semanas e deve deixar o
cargo.
“Estamos com um problema no Ministério da Educação. O presidente vai
tomar uma decisão a esse respeito amanhã, de acordo com o que ele já
definiu. Não sei se Vélez vai ser mantido, se o presidente vai mantê-lo
ou colocar outra pessoa, mas temos que resolver esse problema de
imediato”, declarou o vice-presidente.
Mourão comentou ainda a queda de popularidade do governo nos três
primeiros meses e disse que vê os números “com naturalidade” pois há uma
“ansiedade muito grande” nas pessoas, que querem mudança rápida.
“Existe uma ansiedade muito grande por parte da sociedade, as pessoas
clamam por mudança, a taxa de desemprego está alta. Vejo com
naturalidade essa queda inicial de popularidade. Tem gente que quer que a
gente acelere as coisas, mas o Executivo não tem varinha de condão”.
Neste domingo, pesquisa do Datafolha registrou a pior avaliação após
três meses de governo entre os presidentes eleitos para um primeiro
mandato desde a redemocratização de 1985.
Mourão tem sido alvo de críticas de aliados de Bolsonaro, que afirmam
que o vice adota uma postura antagônica à do governo, reforçando a tese
de que quer ser uma figura mais plural e dissonante do presidente.
O vice, por sua vez, tem dito que sua posição é complementar à de
Bolsonaro, mas não deixou neste domingo de fazer um discurso que
habitualmente não seria ecoado pelo chefe do Planalto.
Mourão falou, por exemplo, em cuidados sociais para resolver o
problema da segurança pública no país. Ele disse que não adianta o
Brasil ter uma polícia efetiva e um sistema carcerário reformado se as
pessoas continuarem vivendo em condições degradantes nas favelas, por
exemplo.
Segundo ele, sem água, luz ou outros serviços, as pessoas são cooptadas pelo tráfico.
O general citou o encontro que teve neste sábado (6) com o professor
Mangabeira Unger, conselheiro do ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT),
grande crítico do governo Bolsonaro.
Mas Mourão fez uma vigorosa defesa do livre mercado e redução do
tamanho do Estado. “Durante vários anos, os brasileiros tentaram usar a
máquina do Estado para resolver problemas e essa sistemática perversa
afundou o país em uma das mais graves crises. O Estado se tornou ainda
mais ineficiente e a corrupção atingiu níveis inimagináveis.”
Ele listou conquistas do governo Bolsonaro nos primeiros cem dias:
redução do número de ministérios, formação de ministérios e gabinetes
descartando distribuição de cargos em troca de apoio político, e o
encaminhamento da reforma da Previdência e do pacote anticrime para
apreciação do Congresso.
Mourão reiterou que a aprovação da reforma da Previdência é a
prioridade número 1 do governo, seguida de reforma tributária,
desburocratização, redução de regulamentações e ajuste fiscal.
E o vice-presidente voltou a criticar o chavismo na Venezuela. “Lá,
houve a apropriação sistemática dos meios de produção por parte de um
grupo corrupto, liderado pelo então presidente Hugo Chávez, e o país foi
sucateado em beneficio dos integrantes do regime. A chegada de
[Nicolás] Maduro ao poder, um líder fraco, sem o carisma do antecessor,
somente acelerou o processo de deterioração que sofre aquele país.”
nOSSA.
Folhapress
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